“Por isso é preciso que prestemos maior
atenção ao que temos ouvido, para que jamais nos desviemos. Porque se a
mensagem transmitida por anjos provou a sua firmeza, e toda transgressão e
desobediência recebeu a devida punição, como escaparemos nós, se
negligenciarmos tão grande salvação?".
Hebreus
2:1-3 (NVI)
Há quase duas décadas atrás me deparei com a frase celebre de Oswald
Smith (1889-1986): “Por que alguém deveria ouvir do evangelho duas vezes,
quando há pessoas que não ouviram nenhuma vez”. Na época fiz uma auto-revisão
das minhas integrações congregacionais e percebi que eu ouvia do Evangelho
aproximadamente oito vezes por semana – isto só na igreja onde eu congregava,
não pontuei acerca das possibilidades evangelicais
disponíveis nas mídias. Confrontando o que vivia semanalmente com a frase de
Smith fiquei a pensar sobre qual era o real impacto desta avalanche de
anunciação do Reino sobre minha vida. Cheguei a patética conclusão: “eu me
acostumei com a Graça”. Ouvir o Evangelho já não tinha relevância alguma, não
interferia nos meus padrões de conduta, não me constrangia frente à cruz, não sentia nada ao saber da história da
redenção – afinal, ouvia isto toda semana. Entendi, então, que havia algo de
muito errado na minha relação com as Escrituras, era preciso que eu me aproximasse
mais do Carpinteiro e ir pouco a pouco me surpreendendo com a Graça. Era
preciso desacostumar de ouvir o Evangelho.
Passados quase
duas décadas ainda é preciso, de tempo em tempos, descortinar minhas vivências
eclesiásticas e perceber até que ponto o Evangelho se tornou apenas mais uma
história mitológica a ser contada de geração em geração. Até que ponto Cristo
se tornou apenas mais um grande homem que ensinou sobre humildade e amor ao
próximo. Até que ponto a soberania de Deus se tornou apenas mais uma teoria
anti-evolucionista com engenhosos argumentos lógicos. Até que ponto a Bíblia se tornou apenas mais um livro
sobre cidadania e justiça social. Até que ponto a misericórdia dEle não se
tornou apenas num amuleto de barganha para meus conscientes pecados. Até que
ponto a santificação não se tornou apenas mais uma questão de contextualização
e regionalismo. Até que ponto o perdão do Carpinteiro não se tornou apenas uma
obrigatoriedade divina frente as minhas limitações. Até que ponto a
narratividade da Via Dolorosa produz apenas a mesma reação emotiva tipo aquelas
que sinto num filme dramático ou numa canção bem interpretada. Até que ponto o
céu se tornou apenas uma fuga do inferno. Até que ponto intimidade com Ele se
tornou apenas cantar músicas lentas e repetitivas por horas. Até que ponto...
eu me acostumei com a Graça?!
Não quero mais me
acostumar com a Graça! Quero redescobrir uma fé que se mostra graciosa dia a
pós dia. Quero redescobrir uma igreja que exista para ser um balaio de gente
quebrantada. Quero redescobrir o perdão dEle que constrange minha humanidade.
Quero redescobrir a paixão por ler as Escrituras de forma devocional. Quero
redescobrir a cruz como ponto de encontro para minhas escolhas e pensamentos.
Quero redescobrir a Graça de Ele ter escolhido me salvar. Quero redescobrir a
simplicidade de ter meus pecados perdoados. Quero redescobrir a pasmalidade da
minha adoção por Cristo. Quero redescobrir a oração como forma de
relacionamento com Ele. Quero redescobrir um viver sob a sentença de que a
Graça de Deus me é suficiente. Quero redescobrir a amizade com Ele. Quero
redescobrir o silêncio. Quero redescobrir a minha pequenez. Quero redescobrir
minha miserabilidade.
Fortalecido pela
cruz de Cristo,
Vinicius Seabra | vinicius@mtn.org.br
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Artigo escrito em: 11 de Outubro de 2013
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