“Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei”
Mateus 11:28
A dogmática
eclesiástica pós-moderna encenada pelos lideres neófitos torna-se excludente
para com os fracos e de contra partida levanta-se a bandeira de um evangelho
engordurado de positivismo empírico. Para os que comungam deste “soluço
evangelical” o teor da mensagem do evangelho se limita ao subjetivo que
invariavelmente acaba gerando sensacionalismo, intuicionismo, relativismo e
misticismo. Nestes recintos não há lugar para gente cansada, fracassada,
sobrecarregada ou desanimada, só há espaço para pessoas vitoriosas, corajosas e
heróis. Conseqüentemente, demoniza-se os desencontros das vivências e pinta-se
uma existência desprovida de imprevistos tempestivos.
Ter desejo de
vencer na vida, anelar conquista maiores e buscar ser bem sucedido é inquestionavelmente
uma atitude nobre. Contudo, quando esta busca por vencer se tornar fator de exclusão
de outros do convívio religioso e social, torna-se imperativo questionar tal
anseio. E por ser muito sutil tal segregação é quase imperceptível, pois
raramente se sente falta de gente fracassada. As pregações de vitória que
deveria inspirar as pessoas se tornam o fator primordial de afastamento, pois
para muitos a tal “vitória” nunca passa de uma música eufórica ou de um bravejo
dominical distante demais do cotidiano. Sendo assim se constrói uma
religiosidade que mais se parece com um mosaico de cristal, ou seja, intocável
pela maioria e inatingível por quase todos.
A estrita relação
entre vitória e Deus pode culminar numa astuta homilia que intencionalmente afasta os “derrotados” da igreja, criando um corpo aparentemente imune às desventuras
da vida. Entretanto, tal posição se torna danosa aos pequeninos na fé, pois se
cria um postulado quase que axiomático de que vencer é ser espiritual.
Portanto, quem não vive em vitórias carrega o estereótipo de uma pessoa
esquecida e castigada por Deus, conseqüentemente os tais são marginalizados
pelos fieis. Com certeza nada é mais maléfico a Eclésia do que a simplista
posição de um Deus que ama os vitoriosos e que despreza os fracassados. A
postura bíblica se apresenta contraria a tal postulado e reconstrói um Deus que
insiste em buscar o doente, o fraco, o indesejado, o ladrão, o avarento, o
inconstante e etc.
A vida de Jesus de
Nazaré foi um exemplo clássico da manifestação deste Deus que busca encontrar o
“cansado”. Quando indagado sobre o porquê convivia com gente pecadora,
fracassada e doente, o Mestre responde: “Os sãos não necessitam de médico, mas,
sim, os que estão doentes; eu não vim chamar os justos, mas, sim, os pecadores
ao arrependimento” – Mc. 2:17. Em outra passagem o Carpinteiro endossa de forma
imperativa: “Curai os enfermos, limpai os leprosos, ressuscitai os mortos,
expulsai os demônio...” – Mt. 10:8. Jesus queria que os discípulos entendessem
que o Cristianismo se justifica quando há inclusão dos cansado e fracassados no
plano salvífico de Deus. Por isto, é imprescindível entender que a Igreja
existe não para ser uma vitrine de vitoriosos, mas sim um convite para gente
cansada.
O ministério de
Jesus foi desenvolvido quase que totalmente entre aqueles que viviam nas
margens da sociedade e, conseqüentemente, marginalizados pelos religiosos da
época. Agindo assim, Jesus estava ensinando para os seus seguidores que as Boas
Novas devem ser anunciadas para aqueles que acostumaram com as más noticias.
Estava instruindo os discípulos a entender que a práxis da Graça deve ser
alcançar quem vive na desgraça. Estava doutrinando os discípulos a semear esperança
nos corações desesperados. E, estava treinando os primeiros cristãos a tatear
um amor que não se limita ao discurso. Conforme é notório na história da mulher
com o fluxo de sangue (Lc. 8:43-48), na cura do paralítico de Betesda (Jo.
5:1-9), na purificação do leproso (Mt. 8:2-4) e na cura de um surdo e gago (Mc.
7:31-37).
A pessoa de Jesus
Cristo é o modelo máximo a ser seguido pela cristandade sendo, portanto, a fôrma
modelável do caráter do ser Igreja. Baseado nisto, é desatino limitar a fé cristã
nas conquistas terrenas, pois isto minimiza o sacrifício de Cristo na cruz. É
equívoco tentar balizar a esperança evangélica numa mera euforia dominical,
pois isto tornar raquítico o plano redentor de Deus. E sendo a Igreja a
principal precursora da fé evangélica não pode anunciar outro evangelho
diferente daquele que foi vivido e anunciado por Cristo. Evangelho este que é
muito mais que vitória, é salvação; muito mais que sorrisos, é alegria eterna;
muito mais que prosperidade, é plenitude.
Fortalecido pela cruz de Cristo,
Vinicius Seabra | vinicius@mtn.org.br
Vinicius Seabra | vinicius@mtn.org.br
Artigo escrito em: 14 de Abril de 2009