“Pois dele, por ele e para ele são todas as
coisas. A ele seja a glória para sempre!”
Romanos 11:36 (NVI)
É
preciso distinguir entre música e louvor (vide artigo “da diferença entre
música e louvor”, do mesmo autor), então, igualmente é imprescindível que se
diferencie o falar em público e o pregar. Obviamente que em ambos os casos boa
parte da teoria, especialmente no que tange a oratória e retórica, são mui
congruentes e convergentes. Entretanto, o objetivo final de ambas ações são
estratosfericamente distantes e por vezes opostos entre si. Ao falar em público
espera-se que o que discursa seja capaz de persuadir os ouvintes a algo, e isto
se dá pela capacidade individual deste de ser articulado com as palavras,
convincente quanto às pressuposições conceituais e carismático junto à plateia.
De contra partida, mesmo reconhecendo que as alíneas anteriores são importantes,
há algo mais importante: que o pregador seja fiel à Palavra, expondo as
Escrituras com simplicidade, humildade e com profundo temor ao Senhor, ainda
que isto não venha regado de eloquência ou retórica.
Pregar
é falar em público, mas nem todo falar em público é uma exposição bíblica, isto
é óbvio. Então, é igualmente óbvio que se atente sobre as características
elementares de cada uma destas ações para não confundir os “palcos” e valer-se
de pressupostos errados, emporcalhando a mensagem, tornando-a assim impropria. Quando
se fala em público a indumentária e a postura do que discursa tem extrema
importância no processo de convencimento, mas, de contra partida, na exposição
das Escrituras a figura do mensageiro é o menor detalhe, o que importa é a
grandiosidade da mensagem, que não depende da beleza estética do mensageiro.
Num púlpito a mensagem supera as qualidades e deformidades do mensageiro. A Boa
Notícia é completa em si e não precisa de retoques estilizados daqueles que a
profere. Alias, é preferível que o pregador/mensageiro não roube a cena, mas
saiba elevar os holofotes para A Única Mensagem. O pregador é um coadjuvante,
não o ator principal.
Falar
em público requer uma boa performance individual, pregar, por mais que
aparentemente seja uma só pessoa a discursar no microfone, é no entanto, na
verdade, uma ação coletiva de culto e devoção a Deus. A pregação implica em uma
continuidade do culto público que se está fazendo, por isto não é um momento
solo, desassociado das etapas anteriores e posteriores da liturgia. Por esta
mesma razão o púlpito não deve ser monopolizado por apenas uma pessoa, domingo
após domingo. A pregação é parte da igreja e, então, deve ser partilhada pela
igreja. Púlpito não é lugar para se destacar, mas para continuar a cultuar; não
é lugar para performance, mas sim pra servir; não é lugar para ostentação, mas
para contrição; não é lugar para aplaudir, mas para se ajoelhar; não é lugar
para ver os outros, mas sim para ajudar os outros.
Quando
se confundi falar em público com pregar, três coisas acontecem: 1) pregadores
(pastores) são venerados – expressões como “este é homem de Deus” são formas
sutis de admiração exagerada que incha o ego do pregador, mesmo que
despretensiosamente. Pregadores não deveriam ser elogiados por suas pregações,
pois é o elogio o principal agente corrosivo da humildade, humildade esta
elementar para ser pregador; 2) preocupa-se mais com a embalagem da mensagem do
que com o conteúdo – quando começa-se a medir uma pregação pela quantidade de “glórias
a Deus” que se escuta da plateia, ou quando começa-se a medir um pregador pelo
reboliço que ele traz para a igreja, então, estes pregadores se esquecem que pregação não tem muito
haver com popularidade, estratégia ou carisma, mas tem haver, única e
exclusivamente, com a manutenção da glória de Deus [que é o conteúdo supremo];
e, 3) elitiza-se o púlpito – no contexto tupiniquim isto é evidente ao ponto de
em quase todos os domingos do ano só se vê as mesmas figurinhas nos púlpitos,
domingo após domingo. Isto acontece, pois há quem pense, erradamente, que
pregação (e louvor) é para os bons.
Pregar
é muito mais que falar em público, é parte intrínseca do ser Igreja. Pregação
não é para pouco, mas deveria sim ser algo, naturalmente, partilhado por todos
aqueles que integram a comunidade. Pregar é ensinar a Palavra, é compartilhar
do Reino, é dialogar acerca da fé, é conversar
sobre Aquele que mudou nossas vidas. Portanto, insisto, a pregação precisa ser
popularizada e assim fugir aos rótulos do falar em público. Quanto mais a
igreja coloca a pregação no campo do falar em público, mas distante se torna A
mensagem do Carpinteiro, que preferiu discursar em meio às pessoas, com coisas
simples, por meio de gente simples (discípulos) e finalizou o ministério
terreno convocando: “ide, pregai o Evangelho...” Mc 16:15. Por
conseguinte, mesmo que não saiba falar em público, é preciso que se pregue.
Fortalecido pela cruz de Cristo,
Vinicius Seabra | vs.seabra@gmail.com
_______________________________
Artigo escrito em: 29 de Dezembro de 2015
Fortalecido pela cruz de Cristo,
Vinicius Seabra | vs.seabra@gmail.com
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Artigo escrito em: 29 de Dezembro de 2015