“Para a árvore pelo menos há esperança: se é cortada, torna a brotar, e os seus renovos vingam. Suas raízes poderão envelhecer no solo e seu tronco morrer no chão; ainda assim, com o cheiro de água ela brotará e dará ramos como se fosse muda plantada”.
Jó 14:7-9 (NVI)
O Brasil tem feito inúmeras
campanhas contra a Dengue, uma enfermidade causada pela picada de um mosquito
conhecido como Aedes Aegypti. Há
vários casos de pessoas infectadas que não apresentam nenhum sintoma, porém o
tipo mais comum em terras tupiniquins
é Dengue Clássica que é uma forma mais leve da doença e se assemelha à gripe.
Nestes casos os sintomas são febre alta (39° a 40°C), dores de cabeça, cansaço,
dor muscular e nas articulações, indisposição, enjoos, vômitos, manchas
vermelhas na pele, dor abdominal, entre outros. O mosquito nasce e se reproduz
em água parada, limpa, e de preferência em recipientes fabricados pelo homem,
como latas, pneus, vasos etc., dentro ou perto das habitações humanas. Estas
informações são maciçamente disseminadas pela mídia como forma de prevenção e
orientação à população a fim de tentar erradicar ou pelo menos minimizar
possíveis epidemias de Dengue. Paralelamente, e de forma figurativa, a igreja
também está em perigo, pois há um tipo de Dengue
Espiritual que está sendo desenvolvida em algumas igrejas com água parada.
O crente aedes aegypti nasce e se reproduz naquelas igrejas que são
por natureza água parada. Contudo,
diferentemente do criadouro do mosquito que é fácil de detectar por conta da inquestionável
água parada, tal alínea no tipo Dengue
Espiritual é dificílimo de ser diagnosticado, pois há muita agitação nas
igrejas em nome daquele que é a Água Viva. Portanto, se faz necessário
distinguir ações práticas da fé em contraposição a dominical euforia espiritual
coletiva. O clamor do evangelho bíblico é que a fé dos cristãos não seja
simplesmente espiritual, mas principalmente prático, a saber: “...pelas obras a fé foi aperfeiçoada” - Tg.
2:22; “Conheço as tuas obras, e o teu trabalho...” - Ap. 2:2; “...não amemos de
palavra, nem de língua, mas por obra...” - 1 Jo. 3:18. Sendo assim, é desnudado
o pano espiritualístico subjetivo e fica notório que as igrejas com água parada
são aquelas que resumem a fé dos fieis em cultos dominicais, que limitam a
liturgia há alguns clérigos, que minimizam o cristianismo a atos
profético-espirituais, que banham os membros de palavras positivistas e que
geram cristãos com ricos em discursos farisaicos. Portanto, igrejas com água
parada são aquelas que espiritualizam tudo, tornando o evangelho num amuleto
mágico sem implicações práticas para a vida em comunidade.
O crente aedes aegypti só fica batendo asas por ai, vive voando, “distante”
da terra, quando pousam é para picar e enfermar os que estão trabalhando na
seara. Estes são aqueles que não contribuem para a edificação do Reino, mas
sempre tem um discurso positivista engordurado de orgulho espiritualista. Estes
se acham grandes e fortes, mas são apenas mosquitos olhando por cima. Este tipo
de crente, por ser fruto de igrejas de água parada, sempre buscarão outras
igrejas com água parada para poder procriar (leia-se discipular). De certa
forma é fácil encontrar os crentes-agypti’s,
pois estes fogem da prática cristã, preferem apenas um discurso distante.
Entretanto, e aparentemente paradoxal, uma igreja cheia destes mosquitos espirituais pode se passar
despercebido em sua comunidade local, pois se acostumam com os sintomas da
doença (Dengue Espiritual) e já não
sabem distinguir os sãos dos doentes. Aliás, algumas vezes dá a impressão que
quanto mais doente a pessoa está mais provável é que ela seja coroada como
líder do bando – principalmente por causa dos delírios espirituais ocasionado pela alta febre igrejeira.
O triste cenário de igrejas com
água parada que produzem os crentes
aegypti´s são uma realidade no contexto brasileiro. Todavia, é válido
relembrar que estes não se enquadram na proposta de cristianismo desenhada no
Novo Testamento. O padrão de igreja neotestamentária se assemelha a um rio que
tem sua fonte existencial na Água Viva e cujas correntes desaguam para/no
Eterno. É neste modelo de igreja rio que há vida; é neste lugar que a
operosidade da fé se manifesta como refrigério; é neste cristianismo que o
sedento encontra água para lavar seus pecados; é neste ambiente que o simples
escutar do movimento das águas produz cura para a alma cansada. Enfim, como que
vislumbrando uma bandeira de esperança, pode-se afirmar que há vida cristã
longe da água parada. Portanto, o convite é que se aproxime do Rio da Vida.
Ps.: conforme prometido, dedico este artigo
ao Pr. Dalton Rios, pastor da Igreja Evangélica Missionária Maranata em Goiânia
(Go), que durante uma aula no Seminário Evangélico de Teologia da América
Latina deu o “insight” necessário para a presente reflexão.
Fortalecido pela
cruz de Cristo,
Vinicius Seabra | vinicius@mtn.org.br
Artigo escrito em: 30 de Maio de 2010