“Melhor é ter espírito humilde entre os oprimidos
do que partilhar despojos com os orgulhosos”.
Provérbios 16:19
(NVI)
Há no senso comum a percepção de que se um restaurante
está cheio é porque a comida daquele estabelecimento é boa. Em certa medida
esta lógica é coerente, comida boa tende a produzir publicidade positiva e,
então, atrair novos clientes, fazendo com que haja muitas pessoas no recinto no
horário das refeições, atraindo relativa visibilidade e relativa credibilidade.
Para quem não conhece as opções de restaurante de uma determinada região, este
parece ser um critério interessante e relativamente seguro. Esta é a lógica
usual (pragmática) de quando se está num lugar desconhecido e é preciso escolher
um local para se fazer refeições.
As pessoas, ao terem que escolher um restaurante,
são atraídas não apenas pela qualidade da comida que supostamente fez com que
aumentasse a quantidade de pessoas no recinto, mas também por outros fatores
que em certa medida podem até ser destoantes à noção de qualidade, como: preço,
convivência, hábito, proximidade, rotina de trabalho, entre outras
possibilidades. Então, escolher um restaurante apenas pela quantidade de pessoas
que frequenta o local pode não ser o melhor critério, mas há de se admitir que seja
uma tática usual e por vezes parece ser assertiva.
Há quem escolha uma igreja para frequentar como se
escolhe um restaurante para comer, ou seja, pela quantidade de pessoas que
frequenta o local, sob a pretensa afirmação de que se tem muita gente, deve ser
bom. Se para restaurantes esta máxima tem lá suas dúvidas, quanto mais se
aplicarmos a mesma lógica para a igreja. Tristemente, é preciso arrazoar que muitos
líderes eclesiásticos valem-se da quantidade de frequentadores para dar
visibilidade e suposta credibilidade para o empreendimento
religioso, este confundem abrir um restaurante com abrir uma igreja.
Num restaurante tem-se que atrair clientes, vender
o produto e, então, conseguir lucratividade, porém é preciso recuperar a
sanidade e entender que a igreja não tem clientes, não vende produtos e muito
menos deveria gerar lucratividade (não quer dizer que não precise de dinheiro,
são conceitos distintos). Na igreja há fraternidade, não clientes, a relação
não se estabelece a partir de uma noção mercantilizada. Na igreja há Boas
Novas, não produtos, a mensagem é a mesma desde os tempos bíblicos e esta é suficiente
para produzir salvação para o pecador arrependido. Na igreja há partilha, não
lucratividade, o dinheiro tem que ser usado para promover a justiça social, a equidade
e a expansão do Reino. Por meio destas premissas, é notoriamente distinguível
uma igreja de um restaurante.
Não se escolhe uma igreja como se escolhe um restaurante;
não se frequenta uma igreja com as mesmas intenções de se frequentar um
restaurante; não se espera da igreja o que se espera de um restaurante; não se
abre uma igreja como se abre um restaurante; não se conduz uma igreja como se
conduz um restaurante. Aos que querem a possibilidade de lucro, que abram um
restaurante. Aos que acreditam que o marketing é a ferramenta mais importante,
que abram um restaurante. Aos que querem atrair multidões para serem reconhecidos
com suposto sucesso, que abram um restaurante. Enfim, que estes pastores, donos
de restaurantes com faixadas de igrejas, parem de emporcalhar a fé evangélica tupiniquim
e reconectem-se com a simplicidade da fé que não requer nada mais do que permanecer
fiel até o fim.
A igreja brasileira não precisa de pastores gourmetizados,
com sintomas de numerolatria aguda e nem de uma liderança caramelizada de empowerment.
Não estamos em um master chef eclesiástico.
Precisamos apenas de igrejas simples, pastores simples, membros simples,
estrutura simples, louvor simples e pregação simples. Afinal, nosso mestre é
apenas um Carpinteiro e nós apenas servos... Ele é o dono da seara, nós os trabalhadores...
Ele é o Senhor da Igreja e nós apenas parte da Igreja. Portanto, não avalie uma
igreja pela quantidade de pessoas que a frequentam, avalie uma igreja pela
transformação de vida daqueles que a frequentam; avalie uma igreja não pelo
fluxo de gente na hora do almoço
(referendando a metáfora do restaurante), mas sim pela perseverança,
continuidade, devoção, rendição e permanência dos que se juntam a mesa para uma
ceia diária.
Fortalecido pela cruz de Cristo,
Vinicius Seabra | vs.seabra@gmail.com
_______________________________
Artigo escrito em: 19 de Agosto de 2016
Brilhante comentário amado mestre, realmente precisamos redescobrir o verdadeiro sentido de ser Igreja, na verdade agir de acordo com o que já é sabido é suficiente.
ResponderExcluirOla, Quem bom que o texto foi relevante para sua reflexão. "Vamo que vamo!"
ResponderExcluir