sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Orgulhosamente missionários


“É verdade que alguns pregam a Cristo por inveja e rivalidade, mas outros o fazem de boa vontade. (...) Mas, que importa? O importante é que de qualquer forma, seja por motivos falsos ou verdadeiros, Cristo está sendo pregado, e por isso me alegro. De fato, continuarei a alegrar-me”.
Filipenses 1:15,18 (NVI)

O modelo missionário que o Brasil mais conheceu foi aquele que tentava convencer as pessoas pelo sofrimento do outro. Para tanto, usava-se fotos com as mais austeras mazelas e preconceitos humanos. Fome, nudez, negritude, doenças, amputações, pobrezas, rituais bizarros – eram comuns nos slides de retroprojetores das décadas de 1990 (não mudou muito para o slide de data show contemporâneo). Entendia-se que fazer missões era ir, somente, para lugares paupérrimos. Este sentimento já vinha carregado de uma superioridade que minava as bases da missão. Estes foram nossos dois principais erros missiológicos na década de 1990: 1) iludir-se que as pessoas serão convencidas pela sensação do sofrimento do outro, provocando choros que não se sustentavam mais do que o período de liturgia dominical – confundindo sensibilização com conscientização; e 2) acreditar que missões será feita por pessoas superiores aos selvagens tribais (ou urbanos) do campo missionário – divinizando a cultura do missionário e demonizando a cultura do autóctone. Entretanto, atualmente, superamos (ao menos parcialmente) estes deslizes. Contudo, um novo missio-mostro fora criado: o orgulho missionário.

O orgulho missionário é quando o missionário (ou pastor, evangelista, obreiro...) começa a achar que o seu local de atuação é mais importante que os demais locais, que abarcam, complexamente, uma infinidade de situações diferentes e emergentes. É preciso reiterar que missões não se define pela necessidade local, pois missões é mais que ações emergenciais de calamidade pública; missões não se dá por estar fazendo trabalho em comunidades carentes, pois é bem possível trabalhar com os pobres numa manutenção sutil do estado de pobreza; missões não é mensurado pelas estatísticas numéricas, pois a frieza dos números esconde o que habita nos corações que se emaranham com o Evangelho. Portanto, não existe um lugar restritivo para missões - com isto não quero pender para a falácia de que tudo é missões. Entretanto, é preciso que se enxergue missões para além do próprio arraial – é romper o orgulho missionário que habita em mim (você).

Por muitos anos a igreja evangélica tupiniquim demonizou e ridicularizou os trabalhos missionários em países ricos. O resultado foi à perda da fé de inúmeros irmãos, como se estes não precisassem igualmente do Evangelho – é obvio que muitos queriam apenas os cifrões, mas não podemos generalizar. Por muitos anos inferiorizou-se os trabalhos em zonas urbanas convencionais. O resultado foi o encaramujar das pessoas em suas casas e condomínios fechados, como se estes tivessem a condição natural de se aproximar do Evangelho – é óbvio que havia uma certa facilidade de contato com igrejas, mas isto não foi suficiente. Nos últimos 20 anos quando alguém falava de missões era instantâneo condicionar os tais a comunidades pobres no Brasil, África e Índia (e alguns países perseguidos). No auge de nosso orgulho missionário pela janela 10x40, pela Missão Integral e pela Igreja Perseguida, abandonamos os demais locais. Abandonamos nossos bairros, nossas cidades, nossas escolas, nossas locais de trabalho e etc. Abandonamos os locais simples, locais estes sem estereótipos missionários. Abandonamos as várias possibilidades que existiam e extrapolavam nossos discursos missiológicos.

É preciso que se entenda que nem tudo que fazemos é fazer missões, mas é possível (e é necessário) que se faça missões em todos lugares. Inclusive nos lugares que julgamos não haver necessidade. Prioritariamente com as pessoas que acreditamos não precisarem. E, essencialmente com todos que ainda não entenderam o Evangelho, independente de sua condição social, econômica, geográfica e étnica. Que não sejamos orgulhosos ao ponto de achar que o que fazemos é mais importante que o trabalho (missionário) desenvolvido pelo outro, no outro lugar, em outras condições. Missões não se mede pelo grau de dificuldade, nem pela intemperança das adversidades. Que reconheçamos que não somos os únicos que estamos fazendo missões. Há muitos outros que estão com a enxada posta na seara do Senhor. Que não sejamos orgulhosos de achar que somos mais do que realmente somos perante o Carpinteiro. Que não sejamos orgulhosos de achar que somos tão importantes para a Obra que é dEle.

Fortalecido pela cruz de Cristo,
Vinicius Seabra | vs.seabra@gmail.com
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Artigo escrito em: 12 de Fevereiro de 2015

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