"Nós, que somos fortes, devemos suportar as
fraquezas dos fracos, e não agradar a nós mesmos (...) Portanto, aceitem-se uns
aos outros, da mesma forma como Cristo os aceitou, a fim de que vocês
glorifiquem a Deus”.
Romanos
15:1,7 (NVI)
O cristianismo que não poucas vezes tem se visto a discursar nas
plenárias evangélicas se estreita por caminhos antagônicos a jornada proposta
pelo Carpinteiro Jesus. Vê-se, na contemporaneidade, um evangelho
individualista. Isto se desnuda em orações egoístas e possessivas onde o “eu”
está sempre em evidência. Percebe-se facilmente uma busca capitalista por
prosperidade e benção para “mim”, pois até onde se sabe nunca houve registro de
alguém que fizesse uma “campanha” para o irmão ao lado ficar prospero, sempre
“eu”. Enxerga-se um clamor egocêntrico de supervalorizar as “minhas” aflições
supondo que estas sejam mais agonizantes que as do meu irmão. E por fim, este novo
evangelho individualista fica notório quando se ouve as músicas do gênero gospel onde extinguiram o plural “nós”
dos cânticos congregacionais para entronizar o “eu” triunfalista. Tais
premissas denunciam que estes são fracos que se vestem de um aparência de
fortes para se manterem no pedestal do orgulho e do egoísmo. Lamentavelmente,
na Eclésia pós-moderna não se tolera a presença dos fracos, então, alguns
fingem serem fortes para satisfazer os abutres da fé que “curam
superficialmente o mal da filha do povo...” – Jr. 8:11.
O Mestre nos ensinou um Evangelho coletivo que indubitavelmente se
contradiz com a busca individualista dos tupiniquins
evangelicalistas que visam serem fortes como um fim em si mesmo. O apóstolo
Paulo vislumbrando tal cenário convoca a irmandade para uma redescoberta da
coletividade congregacional. Paulo enfatiza (cf. Rm 15:1-7) que os fortes têm que conviver com os fracos, é
assim que se faz uma igreja crescer de forma integral, onde os fortes suportam
os fracos para que Deus seja glorificado e assim o Corpo cresça junto.
Tristemente, o que se percebe é o contrário, os fortes ficam com pessoas
fortes, conseqüentemente, os fracos só se relacionam com os fracos. Por esta
razão o evangelho individualista
conseguiu vestir-se tão bem ao século XXI, pois os cristãos querem ser mais fortes para serem reconhecidos como
fortes perante os fracos. Neste novo
reino os fracos são desprezados/amaldiçoados e são relegados a viver nas periferias eclesiais para não contaminar
os supostos fortes com seus discursos
triunfalistas. O fato de ser (ou estar) fraco não é o problema em questão, mas
sim denunciar a fragilidade dos fortes que ao invés de ajudar preferem fechar
os olhos, encolher as mãos e silenciar as palavras.
No Evangelho Bíblico os fortes não o são porque as pessoas a sua
volta o julgam assim. Estes são fortes, pois tem coragem de “...agradar ao seu
próximo para o bem dele, a fim de edificá-lo” (v.2). Os fortes neste contexto não são os mais aplaudidos pelas
multidões, mas sim os que ousam ajudar o próximo a crescer ao invés de buscar
um crescimento pessoal/individual. Os fortes não são os que estão em maior
evidência, mas sim os que usam tudo que tem para que os fracos amadureçam na fé
ao invés de ficar esnobando uma espiritualidade inatingível por poucos. Os
fortes nem sempre são os melhores, mas sim os que têm a capacidade de fazer o
melhor possível com fins a promover a fraternidade. Afinal, biblicamente, ser
forte é ser coletivo, e ser fraco é ser individualista. A igreja brasileira
precisa de pessoas cristãs o suficiente para entender que “o homem forte
defende a si mesmo, o homem mais forte defende aos outros”, como apregoa a
película animada, O Segredo dos Animais
(2006, por Nickelodeon Movies).
Há mais uma inquietante proposta na mensagem deste Evangelho onde
os fracos tem vez, é o fato de que ser forte não é um estado inalterável. Por
esta razão a nossa oração deve ser de: “... perseverança e ânimo (...) um
espírito de unidade...” (v. 5). E é
assim, por meio da unidade da irmandade que conseguiremos ser, ora fortes para
ajudar os necessitados, e, ora ajudado por aqueles que agora são fortes. Desta
maneira, será longe dos discursos individualistas que surgirá uma Igreja sem nome, sem ídolos, sem grandes e sem
donos. Aos pés da cruz contemplaremos
a crucificação do “eu ser” e o surgimento do “nós sermos”; ali emergirá uma
Igreja fraternal onde voluntariamente o forte ajuda o fraco e se estabelecem
sob a sentença de que: “...eu me glorio em Cristo Jesus, em meu serviço a Deus”
(v.17).
Fortalecido pela
cruz de Cristo,
Vinicius Seabra | vinicius@mtn.org.brArtigo escrito em: 19 de Março de 2012