segunda-feira, 21 de julho de 2014

Crise teológica e outras denúncias


“Admiro-me de que vocês estejam abandonando tão rapidamente aquele que os chamou pela graça de Cristo, para seguirem outro evangelho. Que, na realidade, não é o evangelho. O que ocorre é que algumas pessoas os estão perturbando, querendo perverter o evangelho de Cristo”.
Gálatas 1:6-7 (NVI)

A teologia em solos tupiniquins nunca foi algo de grande prestígio nos púlpitos evangelicais, especialmente após a ascensão dos revelamentos e descoberta dos “dons especiais”. Dá-nos a impressão que estudar teologia é algo arcaico, ultrapassado e desconexo com a religiosidade exigida entre os brasilianos modernos. E, não poucas vezes a teologia fora relegada a apenas uns poucos eruditos eclesiais que ocupam cargos de liderança. O resultado imediato foi uma elitização da teologia. Sendo assim, o que restou para as multidões de crentes brasileiros fora um distanciamento gradativo e irreversível. Estamos, então, assistindo o suicídio da teologia – digo suicídio e não morte, pois somos co-responsáveis pelo estrangular da teologia no Brasil.

Há várias crises que culminaram no espetáculo do suicídio da teologia, a saber: A venda de diplomas. Não era comum ouvirmos falar de venda de diplomas de teologia, porém a religião evangélica mudou, e a grande maioria das igrejas exige dos aspirantes que se tenha pelo menos o básico em teologia (apesar de estas próprias igrejas não gostarem do estudo da teologia). Por conseguinte, a igreja, de forma desordenada e imediatista, avisa os candidatos ao episcopado poucos meses antes da ordenação. O que força, inevitavelmente, os pretensos candidatos a terem que negociar um curso de teologia com duração de não mais que semanas, mas com um diploma “equivalente” a anos de estudos. E, isto é uma forma legalizada, aceita e velada de venda de diplomas de teologia.

Outra crise que germinou entre os campos da teologia foi o fato de que ser teólogo dá direito de prestar concurso para capelão da Aeronáutica, Exército ou Marinha (entre outros) com salários de aproximadamente 6.000 reais (seis mil reais). Nada teríamos a depor contra tal fato senão pela notória percepção de que nas salas de aula dos Seminários muitos não querem aprender teologia, o que querem é o diploma para prestar o concurso de capelão. Para estes, teologia é apenas um obstáculo no percurso rumo à estabilidade financeira. Estes escolhem a teologia por ser um curso com uma grande flexibilidade de notas e gigantesca tolerância aos trabalhos acadêmicos, ou seja, mesmo sendo um péssimo aluno provavelmente conseguirá o diploma.

Outra crise sutil que borbulha na teologia hodierna é a substituição dos Seminários por cursos ministeriais na igreja local. Até por volta da década de 1970 era comum encontrar as salas de Seminários com mais de 40 alunos, gente de diversas denominações que compartilhavam aspirações no serviço ao Reino. Entretanto, com o advento das inúmeras igrejas independentes os pastores ficaram com medo de perder membros e, então, tiveram a terrível idéia de criar seus próprios Seminários. Que na verdade não eram Seminários, eram cursos ministeriais com a intenção clara de formatar lideres segundo seus próprios corações. Desta forma inúmeras pessoas pensam que estão estudando teologia, mas na verdade estão apenas sendo adestrados religiosamente.

O currículo do curso de teologia é outra crise que merece destaque. A estrutura básica de um curso de teologia perpassa por: teologias sistemáticas (doutrina do pecado, homem, anjos, Espírito Santo, entre outras), análises dos livros da Bíblia (Antigo e Novo Testamentos) e estudo de ciências paralelas (psicologia, sociologia, português, entre outras). Posto desta forma era inevitável que o curso tivesse algo entorno de três anos de duração. Contudo, alguns Seminários espalhados pelo Brasil resolveram “revolucionar” (estragar), e reconfiguraram as estruturas curriculares. Numa pesquisa informal feita pela internet aos diversos Seminários percebe-se que agora o curso de teologia preocupa-se com outros saberes, como: Leis de Trânsito, História do Direito, Comunicação e Marketing, Batalha Espiritual, Vida do Líder, Obediência e Autoridade (por questão de ética não citarei os Seminários com esta estrutura curricular, porém sugiro ao leitor pesquisar na internet e comprovar tal fato – inclusive preste atenção na carga horária das disciplinas).

A lista de crises na teologia brasileira beira ao interminável, portanto, com fins a continuar nesta saga de repensar a teologia tupiniquim sugiro a leitura de outros artigos disponíveis no blog (seabravinicius.blogspot.com.br), tais como: “Teologia é do capeta (!?!)”, “A igreja anti-teologia” e “Entendendo o analfabetismo bíblico do Brasil”. Finalizo na esperança de que se a desmoralização dos cursos de teologia fora um ato intencional “nosso” (igreja brasileira), então, igualmente podemos lutar para resgatar uma teologia útil, bíblica e coerente.

Fortalecido pela cruz de Cristo,
Vinicius Seabra | vs.seabra@gmail.com
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Artigo escrito em: 21 de Julho de 2014