"Tenham cuidado para que ninguém os escravize a filosofias vãs e enganosas, que se fundamentam nas tradições humanas e nos princípios elementares deste mundo, e não em Cristo".
Colossenses 2:8 (NVI)
[acréscimo de 2015] Este artigo fora escrito em 15 de Abril de 2010, na época fora publicado em outras mídias institucionais. Contudo, passados mais de cinco anos (2015) e por perceber que o referido texto ainda consegue ser contemporâneo frente aos desafios da cristandade tupiniquim, então, optei em (re)posta-lo, na integra, no BLOG (seabravinicius.blogspot.com.br – criado em 2013), mesmo com o evidente distanciamento dos eventos citados no artigo. Abaixo o texto no original (2010), como se segue:
O Império Romano foi um dos mais
notáveis governos que o mundo já conheceu. Entre os diversos feitos, notáveis e
deploráveis, há um em especial que fez de Roma um referencial no que tange a
relação povo-poder, foi a famosíssima e controversa política social denominada
de “panem et circenses, isto é,
Pão e Circo. Basicamente a proposta era distrair as massas com os
espetáculos sangrentos dos gladiadores e simultaneamente distribuir pão para os
presentes nas arenas de Roma. Tal política não seria tão maquiavélica se de
fato não encobrisse os problemas de Império em crise. A política do Pão e
Circo surgiu quando o imperador percebeu que estava havendo uma migração
dos camponeses para o centro urbano, porém não havia condições adequadas para atender
as necessidades básicas desta tão grande massa, o que poderia ocasionar
revoltas, reivindicações e rebeliões por todo o Império. Então, para encobrir
tamanha incapacidade resolveu-se distrair a multidão (luta dos gladiadores) e
aplicar medidas paliativas (distribuição de pão). Desta maneira o povo esquecia
que viviam num Império em decadência e as massas ovacionavam os desonestos
imperadores.
Deste
os tempos de Roma até a contemporaneidade a política social do Pão e Circo
nunca mais deixou de ser praticado pelos governos – afinal, é uma estratégia eficaz
aos interesses dos poderosos, pois encanta o povo, desvia o foco das reais
necessidades das massas e ofusca a calamidade existencial. Entretanto, mui
estranho e, demasiadamente assombroso, foi perceber que a religiosidade
neopentecostal brasileira está valendo desta artimanha para fascinar as massas
evangelicais. O Pão e Circo Evangélico é mais maléfico que o praticado
por Roma, pois os “imperadores evangélicos”, a semelhança dos fariseus
bíblicos, estão conduzindo as pessoas há um cristianismo raquítico e artificial
– “Mas ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que fechais aos homens
o reino dos céus; e nem vós entrais nem deixais entrar aos que estão entrando”
– Mt. 23:13. Portanto, como completa Philip Yancey: “A igreja existe, não para
oferecer entreterimento, encorajar vulnerabilidade, melhorar a auto-estima ou
facilitar amizades, mas para adorar a Deus. Se falharmos nisso, a igreja
fracassa”[1].
O
cenário evangélico brasileiro tem sido marcado pelo suposto crescimento das
igrejas e pelos constantes mega shows gospel. Há um em especial que merece
destaque nas linhas que se seguem: “O Dia D – é hora da Decisão”, que
acontecerá no dia 21 de Abril do corrente ano nas principais cidades do Brasil.
Para as massas este é mais um mega show para glorificar a Deus,
vislumbrar uma série de incontáveis milagres e um oportuno momento para
ouvir música gospel de ótima qualidade, de grátis – já que
atualmente na maioria dos demais eventos do gênero os preços de ingressos são
altíssimos. Tudo isto é muito fascinante, imponente e espirituoso. Contudo, ao
contrário daqueles que vão se juntar a multidão no “Coliseu da Fé” no dia 21
Abril, há alguns cristãos pensantes que não são facilmente encantados pela
grandiosidade. Este será um típico Pão e Circo Evangélico, haverá luta
entre homens e demônios, muita euforia musical e alimento “espiritual”
para aqueles que se satisfaz com qualquer coisa.
O dia
21 de Abril será um Pão e Circo Evangélico pelas seguintes razões: 1) Quem
está organizando o evento é Igreja Universal do Reino de Deus (IURD),
instituição que na pessoa de seu líder e outros bispos estão sendo alvo de
diversas investigações criminosas – então, o “Dia D” é uma ótima oportunidade
para conseguir aliados contra a TV Globo e afirmar que tudo que está
acontecendo é fruto de perseguição aos evangélicos; 2) A IURD sempre foi mal
vista pela cristandade brasileira devido a liturgia nada convencional e pelas
técnicas abusivas de coleta de dinheiro – então, o “Dia D” é uma excelente
oportunidade para tornar as heresias mais comum ao povo, o que culminará gradativamente
num sentimento de aceitação; 3) A IURD nunca foi uma igreja que primasse pela
Palavra, sempre foi conhecida pelos milagres, porém nos últimos anos tem
perdido este filão de mercado para outra igreja que é idêntica, a Igreja
Mundial no Poder de Deus – então, o “Dia D” é uma grandiosa oportunidade para reconquistar
a paixão dos crentes cambaleantes que foram hipnotizando pela Igreja Mundial e outra
vez igualmente resumir a fé em milagres.
Há
mais algumas razões que não podem ficar camufladas: 4) A IURD com este evento
nacional está tentando desviar o foco das acusações e processos criminais entretendo
o povo – então, o “Dia D” é uma oportunidade ímpar para fascinar com a grandeza
do evento as cegas massas evangélicas brasileiras; 5) A IURD sabe que
infelizmente as massas evangelicais respeitam uma igreja não pelo caráter
cristão mais sim pelo sucesso de público (numerolatria) – então, o “Dia D” é a
oportunidade perfeita para reunir centenas de milhares de pessoas e assim
mostrar para a mídia que a IURD é forte, paralelamente mostrar para os pastores
de outros ministérios que é mais inteligente se juntar a eles que se oporem; 6)
A IURD sabe que há muitos líderes que fazem qualquer coisa para aumentar o
rebanho – então, o “Dia D” é uma ótima oportunidade para, disfarçado de
manifestação cristã de unidade, conseguir alguns membros para as igrejinhas
locais, assim os líderes destes ministérios serão eternamente cúmplice deste Pão
e Circo Evangélico; e, 7) A IURD não está fazendo este evento para promover
a evangelização, pois a divulgação tem sido numa linguagem tipicamente
evangélica, com “artistas” evangélicos – então, o “Dia D” é uma oportunidade para
bradar em alto som a adoração extravagante, declarar no reino espiritual e
fazer inúmeros atos proféticos positivistas, afinal é disto que o povo crente
gosta.
Enfim,
definitivamente o Brasil é a Roma dos Evangélicos. Somente em terras
tupiniquins o “Coliseu da Fé” reacende suas chamas e outra vez se torna o
centro da vida religiosa das massas. Ali, debaixo da euforia do povo acontece a
morte da razão, o suicídio do bom senso e o exaltação dos imperadores. Na arena
deste vergonhoso Pão e Circo se esconde a igreja brasileira que finge
não ser doente espiritualmente, fraca socialmente, despreparada teologicamente e
imatura biblicamente. Por tudo isto o dia 21 de Abril será de fato o “dia D – é
hora da Decisão” – Decisão de não participar deste pelourinho evangélico; Decisão
de não ir para esta arena circense; Decisão de não se juntar a estes
gladiadores da fé; Decisão de não celebrar estes imperadores eclesiásticos;
Decisão de não aplaudir a morte do cristianismo. Por fim é valido endossar as
palavras de Ricardo Gondim: “Aconselho que os crentes parem de consumir
produtos evangélicos por um tempo. Não compre Cd de música ou de pregação -
inclusive os meus. Deixe os livros evangélicos encalharem nas prateleiras -
idem, para os meus. Depois que baixar a poeira do prejuízo, ficará notória a
diferença entre os que fazem missão e os que só negociam. Não vá a congressos -
inclusive o que eu promovo. Passe ao largo dos ‘louvorzões’...”[2].
Fortalecido pela cruz de Cristo,
Vinicius Seabra | vs.seabra@gmail.com
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[2] Perícope retirada do artigo de autoria do Ricardo Gondim, intitulado: “CONSELHOS PARA
SOBREVIVER AO MUNDO GOSPEL”, disponível no site: www.ricardogondim.com.br