sábado, 30 de janeiro de 2016

Paulo, amor e "Tomates Verdes Fritos"


“Quando eu era menino, falava como menino, pensava como menino e raciocinava como menino. Quando me tornei homem, deixei para trás as coisas de menino”.
1 Coríntios 13:11(NVI)

O ano é 1991, num sábado qualquer, naquela época eu tinha 10 anos de idade. Tudo parecia normal, nós crianças brincando na chácara, os adultos conversando em volta da mesa à espera da sessão de cineminha no fim da tarde, mas... uma das conversas, naquele sábado, se destacou das demais, era acerca de um novo filme que ganhava ares de clássico, chamado: Tomates Verdes Fritos (Universal Pictures). Lá fomos todos nós assistir, obviamente que nós crianças queríamos outro título, mas fomos votos vencidos (na verdade não havia votação, era imposição, coisa de adultos, sabe como é, né?). Ao fim do filme, para aqueles que chegaram ao fim, a sensação era de terem tido uma ótima experiência. Contudo, para nós crianças tudo era muito sem sentido, filme de adulto, dizíamos. Uma coisa ficou claro, o que crianças gostam, adultos não gostam, e vice-versa. Os anos se passaram e ainda algumas cenas do filme me assombram, numa espécie de recall da minha memória “adultizada”.

Tomates Verdes Fritos é coisa de adulto, que sabe que a vida é feita de uma teia de vivências. Vivências estas das quais as crianças são poupadas de compreender, ao menos ainda. Portanto, haverá dias futuros em que Tomates Verdes Fritos ganhará sentido, pois nas palavras de Paulo: “Quando eu era menino, falava como menino, pensava como menino e raciocinava como menino. Quando me tornei homem, deixei para trás as coisas de menino” – 1 Co 13:11. Paulo não faz da infância um saudosismo horrendo, mas coloca a condição de “homem” como um processo inevitável da trajetória chamada vida. Estranho, desejo improvável, é o que propõem James Matthew Barrie, com a Terra do Nunca, em Peter Pan. Paulo sabia que não existiria capitão Gancho, então, era preciso amadurecer, era preciso ser “homem”, era preciso compreender Tomates Verdes Fritos.

O discurso de Paulo, sutra citado acima, é um dos mais referendados capítulos da Bíblia, 1 Co 13, capítulo este que fala sobre o dom de amar. Então, depois que Paulo explica tudo acerca do amor, ele faz a comparação entre ser menino e ser homem (no mesmo capítulo). Esta relação é importante para perceber que Paulo não estava falando de um amor divino, como se escuta por ai, nos rincões gospel – separando o amor em tipos, sendo este um erro exegético comum em solos tupiniquins. Neste sentido, Paulo está deixando claro que amor é o que se espera que haja entre os cristãos, e que sendo assim, o amor é uma atitude intencional e racional. E para Paulo o amor não é fruto de um esforço humano para amar, pois amor é um dom. Portanto, é possível amar ainda que não se queira amar, pois amor é um movimento originário em Deus, que é partilhado aos cristãos. Por isto, amor não pode ser confundido com ser bonzinho, ser caridoso, sentir algo, ter paixão, sentir “tesão”, ter aquela vontade e coisas do gênero. Amor é uma naturalidade do Reino. Não se esforça por amar, não se tem que amar, simplesmente se ama, pois é isto que gente que não mais é “criança” faz. Só entende isto quem entende Tomates Verdes Fritos.

Paulo contraria o senso comum de atrelar às crianças a capacidade de amar, e de contra partida atribuir a maldade ao coração de gente adulta. Para Paulo, amar é coisa de gente grande, gente com uma grandeza cristã tal, capaz de entender que amar é uma condição de apesares, de não pavonice, de não meritocracia, de não por mim. Para Paulo, o que separa homens de meninos, é a capacidade de amar. Amar não como um conceito metafisico sensorial, mas amar como João propõe: “não amemos de palavra, nem de língua, mas por obra e em verdade” - 1 Jo 3:18.  Por isto, amar não pode ser confundido com coisas de crianças: espontaneidade de relacionamentos, facilidade em fazer amigos, facilidade em desemburrar, caridade, afetividade – isto são coisas boas, mas são coisas de crianças, é preciso ir além, é preciso chegar na compreensão/dimensão do amor, lá onde as tais atitudes boas de crianças até podem reaparecer, mas agora engorduradas de intencionalidade e maturidade. Só entende isto que entende Tomates Verdes Fritos.

Enfim, como bem disse o Carpinteiro: “nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros - Jo 13:35. Então, é tipo Tomates Verdes Fritos. Entende?

Fortalecido pela cruz de Cristo,
Vinicius Seabra | vs.seabra@gmail.com
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Artigo escrito em: 30 de Janeiro de 2016