domingo, 29 de novembro de 2015

Da diferença entre música e louvor


“Pois dele, por ele e para ele são todas as coisas. A ele seja a glória para sempre!”
Romanos 11:36 (NVI)

É preciso distinguir entre música e louvor. Por mais que em ambos os casos os pressupostos e parte da teoria possam ser congruentes, ruge a necessidade de distingui-los. Da mesma maneira que se distingue entre música e som, ou da distinção entre música e ruído. Louvor é diferente de música. É imperativo que analise a partir do pressuposto de que somos parte da Igreja, e neste contexto as imagens agregam, sintomaticamente, perspectivas antagônicas às figuras seculares. Por mais que numa foto ambos possam ser mui semelhantes,  na essência são abruptamente opostos. A diferença parte do que somos, pois na Igreja, aquele que quiser ganhar, terá que perder (cf. Mt. 10:39); quem tem duas capanga, terá que dar uma (cf. Lc. 3:11); quem é forte, terá que andar com fracos (cf. Rm. 15:1); quem quiser ser o maior, terá que ser o menor (cf. Mt. 23:11), e assim sucessivamente. Então, se a matriz do Reino é inversa, nada mais sensato que admitir que fazer música não é fazer louvor (e vice versa). Esta inversão de conceitos e fundamentos se dá, única e exclusivamente, pelo fato de que no Reino o Rei é um Carpinteiro, e Este se despiu de Sua glória, mostrando que aqui, no Reino, os valores e significados são outros.

Fazer música e fazer louvor tem lá suas similitudes, porem também tem suas inúmeras limitações. No louvor, esperasse que seja congregacional, isto é, que não se assista alguém cantar/tocar, mas que todos os presentes cantem juntos. Diferente de uma apresentação musical, em que se espera o silêncio da planteia para admirar a performance do músico/cantor. Por estar razão, na Igreja, é preciso cantar músicas que as pessoas saibam cantar, o tom da música tem que ser acessível à maioria e os arranjos tem que favorecer a integração dos presentes. Na igreja, assim como numa apresentação musical, é preciso ter técnica e conhecimento teórico-musical. Contudo, na igreja o mais importante não é a volumosidade técnica, mais sim fazer o melhor, dentro do conhecimento técnico que se tem com fins a facilitar o processo exaltação de Deus, por meio da música congregacional. Qualquer atitude que desconecte alguns do todo converge em pavonice e exibicionismo – distintivos inapropriados a simplicidade do Reino.

Numa apresentação musical, o artista já sobe ao palco com noção integral do inicio, desenvolvimento e fim da canção. Neste caso já se sabe que parte vão se repetir e quantas vezes, segue-se um padrão pré-estabelecido para melhor qualidade técnica da apresentação. Entretanto, na Igreja, as canções não estão postas de forma pré-estabelecida, pois as repetições de estrofes, entre outros detalhes musicais, depende da congregação e do intuito da canção no contexto da comunidade em que se está cantando. Na Igreja as músicas do louvor precisam ter vida coletiva. Ou seja, no louvor é preciso ter uma certa flexibilidade e adaptabilidade, pois afinal, o louvor é congregacional. Outro detalhe é a postura do pessoal que está com os microfones, é preciso ter sensatez para não entrar numa pavocine desnecessária com gesticulações e vestimentas que favorecem a performance de alguns ao invés de coletivizar as canções. Estar com o microfone não é motivo de destaque, apenas serve para amplificação sonora e norte da música junto à comunidade. Então, o propósito do microfone é ajudar, não destacar.

No cenário eclesiástico, os ditos “ministros de louvor” (terminologia que precisaria de uma reconfiguração mais adequada à coletividade) confundem os papéis, pois não poucas vezes “esquecem” de cantar e aventuram-se numa pregação inter musical que estes chamam de ministração (porem mais se assemelham a pagação de sapo grupal ou animação de plateia – em ambas as situações, desnecessárias ao que se propõem a Igreja). Neste quesito, o músico secular, numa apresentação musical, é mais adequado, pois geralmente, músicos tocam música (e cantores, cantam) – o que deveria também ser na igreja: que o momento de louvor, seja louvor. É necessário ainda que se critique a capacidade de discurso bíblico-pastoral destes ditos “ministros de louvor”, pois não é exceção ouvir toda sorte de heresia e aberrações igrejeiras oriundos da boca destes “levitas” (designação inapropriada aos músicos de igrejas). Deixar as pessoas em pé ouvindo um papagaio gospel taguarelar é minar as bases do louvor congregacional.

Na igreja, portanto, o que mais importa, para participar do louvor, não é saber tocar/cantar, pois não se está numa audição. O mais importante é que sejamos cristãos. A grande maioria dos que congregam numa Igreja não tem lá muito conhecimento técnico-musical, sendo assim não estão tão preocupados se o violinista conseguiu fazer aquela nota dificílima, ou se o cantor conseguiu fazer aquela nota com exatidão, ou se o tecladista esqueceu uma nota numa momento qualquer, ou coisa do gênero. Na igreja não estamos para avaliar cantores e músicos, estamos para, juntos, adorar o Carpinteiro por meio da música (é válido destacar que o termo adoração não é próprio da música, portanto, pode-se adorar a Deus, inclusive e preferencialmente, sem música). Obviamente, que este discurso não abre brechas para uma completa anarquia musical e desordem técnica, não sejamos extremistas infantis. O que se propõem aqui é que não se esqueça que estamos numa igreja, não num teatro; que estamos num púlpito, não num palco; que estamos entre irmãos, não entre fãs, que estamos servindo a Deus, não os homens; que estamos louvando coletivamente; não cantando para uma coletividade; enfim, que estamos fazendo louvor, não música.

Fortalecido pela cruz de Cristo,
Vinicius Seabra | vs.seabra@gmail.com
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Artigo escrito em: 28 de Novembro de 2015