segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Casa eles, Deus!


“Mulheres, sujeitem-se a seus maridos, como convém a quem está no Senhor. Maridos, amem suas mulheres e não as tratem com amargura”.
Colossenses 3:18-19 (NVI) 

As fases da vida, não poucas vezes, se resumem em nascer, crescer, casar, ter filhos, envelhecer e morrer. Este ciclo padrão tem potência para ser uma bomba relacional, especialmente nos discursos evangelicais. Na igreja evangélica há um “ministério oculto”, que se resume em fazer de tudo para que os solteiros casem. Esta intenção em si mesma não é o problema em xeque, o real problema é que depositam no casamento uma panaceia para a vida. Isto sim é folclore gospel. Acreditar que tudo se resolve se casar é tonificar as desvirtudes. Depositar no casamento todas as esperanças de reconexão vivencial é entrar em rota de colisão com a desesperança. Achar que os solteiros têm problemas por não serem casados é fingir não entender as causas de ser o que se é. É válido ressaltar que casamento é benção de Deus, mas isto não quer dizer que casar por casar seja benção, pois se pode casar pelas razões erradas.

A pergunta que precisamos fazer é: por que casar? A resposta deveria orbitar e se embasar na plataforma do amor, companheirismo, altruísmo, glorificação a Deus. Fora destas estacas é arriscar-se em terreno demasiadamente escorregadio. E é exatamente neste campo de areia movediça que boa parte dos cristãos está entrando entusiasticamente. Por isto, quando ouvir: “vamos orar para os solteiros casarem”, ou, “fulano precisa é casar”, ou ainda “quando casar tudo vai melhor/resolver”, saiba que este é o sinal de não entre. Há homens que casam por quererem roupa lavada e casa limpa, para estes o melhor é contratar uma diarista. Há mulheres que casam por quererem conquistar sua autonomia, para estas o melhor é arrumarem emprego. Razões erradas para casar não faltam.

O casamento é uma dádiva de Deus, mas pode se tornar numa tormenta se ocasionado pelas matrizes erradas. Para muitos jovens nas igrejas evangélicas o casamento é apenas uma bandeira verde para o sexo, e só. Quando se casa para satisfizer os desejos sexuais, então, não resta espaço para o amor. Para outros jovens nas igrejas evangélicas o casamento é uma fuga da casa dos pais, uma oportunidade para conquistar a independência. Quando isto acontece não resta espaço para compartilhar histórias a dois. Há ainda jovens que se casam pela aventura, estes são inquestionavelmente doidos. Quando isto acontece é apenas questão de tempo para a adrenalina baixar e o relacionamento se tornar enfadonho. Há, também, os que casam por medo de ficar sozinhos (encalhados). Quando isto acontece o casamento se torna uma concessão de favores do outro que salvou o encalhado, sendo assim, não há cumplicidade, e a sensação de rejeição é mais perceptiva. E por fim, há os que casam com a ilusão de que será só os dois (marido e mulher). Ilusão. A verdade é que vem um pacote surpresa chamado família, dos dois lados, que casam juntos (inseparáveis).

Casar pelos motivos errados não garante que tudo vai dar errado, da mesma maneira que casar pelos motivos corretos não garante que tudo vai dar certo. A vida não é simplista, não é matemática, não é causa e efeito. Viver é complexo e inexplicável. E, viver casado é muito mais. Contudo, começar um relacionamento pelas razões erradas é meio caminho andado para o desastre. Por esta razão, fuja das pessoas que querem casar os outros a qualquer custo. Se for pastor é provável que o que ele esteja querendo é apenas fixar as pessoas na igreja, e em breve o referido pastor vai querer que os recém casados tenham filhos para assim fazer a igreja crescer – fuja destes. Se for um “amigo” casado a esbravejar a ordem de casamento veja como é o casamento deste, pois é provável que este “amigo” esteja projetando uma tentativa de ser feliz no outro casamento, pois provavelmente este é infeliz no próprio casamento – fuja destes.

O casamento é uma oportunidade de glorificação de Deus através do amor, partilha, entrega e altruísmo. O casamento é uma maneira que Deus fez para que homens e mulheres aprendam a compartilhar suas próprias vidas. É uma oportunidade de minimizar o egoísmo de se ser humano e reacender a partilha da seiva divina. É reencontrar a vida. É benção. Contudo, cuidado! Há muitos que casaram e ficaram mais sozinhos que antes; que casaram e se tornaram mais egoístas; que casaram e ficaram mais tristes; que casaram e não casaram, de fato. Por tudo isto, se faz imperativo que não escute o canto da sereia que insiste em seduzir as pessoas (especialmente os cristãos) para casarem por casar.

Fortalecido pela cruz de Cristo,
Vinicius Seabra | vs.seabra@gmail.com
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Artigo escrito em: 23 de Fevereiro de 2015

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Orgulhosamente missionários


“É verdade que alguns pregam a Cristo por inveja e rivalidade, mas outros o fazem de boa vontade. (...) Mas, que importa? O importante é que de qualquer forma, seja por motivos falsos ou verdadeiros, Cristo está sendo pregado, e por isso me alegro. De fato, continuarei a alegrar-me”.
Filipenses 1:15,18 (NVI)

O modelo missionário que o Brasil mais conheceu foi aquele que tentava convencer as pessoas pelo sofrimento do outro. Para tanto, usava-se fotos com as mais austeras mazelas e preconceitos humanos. Fome, nudez, negritude, doenças, amputações, pobrezas, rituais bizarros – eram comuns nos slides de retroprojetores das décadas de 1990 (não mudou muito para o slide de data show contemporâneo). Entendia-se que fazer missões era ir, somente, para lugares paupérrimos. Este sentimento já vinha carregado de uma superioridade que minava as bases da missão. Estes foram nossos dois principais erros missiológicos na década de 1990: 1) iludir-se que as pessoas serão convencidas pela sensação do sofrimento do outro, provocando choros que não se sustentavam mais do que o período de liturgia dominical – confundindo sensibilização com conscientização; e 2) acreditar que missões será feita por pessoas superiores aos selvagens tribais (ou urbanos) do campo missionário – divinizando a cultura do missionário e demonizando a cultura do autóctone. Entretanto, atualmente, superamos (ao menos parcialmente) estes deslizes. Contudo, um novo missio-mostro fora criado: o orgulho missionário.

O orgulho missionário é quando o missionário (ou pastor, evangelista, obreiro...) começa a achar que o seu local de atuação é mais importante que os demais locais, que abarcam, complexamente, uma infinidade de situações diferentes e emergentes. É preciso reiterar que missões não se define pela necessidade local, pois missões é mais que ações emergenciais de calamidade pública; missões não se dá por estar fazendo trabalho em comunidades carentes, pois é bem possível trabalhar com os pobres numa manutenção sutil do estado de pobreza; missões não é mensurado pelas estatísticas numéricas, pois a frieza dos números esconde o que habita nos corações que se emaranham com o Evangelho. Portanto, não existe um lugar restritivo para missões - com isto não quero pender para a falácia de que tudo é missões. Entretanto, é preciso que se enxergue missões para além do próprio arraial – é romper o orgulho missionário que habita em mim (você).

Por muitos anos a igreja evangélica tupiniquim demonizou e ridicularizou os trabalhos missionários em países ricos. O resultado foi à perda da fé de inúmeros irmãos, como se estes não precisassem igualmente do Evangelho – é obvio que muitos queriam apenas os cifrões, mas não podemos generalizar. Por muitos anos inferiorizou-se os trabalhos em zonas urbanas convencionais. O resultado foi o encaramujar das pessoas em suas casas e condomínios fechados, como se estes tivessem a condição natural de se aproximar do Evangelho – é óbvio que havia uma certa facilidade de contato com igrejas, mas isto não foi suficiente. Nos últimos 20 anos quando alguém falava de missões era instantâneo condicionar os tais a comunidades pobres no Brasil, África e Índia (e alguns países perseguidos). No auge de nosso orgulho missionário pela janela 10x40, pela Missão Integral e pela Igreja Perseguida, abandonamos os demais locais. Abandonamos nossos bairros, nossas cidades, nossas escolas, nossas locais de trabalho e etc. Abandonamos os locais simples, locais estes sem estereótipos missionários. Abandonamos as várias possibilidades que existiam e extrapolavam nossos discursos missiológicos.

É preciso que se entenda que nem tudo que fazemos é fazer missões, mas é possível (e é necessário) que se faça missões em todos lugares. Inclusive nos lugares que julgamos não haver necessidade. Prioritariamente com as pessoas que acreditamos não precisarem. E, essencialmente com todos que ainda não entenderam o Evangelho, independente de sua condição social, econômica, geográfica e étnica. Que não sejamos orgulhosos ao ponto de achar que o que fazemos é mais importante que o trabalho (missionário) desenvolvido pelo outro, no outro lugar, em outras condições. Missões não se mede pelo grau de dificuldade, nem pela intemperança das adversidades. Que reconheçamos que não somos os únicos que estamos fazendo missões. Há muitos outros que estão com a enxada posta na seara do Senhor. Que não sejamos orgulhosos de achar que somos mais do que realmente somos perante o Carpinteiro. Que não sejamos orgulhosos de achar que somos tão importantes para a Obra que é dEle.

Fortalecido pela cruz de Cristo,
Vinicius Seabra | vs.seabra@gmail.com
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Artigo escrito em: 12 de Fevereiro de 2015