quarta-feira, 24 de abril de 2013

Igreja, lugar de gente fraca


"Nós, que somos fortes, devemos suportar as fraquezas dos fracos, e não agradar a nós mesmos (...) Portanto, aceitem-se uns aos outros, da mesma forma como Cristo os aceitou, a fim de que vocês glorifiquem a Deus”.
Romanos 15:1,7 (NVI) 

O cristianismo que não poucas vezes tem se visto a discursar nas plenárias evangélicas se estreita por caminhos antagônicos a jornada proposta pelo Carpinteiro Jesus. Vê-se, na contemporaneidade, um evangelho individualista. Isto se desnuda em orações egoístas e possessivas onde o “eu” está sempre em evidência. Percebe-se facilmente uma busca capitalista por prosperidade e benção para “mim”, pois até onde se sabe nunca houve registro de alguém que fizesse uma “campanha” para o irmão ao lado ficar prospero, sempre “eu”. Enxerga-se um clamor egocêntrico de supervalorizar as “minhas” aflições supondo que estas sejam mais agonizantes que as do meu irmão. E por fim, este novo evangelho individualista fica notório quando se ouve as músicas do gênero gospel onde extinguiram o plural “nós” dos cânticos congregacionais para entronizar o “eu” triunfalista. Tais premissas denunciam que estes são fracos que se vestem de um aparência de fortes para se manterem no pedestal do orgulho e do egoísmo. Lamentavelmente, na Eclésia pós-moderna não se tolera a presença dos fracos, então, alguns fingem serem fortes para satisfazer os abutres da fé que “curam superficialmente o mal da filha do povo...” – Jr. 8:11.

O Mestre nos ensinou um Evangelho coletivo que indubitavelmente se contradiz com a busca individualista dos tupiniquins evangelicalistas que visam serem fortes como um fim em si mesmo. O apóstolo Paulo vislumbrando tal cenário convoca a irmandade para uma redescoberta da coletividade congregacional. Paulo enfatiza (cf. Rm 15:1-7) que os fortes têm que conviver com os fracos, é assim que se faz uma igreja crescer de forma integral, onde os fortes suportam os fracos para que Deus seja glorificado e assim o Corpo cresça junto. Tristemente, o que se percebe é o contrário, os fortes ficam com pessoas fortes, conseqüentemente, os fracos só se relacionam com os fracos. Por esta razão o evangelho individualista conseguiu vestir-se tão bem ao século XXI, pois os cristãos querem ser mais fortes para serem reconhecidos como fortes perante os fracos. Neste novo reino os fracos são desprezados/amaldiçoados e são relegados a viver nas periferias eclesiais para não contaminar os supostos fortes com seus discursos triunfalistas. O fato de ser (ou estar) fraco não é o problema em questão, mas sim denunciar a fragilidade dos fortes que ao invés de ajudar preferem fechar os olhos, encolher as mãos e silenciar as palavras.

No Evangelho Bíblico os fortes não o são porque as pessoas a sua volta o julgam assim. Estes são fortes, pois tem coragem de “...agradar ao seu próximo para o bem dele, a fim de edificá-lo” (v.2). Os fortes neste contexto não são os mais aplaudidos pelas multidões, mas sim os que ousam ajudar o próximo a crescer ao invés de buscar um crescimento pessoal/individual. Os fortes não são os que estão em maior evidência, mas sim os que usam tudo que tem para que os fracos amadureçam na fé ao invés de ficar esnobando uma espiritualidade inatingível por poucos. Os fortes nem sempre são os melhores, mas sim os que têm a capacidade de fazer o melhor possível com fins a promover a fraternidade. Afinal, biblicamente, ser forte é ser coletivo, e ser fraco é ser individualista. A igreja brasileira precisa de pessoas cristãs o suficiente para entender que “o homem forte defende a si mesmo, o homem mais forte defende aos outros”, como apregoa a película animada, O Segredo dos Animais (2006, por Nickelodeon Movies).

Há mais uma inquietante proposta na mensagem deste Evangelho onde os fracos tem vez, é o fato de que ser forte não é um estado inalterável. Por esta razão a nossa oração deve ser de: “... perseverança e ânimo (...) um espírito de unidade...” (v. 5). E é assim, por meio da unidade da irmandade que conseguiremos ser, ora fortes para ajudar os necessitados, e, ora ajudado por aqueles que agora são fortes. Desta maneira, será longe dos discursos individualistas que surgirá uma Igreja sem nome, sem ídolos, sem grandes e sem donos. Aos pés da cruz contemplaremos a crucificação do “eu ser” e o surgimento do “nós sermos”; ali emergirá uma Igreja fraternal onde voluntariamente o forte ajuda o fraco e se estabelecem sob a sentença de que: “...eu me glorio em Cristo Jesus, em meu serviço a Deus” (v.17). 

Fortalecido pela cruz de Cristo, 
Vinicius Seabra | vinicius@mtn.org.br


Artigo escrito em: 19 de Março de 2012

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Quando fazer o certo é errado


"Portanto, se alguém está em Cristo, é nova criação. As coisas antigas já passaram; eis que surgiram coisas novas! Portanto, somos embaixadores de Cristo, como se Deus estivesse fazendo o seu apelo por nosso intermédio. Por amor a Cristo lhes suplicamos: Reconciliem-se com Deus".
2 Coríntios 5:17,20 (NVI) 

Desde mui pequeno somos ensinados a fazer o certo, mas pouco se ensina sobre sermos certos. A preocupação central está na ação de fazer e nada tem haver com a essência de se ser. Deste dualismo épico que se digladia em nossas histórias é que surge a lacuna pseudo-ética de fazer o que não se é, criando um habitat para viver de aparências, nutrindo-se de falsidades, e regozijando-se na irrepreensibilidade do que é feito. Quando focamos em ações facilmente nos esquecemos da natureza/essência, dai elogiamos quem deveria ser repreendido, exortamos aqueles que estão lutando contra os pecados invisíveis e exoneramos aqueles que incansavelmente insistem em não ser algo que não são. No contexto pós-moderno estes abutres da visibilidade se encontram numa perspectiva instável, pois o fazer certo não é mais algo estático, mas sim mutável, dependendo então dos interesses, da tribo, da época, dos sentimentos, da mídia, enfim... fazer o certo neste mundo torna-se uma tarefa exaustiva e inconclusa – as aparências dependem dos espelhos que a refletem.

Quando se faz o que é certo tende-se a receber estímulos externos que corroboram para a continuidade desta ação, pouco se preocupa com a intenção, motivação ou razão de se fazer. Quando se faz o certo apenas se escuta os aplausos, abafando a suave voz da consciência que questiona quem somos. Tal cenário é antagônico quando a ação é rotulada de errada, neste contexto cria-se várias homílias que tentam engenhosamente explicar (ou pelo menos justificar) o porquê de não se fazer outra vez a ação errada. Quando erramos as pessoas a nossa volta tentam nos convencer que isto não é coerente com quem somos, associando perceptivelmente a ação à essência. Por esta razão o problema em questão neste artigo não são as ações erradas, pois estas recebem atenção adequada relacionando o fazer ao ser. O grande vilão está trajado de ações corretas, pois estas tendem a surrupiar a dignidade inglória e entronizar reis indignos. É estranho perceber que na sociedade hodierna o erro diz respeito ao nosso caráter e, bizarramente, o acerto nada tem paralelo com nossas virtudes. É por este vácuo de percepção que surge o “certo errado”.

O erro sempre fará parte de nossas vivências, pois é isto que caracteriza uma sociedade ativa. O terrível é perscrutar o disfarce do erro que paulatinamente vem agregando vestimentas de acerto para fugir das exortações e receber congratulações. Então, é possível fazer tudo certo e ser completamente errado. Arriscaremos alguns exemplos: quando um artista milionário doa parte de sua riqueza para um projeto social na África subsaariana esta seria uma ação certa, mas o que se percebe é que atualmente ajudar os miseráveis dá status e prestígio, então, o que era para ser uma boa ação na verdade escondia uma má intenção – é o “certo errado”. Quando um político ajuda uma comunidade carente esta seria uma ação certa, mas o que se percebe é que o tal político quer apenas se reeleger e para isto precisa das massas pobres, então, é o “certo errado”. Quando uma pessoa faz obra de caridade é sempre visto como uma boa ação, mas o que se percebe é que num Brasil cada vez mais Espírita fazer caridade nada tem haver com o próximo, mas sim com a premissa condicional da salvação partir da caridade e da preocupação individualista da evolução do espírito – novamente é o “certo errado”.

Nas sombras da lenda de Robin Hood alguns poderiam argumentar ser louvável a atitude de fazer o bem pouco se importando se os meios são errados. É exatamente esta argumentação que esconde o que verdadeiramente deveríamos questionar: caráter/essência. Enquanto focarmos nas ações e suas funcionalidades, pouca atenção restará para avaliarmos quem realmente somos. Num mundo de marionetes do bem e espectadores do certo não resta espaço para ser, pois os holofotes estão sempre sobre o fazer. Então, tristemente, o que fazemos pode não ter nada haver com que somos. Esta é a razão do porque existem tantos religiosos que aprenderam a ter atitudes cristãs, mas não se tornaram cristãos. Vão à igreja e ouvem que precisam amar o próximo, perdoar, tolerar as fraquezas de outrem, congregar, doar a si mesmo, falar de Jesus, e tantas outras coisas certas, mas... se esquecem que todas estas virtudes anteriores perdem o valor se estes não tiverem vivido o “nascer de novo” (cf. Gl. 6:15; Jo. 3:3,7; 2Co. 5:17), é necessário que a natureza de Cristo revista nossa antiga natureza.

Ao contrário do que se escuta pelos rincões igrejeiros tupiniquins há algo mais importante que ter atitudes cristãs, é imprescindível que sejamos cristãos. Caso contrário ouviremos a horrenda sentença: "Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino dos céus, mas apenas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus.  Muitos me dirão naquele dia: ‘Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? Em teu nome não expulsamos demônios e não realizamos muitos milagres?’ Então eu lhes direi claramente: ‘Nunca os conheci. Afastem-se de mim vocês, que praticam o mal!’" -  Mt 7:21-23 (NVI). Por isto, fazer o certo não é suficiente para o Reino, pois o Senhor consegue ver quem somos, Ele “não vê como o homem: o homem vê a aparência, mas o Senhor vê o coração" - 1 Sm. 16:7 (NVI). Até podemos viver uma vida similar aos preceitos cristãos, mas isto não garante que sejamos cristãos. Os que entendem o cristianismo como uma fórmula de perfeição e acertos não entendeu a essência. Ser cristão não é acertar sempre, mas se arrepender sempre que necessário; ser cristão não exclui deslizes infantis na vida adulta, mas inclui a graça e a misericórdia na jornada cotidiana; ser cristão não é garantia de sucessos e aplausos, mas sim a convicção de que o Senhor é o dono da história e nada foge do controle dEle. Por tudo isto, ratifica-se que o mais importante não é fazer, mas ser – por isto é necessário “nascer de novo”.

O “certo errado” pode agregar inúmeras outras formas que desafortunadamente desnudaria uma incompatibilidade entre o fazer cristianismo e o ser cristão, basta um exercício de autocrítica para descortinar a raiz do que estamos fazendo. Rotular e categorizar o certo pelo simples fato do que é perceptível em ação não é a forma mais correta, de semelhante maneira classificar o errado pelos critérios da visibilidade é entrar em um solo escorregadio que pode aniquilar boas intenções que tiveram maus resultados. Enfim, é preciso contradizer o velho ditado popular que ousa afirmar: “de boas intenções o inferno está cheio” – na verdade o inferno está cheio de pessoas que tentaram parecer boas, mas que em suas intenções eram más. Os resultados não revelam intenções, os acertos não denunciam finalidades e a popularidade do certo não convence corruptivelmente a essência do erro. Por tudo que fora exposto é válido ratificar, que indubitavelmente, não resta outro caminho para ser, é necessário “nascer de novo”. E é ali que aprenderemos com erros e não seremos encantados com os acertos. 

Fortalecido pela cruz de Cristo, 
Vinicius Seabra | vinicius@mtn.org.br

Artigo escrito em: 18 de Abril de 2013

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Sobre ouro, sacrifíco e tolos


"...acaso tem o Senhor tanto prazer em holocaustos e em sacrifícios quanto em que se obedeça à sua palavra? A obediência é melhor do que o sacrifício, e a submissão é melhor do que a gordura de carneiros. Pois a rebeldia é como o pecado da feitiçaria, e a arrogância como o mal da idolatria. Assim como você rejeitou a palavra do Senhor, ele o rejeitou como rei”. 
I Samuel 15.22-23 (NVI)

No contexto judaico do Antigo Testamento o sacrifício de animais era um dos mais importantes rituais a serem feitos em gratidão, rendição e pedido de perdão a Deus. O então rei, Saul, tinha plena consciência acerca da seriedade deste ritual, entretanto, em um fatídico dia se esqueceu de que Deus se importa mais com a obediência dos Seus do que com a as belas liturgias (no contexto da época, sacrifícios de animais). Por esta razão o Senhor o rejeitou (v. 23), pois mais importante que ser um grande e bem sucedido rei, é impreterível aprender a simplicidade do obedecer ao Criador. Aqui se faz necessário ratificar que a rejeição de Deus por Saul não se deu pelo fato de ter feito um ritual litúrgico. O erro de Saul não foi o fato de não ter esperado Samuel para o sacrifício, muito menos por não ter seguido a praxe judaica. O problema em questão era a ousadia (leia-se rebelião) de Saul em intencionalmente desobedecer a uma ordem expressa de Deus de destruir todos os amalequitas (vs. 18-26).

O rei Saul preferiu não desagradar à multidão (v.21), mesmo sabendo que tal intento afrontaria o Deus vivo. Esta atitude demonstra que para Saul o mais importante era o povo. Quando este sentimento impera sobre a cristandade o sacerdócio se torna objeto de leviandade das massas. Neste ponto é que reside o grande perigo, pois as pessoas tendem a serem facilmente encantadas pelo espetáculo do sacrifício oferecido pelos reis. A grande maioria se contenta em realizar a praxe da religião e se esquecem de que qualquer ritual certo se torna num gigantesco erro quando feito em desobediência. Por isto, é valido afirmar que não é a multidão o termômetro mais exato, não são os reis que devem escolher o caminho e não são os sacrifícios que definem a espiritualidade. A capacidade de obedecer fielmente a Deus é o que nos define para a eternidade.

A recompensa daqueles que desobedecem a Deus é sempre um grande balde cheio de “ouro de tolo” (i.e. pirita - um minério que é muito semelhante ao ouro verdadeiro). Estes pensam que tem algo de valor, pois são reis e tem a multidão. Contudo, em seus corações o que tem a apresentar para o Senhor não tem valor algum, pois é fruto de desobediência. Deus não se encanta com os feitos dos reis e nem com frenesis espiritualistas das multidões, pois Ele sabe distinguir o verdadeiro do falso, o joio do trigo e o sacrifício agradável do sacrifício de tolo. Por esta razão, não existe nada menos sensato do que desobedecer a vontade do grande Rei; e, não existe nada mais prejudicial à fé cristã do que banalizar os sacrifícios – mesmo que tais atos venham travestidos de espirituosas boas ações, pois “...o Senhor não vê como o homem: o homem vê a aparência, mas o Senhor vê o coração” (cf. I Sm. 16.7) – NVI. 

Fortalecido pela cruz de Cristo,
Vinicius Seabra | vinicius@mtn.org.br

Artigo escrito em: 30 de Setembro de 2010

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Reflexões sobre maturidade cristã


"Não que eu já tenha obtido tudo isso ou tenha sido aperfeiçoado, mas prossigo para alcançá-lo, pois para isso também fui alcançado por Cristo Jesus. (...) prossigo para o alvo, a fim de ganhar o prêmio do chamado celestial de Deus em Cristo Jesus”. 
Filipenses 3:12,14 (NVI)

O mundo contemporâneo se disfarça por detrás de uma cortina de certezas e convicções que inquestionavelmente não revela o que realmente se é. A cinematografia e mundo televisivo não contribuem para que tal cortina seja desfeita, muito pelo contrário, torna a busca da existência numa corrida utópica pela cenoura que está amarrada a nós mesmos centímetros à frente provocando nossa caminhada rumo ao nada. Vive-se num odisseia do vazio existencial que se maquia sob a forma de discurso triunfalista. Quanto mais se brada mais se percebe a inconsistência de ser, tenta vencer no grito suas frágeis convicções. O capitalismo fez as pessoas acreditarem que tudo pode ser comprado, como que sob as testas tivesse uma etiqueta de valores financeiros. Não é que a sociedade é ruim, nós é que o somos.

O cheiro fétido da imaturidade não está nos outros, está em nós. Vê-se uma defesa do planejamento de vida como se a existência fossem números exatos e com combinações previsíveis. Assiste-se a busca pela felicidade como que se esta fosse um produto numa gôndola qualquer no mercado da esquina que de tão acessível se torna vulgar e vazia. Percebe-se uma inquietude por querer ser alguém na vida ao ponto de se escravizar para obter a aprovação e aplausos de outros que bravejam atrás da máscara do sucesso. Contempla-se o suspiro apaixonado por uma história de amor que ilude os corações feridos a ter ações impulsivas sem levar em considerações as consequências de se confundir amor com prazer. Por tudo isto, seria farisaico se não assumíssemos nesta lauda que a sociedade está em uma luta desleal, vivendo num conflito sombrio, sonhando com a ilusão como que no “o fantástico mundo bob” e sendo encantando com o canto suave da sereia que tenta arrastar as pessoas para o fundo do mar.

O caótico cenário descrito no parágrafo anterior é intrínseco ao viver orgulho, egoísta e instável da sociedade pós-moderna. Isto é o que somos. Por esta razão é igualmente fingimento esperar que aqueles que labutam numa jornada cristã não padeçam destes mesmos assombros. Ser cristão não é construir outro mundo entre as quatro paredes da igreja e achar que se está imune a tais mazelas da nossa geração. Vivemos no mesmo contexto. Ter dúvidas, fazer questionamentos, ter incertezas, cometer vários erros, acreditar em utopias... enfim, somos humanos. Um grande passo rumo à maturidade cristã é quando reconhecemos quem somos em nossas fraquezas sem que haja a necessidade de fingimentos, máscaras ou encenações – mesmo que isto escandalize os abutres da fé que bravejam dos pedestais espirituosos engordurados de artificialidade igrejeira.

A maturidade cristã não é um troféu dos que não mais cometem erros, maturidade cristã é o galardão daqueles que conseguem mais facilmente perceber seus próprios erros. Não é a ausência de fraquezas que importa, mas sim a pronta percepção destas fraquezas em nossos corações. Por isto, viver em santidade não é deixar de coexistir em conflito com os desejos carnais que parece perseguirmos por toda a vida (cf. Gl. 5:17); Ser discípulo de Jesus não é viver longe dos desejos egocêntricos que insistem em massagear nossos corações a cada manhã (cf. Mc 10:37); Congregar em uma igreja não é sinônimo de se tornar um vencer invicto que não mais desfruta dos altos e baixos da vida (cf. Fp 4:12). Enfim, caminhar no Caminho (nomenclatura que designava os primeiros cristãos, cf. At. 9:2 e At. 24:14) não é passar a largo do caos do presente mundo, mas sim conseguir permanecer firmes mesmo sabendo quem realmente nós somos.

O grande trunfo da maturidade cristã é quando se entende, sem reservas, que a obra de Deus é feita não por causa de nós, mas sim apesar de nós. O grande presente de Deus a humanidade foi entregar o Seu Filho na cruz, evidenciando nossa incapacidade de saciar a ira de Deus por nós mesmos, por causa do que nós somos (cf. Rm 3:23-24). Aqui se faz necessário uma consideração com fins a não desvirtuarem o real propósito deste artigo – não estamos defendo o pecado com o qual temos que lutar cotidianamente, estamos discursando aqui sobre a natureza pecaminosa, indivisível a nossa existência – é preciso diferenciar tais conceitos. Finalizando, espero que as palavras aqui descritas sirvam para destronizar a tirania da perfeição em nossas igrejas brasileiras e fomentar uma perspectiva de irmandade. Que vislumbramos a operosidade da graça do Senhor do Caminho. 

Fortalecido pela cruz de Cristo,
Vinicius Seabra | vinicius@mtn.org.br


Artigo escrito em: 14 de Julho de 2012