terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Natividade, por uma visão integradora


"A virgem ficará grávida e dará à luz um filho, e lhe chamarão Emanuel que significa ‘Deus conosco’ (...) e ela deu à luz o seu primogênito. Envolveu-o em panos e o colocou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria”.
Mateus 1:23 (NVI), Lucas 2:7 (NVI)

O nascimento de Jesus é celebrado pela sua importância soteriológica (i.e. salvífica). Naquele dia a humanidade descobriu o que significa “Deus amou o mundo de tal maneira” (cf. Jo. 3:16). De agora em diante teríamos um lugar para atracar nossas vidas. Este que nasceu levará sobre si mesmo nossas mais horrendas transgressões, Ele será “moído por causa das nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados” (cf. Is. 53:5). De agora em diante nossas almas poderiam descansar sob a justiça de Deus. A natividade trouxe mais que uma promessa futura de vida eterna, veio junto da sentença “não temas” (cf. Mt. 1:20). De agora em diante teríamos fé em dias de incertezas. O nascimento de Jesus trouxe Deus para perto de nós, não que Ele outrora estive inacessível, mas agora temos o Emanuel “Deus Conosco” (cf. Mt. 1:23). De agora em diante nunca mais estaríamos sozinhos. A natividade traz consigo todas estas dádivas, é Graça para gente sem graça.

O nascimento de Jesus também descortina outras visões redentoras, como por exemplo, a proposta de nascer numa manjedoura. Ao contrário do que encenamos como algo ruim e depreciativo, o fato de Cristo ter nascido entre os animais foi majestoso. O Deus encarnado escolheu vir ao mundo junto da criação, não apenas dos homens. Ele escolheu nascer num lugar democrático, onde animais e homens celebrassem o Redentor, pois “toda a criação geme” (cf. Rm. 8:22), então, “Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo” (cf. II Co. 5:19). O fato de não haver lugar na hospedaria não fora um golpe do destino nos planos de Deus, muito pelo contrário, era a intenção de Deus, demostrando que a criação precisa reconectar-se. Ali, animais e homens entenderiam que “tudo quanto tem fôlego louve ao Senhor” (cf. Sl. 150:6). Não tinha lugar mais adequado para Ele nascer, a estrebaria seria o símbolo da nossa missão integral.

O nascimento de Jesus continua a fornece uma nova cosmovisão acerca do caráter de Deus e sua relevância integradora para nossas jornadas cristãs. Sendo assim, o Rei escolheu nascer junto à plebe revelando que a grandiosidade do Reino nada tem haver com privilégios exclusivistas exibicionistas. O Grande Eu Sou escolheu vir junto dos camponeses para que entendêssemos que “quem quiser tornar-se importante deverá ser servo” (cf. Mc. 10:43). Neste Reino do Emanuel não haverá lugar para diferenciação de classes sociais, somos uma irmandade. Não pode haver maiores. Não pode haver títulos. Não pode haver privilegiados. Não pode haver acumulo de riqueza. Não pode haver necessitados. Não pode haver desigualdade. O Rei deu-nos o exemplo a ser seguido e assim “olhando para Jesus, autor e consumador da fé” (cf. Hb. 12:2) podemos redescobrir nossa missão junto aos desafortunados, demonstrando que a Graça não é apenas um discurso natalino, mas é o marco regulador da nossa fé.

Fortalecido pela cruz de Cristo,
Vinicius Seabra | vs.seabra@gmail.com
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Artigo escrito em: 24 de Dezembro de 2013

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

A relevância de nossos cultos irrelevantes


“Portanto, irmãos, rogo-lhes pelas misericórdias de Deus que se ofereçam em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus; este é o culto racional de vocês”.
Romanos 12:1 (NVI)

O culto dominical em solos tupiniquins a muito já deixou de ter sua “relevância”. O que se percebe é um grande espetáculo de desorientação doutrinária, litúrgica e teológica. As músicas não agregam valores cristãos, mas sim uma luta individualista por vitória. Os momentos dos avisos não mais informam sobre as programações eclesiásticas, apenas exibem pessoas recheadas de improvisos. O sagrado momento das ofertas/dízimos não mais se dá a partir da gratidão, mas desnuda nossa mais vil forma de manipulação. As pregações que outrora chamávamos de sermões pelo seu valor doutrinário, agora se rebaixam ao nível vexatório de algo próximo a auto-ajuda. A leitura bíblica que abalizava nossa fé, hoje serve apenas como textos aleatórios para abrir e encerrar cultos. O prelúdio e poslúdio que eram momentos de profunda reflexão pessoal sobre a vida cristã perderam espaço para o lúdico, afinal, culto não mais é um lugar de reflexão, mas agora é apenas de celebração.

O cenário caótico de nossos cultos dominicais brasileiros nos faz questionar a real relevância de nossos aglomerados semanais. Até mesmo no mais zeloso dos ambientes protestantes percebe-se uma gradativa mutação entre o que é certo pelo o que se está dando certo. Até mesmo os mais coerentes pregadores percebem uma crise didática entre o que se ensina e a capacidade de absorção/aplicação aos ouvintes. Até mesmo nas ditas igrejas históricas que tinham como identidade litúrgica uma organização exemplar, que apresentavam lógica cerimonial, tem que admitir que nos tornamos algo tipo Jornal Nacional, ou seja, um monte de notícias que não tem nenhum nexo entre si – informando de tudo, mas não esclarecendo nada. Por isto, não seria exagero afirmar que o caos não está apenas nas igrejas neopentecostais, o vírus contaminou toda a irmandade evangelical tupiniquim, obviamente que alguns apresentam os sintomas de forma mais aguda, outros conseguem camuflar e, talvez, até minimizar o impacto viral na congregação.

Daqui, em meio ao lamaçal gospel, nós poderíamos chegar a triste conclusão de que o culto não mais ensina, não tem sentido, é uma perda de tempo. Talvez! Contudo, proponho nas linhas que se seguirão uma nova percepção sobre o nossos cultos irrelevantes. Para tanto, proponho que voltemos nossos olhares para fora da igreja e pensemos por um tempo sobre a relevância do ensino secular na nossa formação. Tente lembrar-se de conceitos do ensino fundamental e do ensino médio – não me refiro a momentos ou integrações sociais. Tente lembrar-se dos ensinos da gramática que a professora de português tanto se esforçou para ensinar. Tente lembrar-se do cálculo da tal tartaruga que sempre aparecia nas provas de física para se calcular a velocidade. Tente lembrar-se da tabela periódica da química. Tente lembrar as fórmulas enigmáticas da matemática. Tente lembrar-se dos conceitos empenhados para a alfabetização. Enfim, tente lembrar-se, conceitualmente, do que você aprendeu nos seus primeiros dez anos de vida escolar. Arrisco dizer que pouco ou nada nos vem à mente em termos conceituais. Por esta razão, muitos julgam a escolarização uma perda de tempo com pouca relevância para a vida adulta.

O fato de não nos lembrarmos dos conceitos do ensino médio não os tornam irrelevantes, pois por mais que não nos lembremos de quase nada daquela época estes foram anos importantíssimos para a formação intelectual que viria posteriormente. As bases do pensamento se sedimentaram a partir daqueles ensinos que hoje nem lembramos. A capacidade de raciocínio se deu a partir daquelas reflexões que hoje nem sabemos quais eram. A lógica interpretativa se impulsionou com aqueles textos aparentemente infantis que hoje desprezamos. As fórmulas e teorias que hoje questionamos sua funcionalidade formaram nossa visão holística/interdisciplinar sobre o mundo. Enfim, não podemos avaliar nossa jornada acadêmica pelo hoje sem reverenciarmos o passado irrelevante que tivemos. O caos de se estudar várias disciplinas desconectadas entre si não foi desorientação acadêmica, foram relances que fomentaram uma cosmovisão multidisciplinar. Não lembrar-se de algum conceito não quer dizer que não aprendemos sobre, pois este permanece em nosso subconsciente e de lá vai dando relevância para nossos conceitos contemporâneos.

A igreja e a escola se parecem muito. Ambas vivem recebendo críticas sobre sua relevância. E, como fora exposto, há muita irrelevância na historicidade de cada uma. Contudo, estas irrelevâncias não as tornam desnecessárias. Não podemos cometer o celebre erro de julgar ações coletivas a partir de critérios individuais. O que é desprezível para um, pode ser essencial para outro; o que se apresenta como um imenso erro na visão de um, pode ser o lampejo de maturidade para outro; o que se caracteriza como uma grande perda de tempo para um, pode ser o mastro de esperança para outro; o que alguém poderia julgar como uma atitude infantil, pode ser o elo integrador para outro; o que alguém poderia avaliar como irrelevante, pode ser a única coisa relevante para o outro. Por fim, temos que admitir nossa incoerência histórica que descortina nossa incapacidade avaliativa dos fatos e tempos. Há muita irrelevância em nossos cultos, mas fico a pensar, se fizéssemos uma mutilação e cortássemos os tais “tumores”, o que nos restaria? Não podemos esquecer que a obra de Deus não é feita por causa da nossa altiva relevância. Que possamos redescobrir a relevância de nossos cultos irrelevantes, pois como afirmava Clarice Lispector: “até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro”.

Fortalecido pela cruz de Cristo,
Vinicius Seabra | vs.seabra@gmail.com
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Artigo escrito em: 18 de Dezembro de 2013

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Jesus, o salvador de pecadores


“Ao ver as multidões, teve compaixão delas, porque estavam aflitas e desamparadas, como ovelhas sem pastor”.
Mateus 9:36 (NVI)

Jesus se fez homem, assumindo a humilhação da forma humana, desnudando-se da majestade, a fim de tornar-se o sacrífico único, perfeito e suficiente. Ele personificou o amor entregando-se voluntariamente aos seus algozes sabendo que a cruz não era o fim, mas apenas o grande palco do maior espetáculo que a humanidade já conheceu – o espetáculo da Graça. Ele se entregou assumindo a misericórdia como essência do Seu próprio caráter, sabendo desde a eternidade que os pecadores precisam encontrar o caminho do perdão – o caminho do recomeço. Ele popularizou a compaixão pelos excluídos sabendo que o céu não é o prêmio dos perfeitos, mas sim o lugar daqueles que reconhecem a pecaminosidade durante a existência – reconhecem o arrependimento. O grande Rei, que se tornou plebeu e deu-se a conhecer para os mais vis do Reino, os homens, com o propósito de resgatar o que havia se perdido.

Ao andar com pecadores o Carpinteiro desnudou a fragilidade da existência humana. Descortinou quem somos. Tornou visível o quanto tememos a ausência de fé, mesmo caminhando com Ele; O quanto nos assombra as incertezas sobre o futuro, mesmo assumindo ser discípulo do Mestre; O quanto a dor da exclusão é intensa, mesmo após o convite para descansar sob o pastoreio dEle. Por isto, mostrou que para os “pedros” sempre haverá uma segunda chance, mesmo que O tenha negado. Expos que para os “judas” sempre haverá um lugar entre os discípulos, mesmo que no fim O traia. Tornou público que para os “tomés” sempre haverá um tempo para descobrir o impossível, mesmo que precise toca-lO. O Deus sem pecado se fez pecado por nós, apontando o caminho sobre modo excelente, e então, vislumbramos a Graça que inunda nossas fraquezas.

O Reino está inaugurado. Os céus estão abertos para celebrar o ingresso daqueles que outrora marchavam para o inferno. A cruz se tornou uma luz que resplandece sobre as trevas. A crucificação selou para eternidade a vitória do amor em justiça. O Gólgota presenciou a superioridade da misericórdia. No madeiro ficou cravado o escrito de dívida da humanidade. Do monte da caveira jorrou a vida eterna. No Calvário foi pavimentado o caminho para a eternidade junto ao Pai. Enfim, está consumado. O caminho, a verdade e a vida estão acessíveis. A dor agora é momentânea, o sofrimento um breve instante, as tristezas pequenas têmporas e o choro apenas uma noite. De contra partida, a alegria é eterna, a paz sobrepassa o entendido, a gratidão é impagável e o amor interminável. O Reino é chegado e o Seu reinado nunca terá fim.

A contemplação do Crucificado é o ponto de partida da imitação de Jesus. É a elevação da experiência do sofrimento a valor de obediência à vontade do Pai. A imitação não é apenas da luta histórica de Jesus, mas e a celebração da presença de Deus. A imitação não é apenas a confissão da encarnação histórica e da morte pascal de Jesus. Esta confissão torna-se modelo e padrão a ser imitado. A forma como Jesus viveu a paixão da morte é transformada da esfera do anuncio para tornar-se um exemplo apropriado de vida. A motivação e a atitude que cercaram a vida e a paixão devem fazer-se presentes, igualmente, em nossa imitação dEle. O Autor da Vida nos instrui a buscar nossa motivação na Via Dolorosa. O modelo do Carpinteiro baseia-se na obediência e a perseverança.

Aos céticos, que por não terem vivido junto ao Cordeiro, desacreditam, escolhendo limitar suas existências as migalhas de histórias de sucesso terreno. A estes, o Carpinteiro lampeja esperança ao afirmar que Ele voltará. Não tardará, quando tudo estiver pronto, no tempo oportuno, Ele regressará. Conduzirá os Seus para a eternidade, onde não haverá mais desesperança; onde as dúvidas existenciais serão suprimidas pelo grande Eu Sou; onde a maldade não germinará; e, onde descansaremos nossas almas peregrinas. O retorno do Rei está próximo, isto não é medido pela vão ilusão de tempo gregoriano a que estamos submersos, o retorno triunfante é certo pelo fato de Ele ter prometido. E um de Seus atributos é ser fiel no que prometeu. Cada dia que passa não fragiliza esta promessa, pelo contrario, é Ele nos concedendo mais um dia de oportunidades para entalharmos a Graça nos corações de pecadores.

Fortalecido pela cruz de Cristo,
Vinicius Seabra | vs.seabra@gmail.com
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Artigo escrito em: 08 de Dezembro de 2013

sábado, 7 de dezembro de 2013

Carta escrita nos corações


“Vocês mesmos são a nossa carta, escrita em nosso coração, conhecida e lida por todos”.
2 Coríntios 3:2 (NVI)

O apóstolo Paulo ao escrever sua segunda carta a igreja de Corinto nos traz a memória os desafios do cristianismo contemporâneo. No qual a cada passo tem sido corrompido em um cartel eclesiástico.

No primeiro versículo do capítulo três de II Coríntios, Paulo diz: “começamos, porventura, outra vez a recomendar-nos a nós mesmos? Ou temos necessidade, como alguns, de cartas de recomendação para vós outros ou de vós?”. Os estudiosos dizem que Paulo disse isto, pois havia alguns mestres visitando Corinto, levando tais cartas, talvez escritas pelos presbíteros de Jerusalém.

Paulo argumenta que o fato dos mestres terem tais documentos (cartas) não garantia a verdade do ensino. Sugerem então que o melhor meio de se avaliar um mestre e/ou ministério é analisando os frutos produzidos pelo mesmo.

Nos versículos dois e três revela a verdadeira carta que todos deveriam ter estampada: “vós sois a nossa carta, escrita em nosso coração, conhecida e lida por todos os homens, estando já manifestos como carta de Cristo, produzida pelo nosso ministério, escrita não com tinta, mas pelo Espírito do Deus vivente, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne, isto é, nos corações”.

Cada cristão é uma carta ambulante. O que se lê é o reflexo do ensino que se prega. Contra este documento não a borracha que possa apagar. O que fazemos transmite com exatidão o que somos.

Ao ler estes primeiros versículos do capítulo três de II Coríntios pode até parecer, para alguns desapercebidos, que Paulo estava com orgulho. Todavia, prevenindo-se ele diz nos versículos quatro e cinco: “E é por intermédio de Cristo que temos tal confiança em Deus; não que, por nós mesmos, sejamos capazes de pensar alguma coisa, como se partisse de nós; pelo contrário, a nossa suficiência vem de Deus”.

Quando entendemos que a carta que foi escrita em nossos corações é obra das mãos do Criador podemos descansar, pois Ele é o Poeta maior. As melhores estrofes e rimas são frutos de Seu amor eterno para com a humanidade.

A carta que é escrita em papel comum com o tempo se desfalece, pode ser adulterada e pode conter inverdades. Entretanto, a carta que é escrita nos corações revela o chamado para o qual nascemos.

Cada carta escrita nos corações revela o que realmente se é.

E isto, todos lêem...

Fortalecido pela cruz de Cristo,
Vinicius Seabra | vs.seabra@gmail.com
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Artigo escrito em: 15 de Agosto de 2004

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Deus tem sido bom


"Falarei da bondade do Senhor, dos seus gloriosos feitos, por tudo o que o Senhor fez por nós (...) conforme a sua compaixão e a grandeza da sua bondade".
Isaías 63:7 (NVI)

A vida cotidiana do cristianismo em tempos pós-modernos tem conduzido a espiritualidade para o âmbito da banalização, indiferença e mediocridade. A religiosidade cristã tem sido relegada ao mero ritualismo litúrgico. Estes são tempos de esfriamento espiritual, de ausência de reverência e de secularização do sagrado. Tempos de silêncio em meio aos louvores, pois os cânticos não mais exaltam o Criador, simplesmente reduzem a existência de Deus para fins de suprir os desejos humanos. Tempos onde a pregação bíblica tem sido suprimida pela animação de palco e por técnicas emotivas de oratória. Contudo, Deus ainda tem sido bom para com seu povo.

Deus tem sido bom! Isto não é mérito de ações humanas ou por merecimento do triunfalismo eclesiástico, Deus tem sido bom não por causa da igreja, mas sim apesar da igreja. A bem da verdade é que Deus tem sido bom por que a bondade faz parte de Seu caráter, Ele tem sido bom por causa do Seu amor incondicional, Ele tem sido bom em razão da Sua graça imensurável, Deus tem sido bom, pois a Sua misericórdia é eterna. O que Deus é não depende do que os homens são. Entretanto, a pessoa que conhece a Deus é impulsionada a viver de forma semelhante ao Carpinteiro, Jesus, pois em Cristo encontra-se a maior evidência de que Deus tem sido bom para com a humanidade, e em resposta a está bondade é que se deve gastar a vida cristã.

Deus tem sido bom! O sacrifício de Jesus na cruz do Calvário é a prova de que Deus tem sido bom, pois o Criador entregou Seu único filho para que por meio dEle muitos se tornassem filhos de Deus. Na cruz de Cristo se expressa a bondade de Deus, pois “...foi da vontade do Senhor esmagá-lo, fazendo-o enfermar; quando ele se puser como oferta pelo pecado...” – Is. 53:10. No Gólgota Deus demonstrou Sua bondade para com a humanidade, pois “...tendo despojado os principados e potestades, os exibiu publicamente e deles triunfou na mesma cruz” – Cl. 2:15. A cruz é um símbolo em tributo a bondade de Deus.

Deus tem sido bom! Há vida na Terra só existe por causa da bondade de Deus. Se mais uma vez o sol abrilhantou as manhãs é por que Deus tem sido bom, por isto todo ser vivente deve a cada dia se render aos pés do Senhor e reconhecer que: “Tu, só tu, és Senhor; tu fizeste o céu e o céu dos céus, juntamente com todo o seu exército, a terra e tudo quanto nela existe, os mares e tudo quanto neles há, e tu os conservas a todos, e o exército do céu te adora” – Ne. 9:6. Se você está lendo este artigo agora é mais uma prova de que Deus tem sido bom, pois é somente pela misericórdia dEle que você ainda está vivo. Isto só é possível, pois: “a benignidade do Senhor jamais acaba, as suas misericórdias não têm fim; renovam-se cada manhã...” – Lm. 3:22-23. A vida de cada pessoa leva consigo a marca da bondade de Deus.

Fortalecido pela cruz de Cristo,
Vinicius Seabra | vs.seabra@gmail.com
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Artigo escrito em: 16 de Agosto de 2007

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Uma carta de amor


“nem altura nem profundidade, nem qualquer outra coisa na criação será capaz de nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor”.
Romanos 8:39 (NVI)

Permita-me escrever esta simples carta para expressar o quanto Te amo, Rei Jesus. Para tanto, concordo que as palavras são meros detalhes, pois Tu consegues ler o meu coração. Contudo, se eu apenas puder mergulhar no rio que brota da Tua essência minha alma se saciaria por completo.

O Teu amor por mim é tudo que eu sempre quis. Todavia, como falar de amor para Tu que és a própria expressão do amor? Como expressar minha paixão por Ti que me amou em primeiro lugar? O que poderia escrever para tocar o coração dAquele que tem tudo?

O Teu amor é maior que a razão. Extrapola muito além dos meus sonhos. O momento mais triste de minha vida é quando às vezes me sinto distante do Teu cuidado, pois um segundo sequer fora da Tua vontade mais se assemelha a uma eternidade sem cores. Viver só tem sentido se for para satisfazer o anelo do Teu coração.

O alvo maior da minha vida é Te servir enquanto houver fôlego em minhas narinas. A Tua graça me constrange. O Teu perdão me leva além. O Teu amor me faz sonhar os Teus sonhos. A Tua paciência me ensina. A Tua amizade me quebranta. O Teu sacrifício na cruz me libertou da corrente do ódio.

Uma vida inteira rendida aos Teus pés é pouco para agradecer pelo Teu amor por mim. Uma oração não consegue exprimir minha imensa gratidão. Uma música jamais atingirá com exatidão o som que ecoam do meu coração. A eternidade é pouco tempo para esgotar minha saudade de Ti.

Uma simples carta como esta é apenas um pingo de adoração em gratidão perto do oceano que emana de Ti. Ao chegar no fim da minha existência apenas quero haver ter conquistado Teu coração, pois antes mesmo de nascer Tu já havias me conquistado com Teu amor.

Fortalecido pela cruz de Cristo,
Vinicius Seabra | vs.seabra@gmail.com
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Artigo escrito em: 19 de Março de 2004

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Esperança, vida e cruz


“Ponha o seu rosto no pó; talvez ainda haja esperança (...) Embora ele traga tristeza, mostrará compaixão, tão grande é o seu amor infalível”.
Lamentações 3:29, 32 (NVI)

De todas as palavras que a humanidade já codificou o termo esperança é sem dúvida o mais impetuoso. Das razões para se incitar uma revolução a esperança novamente se destaca. A força impulsionadora para continuar a caminhada rumo aos sonhos mais distantes se reabastece na simples capacidade de ter esperança.

Os dias escuros são iluminados pela insistente chama da esperança. As dificuldades mais agressivas são acalmadas na ternura da destemida esperança. As incertezas do porvir são dinamitadas através da firmeza intrínseca a esperança. De todas os sentimentos humanos o único que insiste em não desistir é a esperança.

A fonte de toda esperança habita no Senhor. Cristo morreu na cruz do Calvário, pois Ele não perdeu a esperança na raça humana. Jesus decidiu se humilhar, pois a esperança que habita nEle não pode ser apagada pelas asneiras do homem. O Mestre venceu o mal não pela força, mas sim pelo amor que emana da esperança.

A indagação que saltou do coração do salmista ecoa pelas veredas da existência: “agora, pois, Senhor, que espero eu? A minha esperança está em Ti” - Salmos 39:7. Ainda que a natureza humana insista em depositar a confiança existencial dentro de si mesmo o grito sufocante da esperança continuará a inquietar a fé dos seguidores de Jesus.

A ausência de esperança culmina na carência biográfica. O salmista demonstra a ardente expectativa de encontrar nas palavras de Deus a força para não desistir da esperança quando declarou: “antecipo-me à alva da manhã e clamo; aguardo com esperança as Tuas palavras” – Salmos 119:147. Mesmo não ouvido a voz dEle ainda sim está lá. Ainda que não percebendo o Seu agir Ele continua a nos transformar. Esta esperança insiste em não morrer.

Fortalecido pela cruz de Cristo,
Vinicius Seabra | vs.seabra@gmail.com
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Artigo escrito em: 09 de Março de 2007

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Um menino chamado Edir Macedo


“E também houve entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá também falsos doutores, que introduzirão encobertamente heresias de perdição...”
2 Pedro 2:1 (NVI)

Nos últimos tempos poucas pessoas têm conseguido ocupar tanto espaço na mídia como o excêntrico “Bispo” Edir Macedo, principalmente no que concerne ao lado empresarial encabeçado pela Rede Record que constantemente se encontra numa concorrência com a principal rival, Rede Globo. Nesta luta para saber quem mandará no Brasil nas próximas décadas vale tudo, inclusive manipular as massas evangélicas para apoiar manifestos tendenciosos e meramente mercantilistas. Contudo, o propósito do presente artigo não é apimentar este conflito, mas sim fazer uma breve reflexão sobre o lado religioso deste homem (Edir Macedo) que não poucas vezes tem agido de forma infantil. A intenção é refletir (pensar) sobre as premissas teológicas e religiosas que o líder da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) tem propagado e como que estas são prejudiciais a fé cristã.

No dia 27 de Abril de 2009, Edir Macedo registrou em seu blog as seguintes alíneas: “Será que os que me acusam de aproveitador, vigarista e ladrão não gostariam de estar em meu lugar???… Será que eles me acusam porque são honestos, íntegros, verdadeiros e santos? E se a santidade deles é tão acentuada assim, por que não são tão abençoados por Deus como gostariam? Seria Deus injusto para com eles? Que Deus é Esse que abençoa um “bandido” e amaldiçoa os certinhos? Ou será que mesmo na integridade eles não conseguem sucesso porque são incompetentes? E não seria tamanha incompetência a verdadeira razão da inveja? (...)” – cf. www.bispomacedo.com.br/blog , acessado em 16 de Maio de 2009. Tristemente, Edir Macedo não está totalmente errado, o que não torna suas idéias aceitáveis. É indiscutível que inúmeros líderes eclesiásticos fariam qualquer coisa para ter o suposto “sucesso” e “crescimento” que a IURD obteve nas últimas décadas, a prova disto é que estão imitando os heréticos programas da IURD em diversas igrejas.

A perícope acima demonstra que o Sr. Edir Macedo se esqueceu do texto do livro de Jó que exemplifica que coisas ruins acontecem com pessoas boas e que a recíproca também é verdadeira, ou seja, coisas boas acontecem com gente ruim. Este estalo teológico apresentado por Jó é o que equilibra o radicalismo defendido por alguns baseando exclusivamente no texto de Deuteronômio, capítulo 28, onde apresenta a súmula: sejam pessoas boas e Deus abençoará; sejam pessoas más e Deus amaldiçoará. Sendo assim, Macedo se esquece que o que se está em “xeque” nesta vida não é o sucesso adquirido perante os homens, nem o nebuloso fracasso, mas sim a fidelidade com que se é mordomo de Deus. Portanto, santidade não é pré-requisito para adquirir bens materiais, integridade não garante riqueza, e ao que parece a lógica do mercado capitalista é exatamente o contrário.

Há vários textos bíblicos que estão em acordo ao dogmatizar que prosperidade, sucesso, felicidade não são necessariamente atributos daqueles que são fieis cristãos. Para tanto vale observar o texto de Salmos 94:3: “até quando os ímpios, Senhor, até quando os ímpios saltarão de prazer?”. Tal texto está próximo da indagação registrada em Juízes 12:1: “...por que prospera o caminho dos ímpios, e vivem em paz todos os que procedem aleivosamente?”. Portanto, ao contrário do que Macedo intenta ensinar, bênçãos nesta terra não pode ser o critério exato para discernir se alguém está com Deus ou não. Contudo, não se pode radicalizar afirmando que Deus é contra a prosperidade. Torna-se, então, razoável e é no mínimo sensato arrazoar que, toda e qualquer riqueza quando não é utilizada para a glória de Deus deve ser questionável.

Outro caminho demasiadamente perigoso que o Sr. Edir Macedo induz a cristandade atual a trilhar em seu blog é o pressuposto de que as pessoas ao olhar para ele sentem inveja. Os líderes evangélicos que comungam deste sentimento devem repensar seriamente a fé, pois o referencial de pastor deveria ser não o sucesso, mas sim o caráter, porém tal fato é omitido em seu blog, focando que a razão da inveja dos outros por ele é essencialmente o “sucesso” da IURD. Ambos erram, pois o que a igreja precisa atualmente é de pastores de caráter, não de pastores-empresários que se orgulham do sucesso como se este fosse mérito pessoal. Para tanto, novamente o texto bíblico, especificamente o de Salmos 73:2-3, ajuda o leitor a não ceder para o “canto da sereia”, pois argumenta: “quanto a mim, os meus pés quase que se desviaram; pouco faltou para que escorregassem os meus passos. Pois eu tinha inveja dos néscios, quando via a prosperidade dos ímpios”.

Ao ler a perícope destacada do blog do Edir Macedo e após fazer as devidas considerações anteriormente relatadas, uma cena da infância vem à mente. Se parece muito com uma criança mimada que conseguiu um carrinho importado de controle remoto sem fio e que agora frente aos “amigos” do bairro menos favorecidos fica fazendo “figuinha” e esnobando os outros se achando o melhor entre todos. Contudo, depois que se cresce vê que aquele carrinho não tem importância nenhum. Se for um carrinho feito à mão com garrafas pet ou importado sem fio, isto não tem o menor valor quando se adquire um pouco de maturidade. O que importava realmente era estar junto um dos outros. Parafraseando, quando na Igreja se deixa de ser criança o que importa não é mais a beleza dos templos, nem o sucesso aclamado pelas multidões e muito menos a prosperidade dos outros, tudo isto são paixões infantis.

Fortalecido pela cruz de Cristo,
Vinicius Seabra | vs.seabra@gmail.com
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Artigo escrito em: 15 de Junho de 2009

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

De volta a Casa do Pai



“Caindo em si, ele disse: 'Quantos empregados de meu pai têm comida de sobra, e eu aqui, morrendo de fome! Eu me porei a caminho e voltarei para meu pai...” 
Lucas 15:17,18 (NVI)

O mundo é o lugar onde mais encontramos filhos sem casa, sonhos distantes, tentativas inúteis de saciar o vazio existente no coração. O maior deserto que se conhece está dentro de cada um daqueles que saíram da Casa do Pai. No livro de Lucas capítulo 15, Jesus nos traz a parábola do filho pródigo. A mesma realidade é visível até os dias de hoje.

Imagine a despedida. O filho vai se tornando cada vez menor no campo de vista do pai, sumindo na estrada, sem ao menos olhar para trás. Todavia, o pai fixou o olhar no filho e deve ter ficado muito tempo ali aguardando a qualquer instante o retorno. Os dias se passam, o pai volta para a estrada que o filho foi embora e fixa o olhar, forçando as vistas na tentativa de conseguir enxergar o retorno daquele que se foi.

As noites são longas, não consegue dormir, pois fica aguardando o filho chegar a qualquer momento batendo na porta. Quando consegue cochilar, nos sonhos do pai, o filho é central. Nos momentos em que o pai fica sozinho vêem-se as lágrimas rolando no rosto, em prantos, clamando, desesperado, ansiando apenas dar um beijo na face do filho de se foi.

Quem sabe o pai deveria deixar a porta principal da casa aberta, pois a qualquer momento o filho que se perdeu poderia entrar na casa. Enquanto isto... o filho nem se lembra que tem casa! Entretanto, como o mundo de pecado não passa de ilusão, um dia o filho perdeu tudo: dinheiro, amigos, mulheres, roupas, alimento e etc. Agora estava sozinho, perdido e vazio.

O pai continua lá... de braços abertos.

A partir deste instante o filho começa a se lembrar dos dias na casa do pai. Tinha amor, alimento, carinho e amigos de verdade. Na casa do pai as pessoas o valorizavam pelo que ele é, não pelo que ele tem. Confronto! Isto é o que brotou na mente do filho, pois quando saiu de casa nem olhou para trás, nunca mandou uma carta, nunca mandou um cartão postal, nem um telefonema.

O pai continua lá... de braços abertos.

O filho começa a se perguntar: será que o pai me aceitará de volta? A mente começa a acusar: Errei muito! Magoei meu pai! Pequei contra os céus! Desperdicei meu tempo! Envergonhei o nome da família! Não sou merecedor de perdão! Contra-argumenta: Eu dou conta! Vou construir meu mundo sem o pai! Não preciso voltar para casa!

O pai continua lá... de braços abertos.

O orgulho toma conta do filho. Ele não quer se humilhar e sair correndo para os braços do pai. Procura um emprego, mas ninguém dá. Depois de muita insistência consegue cuidar de porcos, pior ainda... tem que comer com os porcos. Ao se ver nesta situação vexatória e deprimente, o filho, tomado de grande ousadia decidi enfrentar o orgulho, o egocentrismo e caminha de volta para a casa do pai.

O pai continua lá... de braços abertos.

No caminho de volta, o filho ensaia as palavras que dirá ao se encontrar com o pai... Talvez em algum instante tenha sentado na beira da estrada e pensado em voltar para os porcos. O filho sabe que na casa do pai é o lugar dele. Precisa voltar! Faltando alguns quilômetros começa a acelerar o passo, anda mais depressa, instantes depois começa a correr para chegar mais depressa...

O pai continua lá... de braços abertos.

De repente... o pai avista o filho vindo. Esfrega os olhos para ter certeza que não é uma miragem. Confirma! Um grito é arrancado da garganta: Meu filho!!!!!!! O pai sai correndo ao encontro do filho. Ambos estão em prantos, o chão começa a ser regado pelas lágrimas. No deserto do orgulho começa a chover lágrimas de amor, arrependimento e perdão. O filho que estava morto reviveu! Estava perdido e foi encontrado!

O Pai está muito mais interessado em nos encontra do que nós a Ele.

O Pai anseia ardentemente em poder nos ver voltando para a Casa dEle.

O Pai aguarda ansiosamente o dia de sair correndo para abraçar e beijar o filho perdido.

Você está longe da Casa do Pai?

Então corra!

O Pai continua lá... de braços abertos. 

Fortalecido pela cruz de Cristo, 
Vinicius Seabra | vs.seabra@gmail.com
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Artigo escrito em: 25 de Junho de 2004

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Um diálogo com Martin Luther King



"Raramente essa pessoa reflete no fato de que a sua vida é curta, porque Deus o mantém ocupado com a alegria do coração" 
Eclesiastes 5:20 (NVI)

A vida precisa ser vivida em constantes feedback’s para que não nos esqueçamos de onde viemos para depois não lamentarmos onde estamos, e, nem tão pouco culparmos outros pelo que nos tornamos. Para tanto, trago a memória momentos da minha infância, quando ainda estava cursando as fases primarias da escola, tempos de descobertas, e simultaneamente era a época de se pensar acerca do que se esperava da vida e como iríamos passar pela vida. Não era muito difícil encontrar um professor (“tio” e “tia”, como se dizia naquela época) que constantemente nos passava uma folha em branco e pedia para a classe desenhar o que queríamos ser quando crescêssemos. E dali a imaginação ganhava espaço. E é daqui que parto para a reflexão que se segue. 

Tristemente, os espinhos da jornada da vida têm feito muitas pessoas pararem no meio do caminho. Dali, simplesmente sentados à beira do caminho pode-se contemplar sonhos abandonados, esperanças esquecidas, dúvidas inquietadoras, olhares temeres para o horizonte e não poucas vezes olhando para trás para ver se dá tempo de voltar correndo. Para estes, Martin Luther King diria: "Talvez não tenhamos conseguido fazer o melhor, mas lutamos para que o melhor fosse feito. Não somos o que deveríamos ser, não somos o que iremos ser, mas graças a Deus, não somos o que éramos". 

Caoticamente, as frustrações que coexistem na estrada da vida tem produzido um denso molde para que bons trabalhadores se tornem em meros espectadores de um espetáculo que nunca mais na história da eternidade se repetirá. Desistem de sonhos que nunca deveriam ser desacreditados e confiam em promessas que não deveriam ser ouvidas. Para estes, Luther King diria: “É melhor tentar e falhar que ocupar-se em ver a vida passar. É melhor tentar, ainda que em vão, que nada fazer. Eu prefiro caminhar na chuva a, em dias tristes, me esconder em casa. Prefiro ser feliz, embora louco, a viver em conformidade”. 

Felizmente, a vida não é somente um cenário sombrio e desértico que, embora real, não deixa de ser indubitavelmente temporal. Todavia, ao que parece, a ponta do iceberg se apresenta na doentia busca pelo poder, onde títulos valem mais que caráter, onde esperteza anula a humildade, onde a grandeza de um homem é medida pela quantidade de pessoas que o serve e onde o ser burguês cancela a práxis humanitária do servir ao próximo. Para este grupo, King diria: “Todas as pessoas podem ser grandes porque todas podem servir. Não é preciso ter um diploma universitário para servir. Não é preciso fazer concordar o sujeito e o verbo para servir. Basta um coração cheio de graça. Uma alma gerada pelo amor”. 

Alegremente, e finalmente, podemos reafirmar que o fato de se viver constitui-se num complexo e constante aprendizado. Cada manhã é uma possível lição de esperança, o findar de cada aurora desnuda uma necessária avaliação de caráter, e, cada luar descortina uma maturidade que floresce pouco a pouco. Para tanto, Martin Luther King diria: “A hora é sempre certa para fazer o que é certo”. E acrescenta que “a injustiça em qualquer lugar é uma ameaça à justiça em todo lugar”. E por fim, quando tudo parece ser o fim, ainda pode-se ouvir um último grito que quebra o silêncio: “I have a dream" – Ainda tenho um sonho. 

Fortalecido pela cruz de Cristo, 
Vinicius Seabra | vinicius@mtn.org.br 
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Artigo escrito em: 05 de Janeiro de 2005

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Enfim, nos acostumamos com a Graça


 
“Por isso é preciso que prestemos maior atenção ao que temos ouvido, para que jamais nos desviemos. Porque se a mensagem transmitida por anjos provou a sua firmeza, e toda transgressão e desobediência recebeu a devida punição, como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação?".
Hebreus 2:1-3 (NVI) 

Há quase duas décadas atrás me deparei com a frase celebre de Oswald Smith (1889-1986): “Por que alguém deveria ouvir do evangelho duas vezes, quando há pessoas que não ouviram nenhuma vez”. Na época fiz uma auto-revisão das minhas integrações congregacionais e percebi que eu ouvia do Evangelho aproximadamente oito vezes por semana – isto só na igreja onde eu congregava, não pontuei acerca das possibilidades evangelicais disponíveis nas mídias. Confrontando o que vivia semanalmente com a frase de Smith fiquei a pensar sobre qual era o real impacto desta avalanche de anunciação do Reino sobre minha vida. Cheguei a patética conclusão: “eu me acostumei com a Graça”. Ouvir o Evangelho já não tinha relevância alguma, não interferia nos meus padrões de conduta, não me constrangia frente à cruz, não sentia nada ao saber da história da redenção – afinal, ouvia isto toda semana. Entendi, então, que havia algo de muito errado na minha relação com as Escrituras, era preciso que eu me aproximasse mais do Carpinteiro e ir pouco a pouco me surpreendendo com a Graça. Era preciso desacostumar de ouvir o Evangelho.

Passados quase duas décadas ainda é preciso, de tempo em tempos, descortinar minhas vivências eclesiásticas e perceber até que ponto o Evangelho se tornou apenas mais uma história mitológica a ser contada de geração em geração. Até que ponto Cristo se tornou apenas mais um grande homem que ensinou sobre humildade e amor ao próximo. Até que ponto a soberania de Deus se tornou apenas mais uma teoria anti-evolucionista com engenhosos argumentos lógicos. Até que ponto a Bíblia se tornou apenas mais um livro sobre cidadania e justiça social. Até que ponto a misericórdia dEle não se tornou apenas num amuleto de barganha para meus conscientes pecados. Até que ponto a santificação não se tornou apenas mais uma questão de contextualização e regionalismo. Até que ponto o perdão do Carpinteiro não se tornou apenas uma obrigatoriedade divina frente as minhas limitações. Até que ponto a narratividade da Via Dolorosa produz apenas a mesma reação emotiva tipo aquelas que sinto num filme dramático ou numa canção bem interpretada. Até que ponto o céu se tornou apenas uma fuga do inferno. Até que ponto intimidade com Ele se tornou apenas cantar músicas lentas e repetitivas por horas. Até que ponto... eu me acostumei com a Graça?!

Não quero mais me acostumar com a Graça! Quero redescobrir uma fé que se mostra graciosa dia a pós dia. Quero redescobrir uma igreja que exista para ser um balaio de gente quebrantada. Quero redescobrir o perdão dEle que constrange minha humanidade. Quero redescobrir a paixão por ler as Escrituras de forma devocional. Quero redescobrir a cruz como ponto de encontro para minhas escolhas e pensamentos. Quero redescobrir a Graça de Ele ter escolhido me salvar. Quero redescobrir a simplicidade de ter meus pecados perdoados. Quero redescobrir a pasmalidade da minha adoção por Cristo. Quero redescobrir a oração como forma de relacionamento com Ele. Quero redescobrir um viver sob a sentença de que a Graça de Deus me é suficiente. Quero redescobrir a amizade com Ele. Quero redescobrir o silêncio. Quero redescobrir a minha pequenez. Quero redescobrir minha miserabilidade. 

Fortalecido pela cruz de Cristo, 
Vinicius Seabra | vinicius@mtn.org.br
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Artigo escrito em: 11 de Outubro de 2013