“Sede também meus imitadores, irmãos, e tende cuidado,
segundo o exemplo que tendes em nós, pelos que assim
andam”.
Filipenses 3:17
Filipenses 3:17
Nesta última década
muito tem se escrito sobre liderança, e tais escritos tem sido assimilado
acriticamente pela cristandade evangélica. Contudo, seria no mínimo prudente
arrazoar sobre uma releitura de tais ensinos que não poucas vezes tem se
mostrado maléficos a Eclésia, e que indubitavelmente tem se despontado como danosos
a vida cristã. É axiomático que a Igreja precisa ser ensinada no que tange a
liderança, porém e então, que esta seja invariavelmente uma liderança com
princípios cristãos. Para tanto, faz-se necessário distinguir entre “liderança
secular” e “liderança cristã”. Tal divisão é tão somente ilustrativa, não dualista,
pois é notório que há princípios que comungam em ambos, entretanto, há aspectos
que se tornam discrepantes demais ao ponto de se tornarem antagônicos entre si.
A liderança secular
ensina que a capacitação está automaticamente ligada a melhores salários, ou
seja, quanto mais capaz, maior o salário. Não há espaço para altruísmos, os
melhores funcionários sempre serão mais caros. Infelizmente, na igreja tal
postura tem sido fortemente assimilada, onde os pastores (mesmo os que não são
em tempo integral) insistem que é “justo” receberem um alto salário. Daí, os
outros líderes também exigem que recebam altos salários sob ameaça de ir
congregar em outro ministério em que há uma “gorda” remuneração. É triste
perceber que as pessoas estão se vendendo para fazerem algo em prol do
(“suposto”) Reino de Deus. Não quer dizer que não possa haver pessoas
remuneradas dentro da igreja, contudo, é sábio criticar sobre o porquê se está
remunerando.
Na liderança
secular é extremamente necessário valer-se do temível artifício denominado
“demissão”. O princípio é claro: seja por problemas financeiros, ou por
conflitos interpessoais, ou principalmente por incompetência trabalhista
lança-se mão das demissões como tentativa de realocar outros que atendam melhor
as exigências da empresa. Contudo, deveria ser inadmissível haver demissões de
obreiros que atuam no ministério de forma integral. Tristemente, já tem se
tornado normal presenciar pastores que exercem a mais de 30 anos o ministério
e, agora, simplesmente por serem rotulados de “velhos” estão sendo abandonados
(literalmente demitidos). Não se pode demitir um obreiro, pois a igreja é
responsável por todos aqueles que intencionalmente se juntam a família cristã.
Não há funcionários, mas sim irmãos na fé. A Igreja existe para ser um lugar de
restauração, ensino, tolerância e transformação, não um lugar de descarte de
vidas.
Nos livros de
liderança secular é costumeiramente normal verificar várias páginas abordando a
temática da produtividade. Neste tipo de literatura o foco é apresentar
técnicas e ferramentas de aumento na produção, sendo assim, a palavra de ordem
é crescer. Para estes é inadmissível uma empresa ficar estática quanto ao ritmo
de produção. A igreja assimilou tal
posição e sendo assim para muitos lideres eclesiástico o que importa é fazer a
igreja crescer. Para muitos líderes pouco influi se as pessoas estão tendo a fé
fundamentada em Jesus Cristo, pois afinal, o que vale é ter uma multidão no
culto de domingo à noite. Daí não fica difícil encontrar “crentes
populacionistas”, que são desapercebidamente fracos na fé, raquíticos na
esperança e instáveis espiritualmente. Estes líderes eclesiásticos preferem esquecer
que na Igreja é mais importante reproduzir (discipulado) que produzir
(populismo).
Os artigos de
liderança secular têm passado por uma péssima mutação ideológica, pois em sua
grande maioria mais tem se parecido com textos de auto-ajuda e sendo assim a
filosofia é somente “vencer”. Os ensinos de liderança secular têm sido banhados
por palavras de positivismo e carregado de expressões com “energias boas”. Por
isto, a palavra fracasso não faz parte do atual dicionário de liderança.
Tristemente, a Igreja Brasileira também assimilou isto. Para muitos lideres
eclesiástico a palavra “fracasso” tem sido sinônimo de possessão demoníaca, tal
termo é quase que impronunciável nos púlpitos. Entretanto, as grandes lições da
vida não são aprendidas no pódio, mas nos acidentes de percurso. Portanto,
privar líderes eclesiásticos do temível “fracasso” é fazê-los faltar na
principal aula de liderança, aula esta que os tornará maduros e capazes para
enfrentar as dificuldades oriundas da arte de liderar. Em termos de liderança
eclesiástica vencer é importante, mas ser capaz de permanecer firme em tempos
de fracasso é essencial.
Uma liderança
cristã se dá quando há sensatez frente às releituras anteriores e que atenda
pelo menos cinco requisitos, a saber: 1) Caráter; 2) Vida devocional; 3) Vida
familiar saudável; 4) Empatia; e 5) Visão de futuro. O caráter é fundamental na
liderança cristã, pois exprime responsabilidade e confiabilidade. Lideres de
caráter não se beneficiarão em detrimento de outros, não negociarão a fé pela
fama e não comercializarão as ovelhas para os lobos. Vida devocional é outro
princípio indispensável para a liderança cristã, pois representa a
espiritualidade da pessoa. A igreja está cansada de encontrar lideres que só
são espirituais no domingo à noite, urge a necessidade de lideres que sejam
cristãos no dia-a-dia. A vida familiar é imprescindível para aqueles que
almejam liderar na Igreja, pois infelizmente tem sido fácil enganar as massas,
contudo, torna-se impossível manter as máscaras em casa, portanto faz-se
necessário ser primeiramente cristão em casa. A empatia é essencial para que líderes
cristãos não sejam egoístas e medíocres, mas sim solidários e companheiros. Por
fim, cabe ao líder cristão ter visão de futuro e não somente soltar a igreja
como se fosse um barco no oceano sem rumo, precisa-se planejar e organizar
intencionalmente as ações da igreja e submetê-la sempre a soberana vontade de
Deus.
Enfim, e, então, nos lembremos da exortação de Pedro: “Apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força, mas voluntariamente; nem por torpe ganância, mas de ânimo pronto” – I Pe.
5:2.
Fortalecido pela cruz de Cristo,
Vinicius Seabra | vinicius@mtn.org.br
Vinicius Seabra | vinicius@mtn.org.br
Artigo escrito em: 16 de Março de 2009
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