Tiago 4:15
(ACRF)
No dia 21 de Junho
de 2014 tivemos o infortúnio de perdermos
a Kombi (2013/2014) de nossa Instituição (Missão Tocando as Nações) para dois
ladrões que, a mão-armada, levaram a Kombi para algum lugar desconhecido por nós. Deste fato
horrendo, a semelhança das coisas do gênero das (des)graças, suscitou vários
questionamentos, dúvidas e inquietações. Frases estas que quando verbalizadas
sempre vinham com o perturbador “se”. E desta ausência material (Kombi) vagueamos
nossos corações entre Sherlock Holmes, mãe Diná e
Capitão Nascimento. Nos hiatos existenciais entre desesperança e fé, frustração
e soberania de Deus, percebe-se nossos medos teológicos, desnuda nossa visão de
Deus e ratifica nossas percepção sobre o Cristianismo. Tudo depende de onde
colocamos o “se”.
Se Deus estiver querendo
nos ensinar algo... Esta é a principal via quando somos assolados por perdas. Temos
a visão de um Deus que se assemelha a um rígido professor que ensina pela
perda, pela dor e pela palmatoria. Deus este que sempre está a ensinar uma lição
de vida, uma frase de efeito, um jargão para ser guardado. Então, desmistificando
esta posição, e contrariando o senso-comum cristão, Deus sempre está nos
ensinando, não apenas quando perdemos, mas principalmente quando ganhamos. Deus
é o professor por excelência e nos ensina no cotidiano, nas coisas simples da
vida. Só não vê isto quem ainda espera o dia
da prova como auge do ensino, para estes tudo se limita às provas.
Se Deus estiver
pesando a mão... Esta é uma posição não muito rara, porém pouco verbalizada,
pelo menos na frente dos envolvidos na trama do roubou. Para estes “The Avengers”
(referência ao filme da MARVEL, 2012) Deus é mais que um cruel professor, é
acima de tudo um vingador perverso. Para estes o mal é bem visto,
principalmente porque aconteceu com o outro. Aqui desnuda o nosso mais vil evangeliquês
que sempre acredita que Deus está pronto a punir o outro, que sempre é o outro
o grande pecador, que o outro é alvo da ira desenfreada de Deus. O que está por
detrás desta afirmação é a super espiritualidade destes que resumem toda coisa
ruim na frase “Deus está pensando a mão”. O irônico é quando a coisa ruim
acontecem a estes, dai a frase muda é fica assim: “foi o Diabo quem fez isto”. E
é dai que sai o próximo “se”.
Se foi o Diabo quem roubou a Kombi para
atrapalha a obra de Deus... Como dito no parágrafo anterior, geralmente quem
verbaliza está afirmação o faz acreditando na seriedade e comprometimento cristão
dos envolvidos no desfortúnio. Esta parece ser uma confortável argumentação,
principalmente por creditar ao Diabo todo mal e sorrateiramente supervalorizar
homens. Então, esta é uma argumentação no mínimo perigosa. Atribuir tudo ao
Diabo é fuga de responsabilidade, tentativa de demonizar os fatos e propagar uma
cultura de raiva (guerra) – tudo isto ofusca a beleza da ação de Deus que age
na história de forma nada lógica ou consensual. Pior ainda é acreditar que nós
somos importantíssimos (imprescindíveis) na obra Deus e que agora, sem a Kombi,
tudo está prejudicado – isto sim é infantilizar a fé, pois esquecem que Deus é
maior que a obra, se esquecem que para Deus nada é impossível, e , esquecem que
Deus é o maior interessado na continuidade da expansão do Reino.
Se a Kombi tivesse seguro
ou rastreador... Esta também é uma das vias mais comuns de argumentação. Ouvir
tal questionamento de quem não convive com o dia-a-dia da Missão Tocando as Nações
é até entendível, mas o estranho é perceber tal construção entre aqueles que
convivemos. A Missão Tocando as Nações é uma Instituição pequeninhinha, nunca
recebemos nenhum tipo de verba governamental ou de empresas privadas, todo o
nosso sustendo se dá por ofertas voluntarias e recebimentos de alunos em nossos
cursos. O resultado é que vivemos numa dificuldade financeira de proporções gigantescas.
Pagar uma conta de luz é quase viver um milagre, pagar a conta do telefone é da
ordem do mistério, colocar combustível
para ir aos projetos é sempre uma aventura. Então, termos condição de pagar
seguro ou rastreador é quase uma fusão mística-cósmica. Ah! Só a título de
informação, a referida Kombi foi um presente que ganhamos, pois não tínhamos (nem
temos) dinheiro para comprar Kombi.
Se a Kombi tivesse
bloqueador resolveria o problema... Esta é uma afirmação tanto quanto
controversa. O bloqueador pode ser uma boa solução para evitar o roubo, porém
no nosso caso o roubo se deu na porta da casa de um integrante de nossa
Instituição, o que poria em risco a família deste, pois os ladrões sabem onde
ele mora e com certeza voltariam, e acredito que não seriam gentis. Tanto o
postulado do seguro, como no caso do rastreador, e ainda na ausência do
bloqueador, são soluções possíveis, que poderíamos ter tentado fazer uma vaquinha e pagar os referidos custos. De
fato neste caso fomos omissos (mesmo com a realidade financeira exposta no parágrafo
anterior). Milagre por milagre já vemos isto todos os dias, mais um não seria
novidade. Contudo, o que se descortina destes dois últimos parágrafos são dois
perigosos postulados: 1) de que precisamos culpar alguém quando as coisas dão
errado; e, 2) acreditar que tudo se resume á esfera humana. Ao contrário dos
primeiros “se”, aqui Deus parece estar longe.
Basicamente estes são
os clássicos “se” que ouvimos e proferimos. Se há verdade em cada um destes “se”
o tempo nos dirá. Ao que parece o problema está no fracionamento de Deus nas
posições anteriores, dificultando perceber uma ação divina mais completa e
complexa. Por esta razão, aventurarei propor nos próximos parágrafos outros “se”
que beiram ao ilógico, utópico e a heresia. Contudo, já que este espaço fora
reservado para tantos “se” porque não tentar vislumbrar algo fora do comum. Meio
que tentando tatear algo mais nobre na (des)graça. Tentar perceber mais de Deus
nesta história que a nós é da ordem do horror, mas que pode ser uma bela obra
de arte do Autor da Vida. Tentar encontrar mais perguntas que despertem o
interesse por Deus, do que encontrar respostas prontas e requentadas de uma
religiosidade que cheira ao humano.
Se esta foi a
vontade de Deus... pura e simples, sem explicações, sem lições ou sem moral. É
fato que nos perdemos muito em tentar responder as ações de Deus. Temos que
reconhecer que quase sempre não entendemos o que Deus está fazendo. Os intentos
dEle são infinitamente superiores ao nosso, e Ele não tem que ficar explicando
nada para nós, humanos. Ele rege a história como lhe apraz. Deus não está
brincando de charadas, em que nós temos que ficar criando respostas por
tentativa e erro. E, por mais que soe entranho, temos que admitir a
possibilidade de Deus ter sido o protagonista do roubo da Kombi por razões que
acredito nunca entenderemos. Quem sabe, fico apenas a imaginar, se com este
roubo aqueles ladrões vão de alguma forma se encontrar com Cristo, e então, o
roubo da Kombi se torna insignificante e ao fim tenha a Kombi se tornado mais útil
ao Reino.
Se este roubo na
verdade foi é um livramento... O fim desta história poderia ter sido pior,
poderia estar escrevendo sobre a morte do condutor da Kombi, ou quem sabe
relatando sobre visitas a UTI de um hospital. Então, por esta razão, este seria
o momento oportuno para dar graças a Deus por ter sido apenas a Kombi a
vitimada. E por mais que não se diga por ai, pessoas ainda são mais importantes
que coisas. Após uma semana do roubo parei para analisar as interpelações dos
que recebiam a notícia que a Kombi havia sido roubada, e poucas foram as
pessoas que interromperam o discurso perguntando se alguém se feriu (inclusive
eu mesmo não fiz este questionamento no momento que recebi a trágica notícia). É
perceptível a diferença entre o desespero dos que restringem a informação ao
fato da Kombi ter sido roubada, e o suspiro de alívio dos que percebem que ninguém
se feriu.
Se o roubo da Kombi
fora para novamente nos angustiarmos
pela compra de outra... Digo angustiar, pois para comprar a nossa primeira
Kombi em dezembro de 2009 (Kombi usada, muito usada – 2000/2000, R$ 15,000.00
reais) tivemos que fazer por mais de um ano rifas, cantinas, jantares, pedir
ofertas publicamente, nos humilharmos (na época pessoas postaram no site
dizendo que era vergonhoso o que estávamos fazendo, pedindo dinheiro para a
compra de uma Kombi - entre outras forma de depreciação de nossa incapacidade
financeira). Angustiar, pois já fazia quase um ano que estávamos tentando comprar
outra Kombi quando a primeira pifou de vez (julho de 2013). Angustiar porque ficamos
meses em silêncio sem saber o que fazer, quando inesperadamente recebemos de
presente uma Kombi nova, zero km, tirada da concessionaria em novembro de 2013 (Kombi
esta que foi roubada em junho de 2014). Angustiar por ter que outra vez
depender da generosidade dos irmãos. Angustiar por mais uma vez ter que esperar
a ação de Deus. Angustiar por não saber o que fazer. Angustiar por ter que
esperar.
E por fim, se tudo
que escrevi neste texto não seja o que de fato é... Disto não saberemos por
agora. Somos pessoas finitas que olham para os fatos a partir de nossas experiências
e de como entendemos que Deus se relaciona. E nisto, não temos certezas, apenas
especulações. Deus não é muito dado a revelar o que Ele está fazendo, não que
isto deponha contra Ele, pelo contrário, isto só denuncia que “...os meus [de Deus]
pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os meus [de
Deus] caminhos, diz o Senhor. Porque assim como os céus são mais altos
do que a terra, assim são os meus [de Deus] caminhos mais altos do que os
vossos caminhos, e os meus [de Deus] pensamentos mais altos do que os vossos
pensamentos” - Isaías 55:8-9
(ARCF) – destaque do autor.
Fortalecido pela cruz de Cristo,
Vinicius Seabra | vs.seabra@gmail.com
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Artigo escrito em: 30 de Junho de 2014