segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Por uma liderança que seja cristã




“Sede também meus imitadores, irmãos, e tende cuidado,
segundo o exemplo que tendes em nós, pelos que assim andam”.
Filipenses 3:17

Nesta última década muito tem se escrito sobre liderança, e tais escritos tem sido assimilado acriticamente pela cristandade evangélica. Contudo, seria no mínimo prudente arrazoar sobre uma releitura de tais ensinos que não poucas vezes tem se mostrado maléficos a Eclésia, e que indubitavelmente tem se despontado como danosos a vida cristã. É axiomático que a Igreja precisa ser ensinada no que tange a liderança, porém e então, que esta seja invariavelmente uma liderança com princípios cristãos. Para tanto, faz-se necessário distinguir entre “liderança secular” e “liderança cristã”. Tal divisão é tão somente ilustrativa, não dualista, pois é notório que há princípios que comungam em ambos, entretanto, há aspectos que se tornam discrepantes demais ao ponto de se tornarem antagônicos entre si.

A liderança secular ensina que a capacitação está automaticamente ligada a melhores salários, ou seja, quanto mais capaz, maior o salário. Não há espaço para altruísmos, os melhores funcionários sempre serão mais caros. Infelizmente, na igreja tal postura tem sido fortemente assimilada, onde os pastores (mesmo os que não são em tempo integral) insistem que é “justo” receberem um alto salário. Daí, os outros líderes também exigem que recebam altos salários sob ameaça de ir congregar em outro ministério em que há uma “gorda” remuneração. É triste perceber que as pessoas estão se vendendo para fazerem algo em prol do (“suposto”) Reino de Deus. Não quer dizer que não possa haver pessoas remuneradas dentro da igreja, contudo, é sábio criticar sobre o porquê se está remunerando.

Na liderança secular é extremamente necessário valer-se do temível artifício denominado “demissão”. O princípio é claro: seja por problemas financeiros, ou por conflitos interpessoais, ou principalmente por incompetência trabalhista lança-se mão das demissões como tentativa de realocar outros que atendam melhor as exigências da empresa. Contudo, deveria ser inadmissível haver demissões de obreiros que atuam no ministério de forma integral. Tristemente, já tem se tornado normal presenciar pastores que exercem a mais de 30 anos o ministério e, agora, simplesmente por serem rotulados de “velhos” estão sendo abandonados (literalmente demitidos). Não se pode demitir um obreiro, pois a igreja é responsável por todos aqueles que intencionalmente se juntam a família cristã. Não há funcionários, mas sim irmãos na fé. A Igreja existe para ser um lugar de restauração, ensino, tolerância e transformação, não um lugar de descarte de vidas.

Nos livros de liderança secular é costumeiramente normal verificar várias páginas abordando a temática da produtividade. Neste tipo de literatura o foco é apresentar técnicas e ferramentas de aumento na produção, sendo assim, a palavra de ordem é crescer. Para estes é inadmissível uma empresa ficar estática quanto ao ritmo de produção.  A igreja assimilou tal posição e sendo assim para muitos lideres eclesiástico o que importa é fazer a igreja crescer. Para muitos líderes pouco influi se as pessoas estão tendo a fé fundamentada em Jesus Cristo, pois afinal, o que vale é ter uma multidão no culto de domingo à noite. Daí não fica difícil encontrar “crentes populacionistas”, que são desapercebidamente fracos na fé, raquíticos na esperança e instáveis espiritualmente. Estes líderes eclesiásticos preferem esquecer que na Igreja é mais importante reproduzir (discipulado) que produzir (populismo).

Os artigos de liderança secular têm passado por uma péssima mutação ideológica, pois em sua grande maioria mais tem se parecido com textos de auto-ajuda e sendo assim a filosofia é somente “vencer”. Os ensinos de liderança secular têm sido banhados por palavras de positivismo e carregado de expressões com “energias boas”. Por isto, a palavra fracasso não faz parte do atual dicionário de liderança. Tristemente, a Igreja Brasileira também assimilou isto. Para muitos lideres eclesiástico a palavra “fracasso” tem sido sinônimo de possessão demoníaca, tal termo é quase que impronunciável nos púlpitos. Entretanto, as grandes lições da vida não são aprendidas no pódio, mas nos acidentes de percurso. Portanto, privar líderes eclesiásticos do temível “fracasso” é fazê-los faltar na principal aula de liderança, aula esta que os tornará maduros e capazes para enfrentar as dificuldades oriundas da arte de liderar. Em termos de liderança eclesiástica vencer é importante, mas ser capaz de permanecer firme em tempos de fracasso é essencial.

Uma liderança cristã se dá quando há sensatez frente às releituras anteriores e que atenda pelo menos cinco requisitos, a saber: 1) Caráter; 2) Vida devocional; 3) Vida familiar saudável; 4) Empatia; e 5) Visão de futuro. O caráter é fundamental na liderança cristã, pois exprime responsabilidade e confiabilidade. Lideres de caráter não se beneficiarão em detrimento de outros, não negociarão a fé pela fama e não comercializarão as ovelhas para os lobos. Vida devocional é outro princípio indispensável para a liderança cristã, pois representa a espiritualidade da pessoa. A igreja está cansada de encontrar lideres que só são espirituais no domingo à noite, urge a necessidade de lideres que sejam cristãos no dia-a-dia. A vida familiar é imprescindível para aqueles que almejam liderar na Igreja, pois infelizmente tem sido fácil enganar as massas, contudo, torna-se impossível manter as máscaras em casa, portanto faz-se necessário ser primeiramente cristão em casa. A empatia é essencial para que líderes cristãos não sejam egoístas e medíocres, mas sim solidários e companheiros. Por fim, cabe ao líder cristão ter visão de futuro e não somente soltar a igreja como se fosse um barco no oceano sem rumo, precisa-se planejar e organizar intencionalmente as ações da igreja e submetê-la sempre a soberana vontade de Deus.

Enfim, e, então, nos lembremos da exortação de Pedro: “Apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força, mas voluntariamente; nem por torpe ganância, mas de ânimo pronto” – I Pe. 5:2.

Fortalecido pela cruz de Cristo,
Vinicius Seabra | vinicius@mtn.org.br

Artigo escrito em: 16 de Março de 2009

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Desventuras cristãs, um restart na fé




“Ó profundidade da riqueza da sabedoria e do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e inescrutáveis os seus caminhos! Quem conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi seu conselheiro? Quem primeiro lhe deu, para que ele o recompense? Pois dele, por ele e para ele são todas as coisas...”.
Romanos 11:33-36 (NVI)

A presente geração tem propagado um evangelho triunfalista onde tudo e todas as coisas sempre têm que dá certo, e quando o inverso acontece há uma demonização do fato, por conseguinte há fuga de realidade depositando numa fantasia neopentecostal a fé e a esperança. Neste novo modelo de ser igreja não há espaço para aqueles que honestamente reconhecem suas fragilidades, dúvidas, fracassos e crises, estes são forçados a se esconderem por detrás das máscaras igrejeiras. Neste cenário surge uma religião em que a sinceridade e o acolhimento não são qualidades desejadas, muito pelo contrário, os que admitem os insucessos, e os que ousam se relacionar com estes categorizados fracassados, são rotulados discriminadamente pelos abrutes da fé que se deliciam com putrefação da carniça evangelical. Tal perspectiva contradiz as mensagens de Jesus Cristo que indubitavelmente optou pelos marginalizados, bem como se mostra contrária a exposição de Paulo aos Romanos quando exorta os fortes a suportar (i.e. dar suporte), consolar e edificar os fracos (cf. Rm 15).

A sociedade cristã pós-moderna tem muito medo do insucesso, isto é passivo de entendimento (mas, não justifica), pois rapidamente se aprende a rotular as pessoas não pelos sucessos, mas sim pelos insucessos, como exemplifica GRABB: “...nossa tendência é de identificar as pessoas pelos seus problemas: ‘você sabia que ele é divorciado?’; ‘ouvi dizer que ela esta tomando Prozac’; ‘eles são os pais do menino da cadeira de rodas’; ‘alguém me disse que ela é lésbica’; ‘ele é do tipo que se esquenta facilmente’ (...) não somos nossos problemas. Não somos nossas feridas. Não somos nossos pecados (...) os rótulos nos fazem crer que nossos problemas nos definem...”. (GRABB, 2000, p. 59). O ser humano, especialmente o religioso, desenvolveu a mesquinha capacidade de nunca se esquecer das mazelas dos outros, e pior, usa de tais desconfortos existências para agredir a fé e a esperança dos que tentam sobreviver aos pés da cruz. Não somos melhores por vencer sempre, não somos mais íntimos de Deus por não errar, não somos superiores aos demais pelas conquistas, não temos mais fé pelo bem que julgamos de nós mesmos, e, não temos o direito de desmerecer os outros pelos dissabores destes.

Neste evangelicalismo tupiniquim engordurado de cobiça egocêntrica se percebe algo mais mortífero que as horrendas pretensões destacadas nos parágrafos anteriores. Aqui se desnuda uma confusão doutrinária entre fé e esperança. Ambas são forças ativas na vida cristã, porém tem funções diferentes. O termo se refere à convicção que advém da obra salvífica de Deus em Cristo na cruz do Calvário, ou seja, se aplica a tudo que tange a vida e obra de Jesus. O termo esperança se refere às expectativas que se tem acerca de que algo de bom aconteça, ou seja, se aplica aos desejos nobres e autênticos da existência humana. Fé e esperança podem caminhar juntas, mas não necessariamente, nem essencialmente. Nesta perspectiva o contrário também é possível, isto é, ter esperança sem ter fé. Veja o seguinte paralelo para clarificar tal pressuposto: Querer um bom emprego é esperança; se contentar com as providências de Deus é fé. Querer encontrar a felicidade é esperança; desejar alegrar o coração de Deus é fé; Querer viver de forma planejada é esperança; viver reconhecendo que Deus dirige os passos é fé; Querer não sofrer é esperança; estar disposto a sofrer por Cristo é fé; Querer ganhar é esperança; não supervalorizar as perdas, pois se tem em Cristo o maior prêmio, isto é fé. Enfim, ter esperança é bom, ter fé fundamental.

Na jornada cristã haverá tempos, e não serão poucos, em que as tempestades, adversidades, confusões, incidentes e acidentes provarão a profundidade e a resistência da fé dos cristãos. Nestes dias a esperança possivelmente não será tão incandescente como outrora. Serão exatamente nestes momentos que cada indivíduo terá que escolher entre fé e esperança, e fincar os dois pés nesta escolha. Se a escolha for pela esperança, pois afinal em dias de desesperança o lógico seria se agarrar a esperança, tristemente e muito provavelmente, estes se frustrarão. Se a escolha for pela , e se esta fé for verdadeira e estabelecida sob Jesus Cristo, então, estes podem até perder a esperança, mas encontrarão refúgio seguro. Afinal, a melhor coisa em dias de desesperança é ter fé. Contudo, não se iluda com as afirmações anteriores, ter fé não é uma panaceia religiosa, pois como assevera CRABB: “Já tive momentos em que me perguntei se minha fé sobreviveria (...) nunca vi o Mar Vermelho se abrir nem o Sol ficar imóvel no céu nem um homem ressuscitar do caixão (...) nem toda pessoa desesperadamente pobre recebe de surpresa um dinheiro no momento certo – às vezes tudo o que chega pelo correio é outra conta. Nem toda pessoa que sofre alguma dor física encontra alívio. Nem toda pessoa angustiada encontra consolo (...) muitas vezes nos surpreendemos negando na prática aquilo que pregamos (...) porque dizemos coisas maiores do que nós mesmos (...) simplesmente não conseguimos ser tudo o que deveríamos ser”. (GRABB, 2000, p. 99, 100, 107).

A certeza de que Deus governa todas as coisas, quer sejam boas ou ruins, e rege-as para o fim que Ele planejou antes da fundação dos tempos, é essencial para compreender que, às vezes, não chegaremos aonde prometemos, não alcançaremos o topo como almejávamos, não iremos tão longe quanto acreditávamos, mas... chegaremos ao lugar exato que Ele quer, pois como afirma Jó após suas desventuras: “Bem sei eu que tudo podes, e que nenhum dos Teus propósitos pode ser impedido (cf. Jó 42:2). Que tenhamos fé nisto! E mesmo que nos falte esperança, que nos agarremos com todas as nossas forças, convicções e intenções a esta verdade: Ele sabe o que está fazendo! Que vivamos em Deus, nos dias de inverno ou nos dias de verão. Não precisamos ser perfeitos, pois jamais conseguiremos, o que nos resta é ter fé nAquele que tudo faz de forma perfeita, como poetisa o cantor Stênio Marcius na canção O Tapeceiro:

“Tapeceiro, grande artista,
Vai fazendo seu trabalho
Incansável, paciente no seu tear

Tapeceiro, não se engana
Sabe o fim desde o começo,
Traça voltas, mil desvios sem perder o fio

Minha vida é obra de tapeçaria,
É tecida de cores alegres e vivas,
Que fazem contraste no meio das cores nubladas e tristes
Se você olha do avesso,
Nem imagina o desfecho
No fim das contas, tudo se explica,
Tudo se encaixa, tudo coopera pro meu bem

Quando se vê pelo lado certo,
Muda-se logo a expressão do rosto,
Obra de arte para Honra e Glória do Tapeceiro

Minha vida é obra de tapeçaria,
É tecida de cores alegres e vivas,
Que fazem contraste no meio das cores nubladas e tristes
Se você olha do avesso,
Nem imagina o desfecho
No fim das contas, tudo se explica,
Tudo se encaixa, tudo coopera pro meu bem

Quando se vê pelo lado certo,
Todas as cores da minha vida
Dignificam a Jesus Cristo, o Tapeceiro”

Fortalecido pela cruz de Cristo,
Vinicius Seabra | vinicius@mtn.org.br
 


Artigo escrito em: 14 de Novembro de 2012

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Bibliografia utilizada neste artigo: GRABB, Larry. O lugar mais seguro da terra. São Paulo: Mundo Cristão, 2000.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Entre prosa, viola e um Jesus acessível



  
“Jesus ia passando por todas as cidades e povoados, ensinando nas sinagogas, pregando as boas novas do Reino e curando todas as enfermidades e doenças. Ao ver as multidões, teve compaixão delas, porque estavam aflitas e desamparadas, como ovelhas sem pastor.  Então disse aos seus discípulos: "A seara é grande, mas os trabalhadores são poucos”.
Mateus 9:35-37 (NVI)

A história bíblica revela os passos de Jesus rumo aos improváveis. No relato bíblico são notórias as tais inquietantes contradições do Servo Sofredor que propõem um Evangelho acessível ao povo. O Mestre optou pelos excluídos por saber que estes eram alvos da maravilhosa Graça. O Cristo escolheu fazer das montanhas o seu púlpito predileto de onde exalava compaixão para com as almas cansadas. O Filho propôs o escândalo da cruz sob a certeza de que para os seus ouvintes não haveria outro Caminho para os braços Pai a não ser pelo Calvário. O Carpinteiro escolheu entalhar nos corações dos marginalizados a esperança outrora sufocada. O Rei dos reis se fez da plebe para mostrar a todos que a maior grandeza do Reino é a convicção de que o Grande não despreza os pequenos. O Bom Pastor preferiu ser reconhecido pelos esquecidos. Ele abriu nas estradas empoeiradas um Caminho sobre modo excelente, simples e acessível.

Há aqueles que escolhem Jesus pensando que com o “amuleto-jesus” alcançarão a multidão e se autoafirmação sob seus concorrentes ministeriais. Para estes a multidão é massa de manobra para se atingir os desejos mais horrendos do coração, e do pico do orgulho do ego populista esbravejam que tem em Cristo o que não são como cristãos. Os tais se esquecem de que as multidões sabem aplaudir, mas também sabem gritar “soltem Barrabás”; se esquecem de que as multidões sabem admirar, mas também sabem abandonar “quando se está na cruz”; e, se esquecem de que as multidões sabem ouvir, mas também tem “dificuldade de escutar”. Ao contrario destes abutres da fé, que se acham melhores que as massas, é perceptível que Cristo buscava o povo não pelo prestígio de se ter uma multidão de seguidores, mas por saber que são exatamente os contraditórios, confusos e levianos que mais necessitam da Verdade. Jesus tornou o Evangelho acessível para confrontar as mentiras das massas e principalmente as más intenções dos que desejam as massas. Ele escolheu os piores para que sejam constrangidos e atormentados pelo amor.

O Jesus dos Evangelhos é Aquele da prosa e viola. É Aquele que se senta na roda e compartilha lições da vida para a vida eterna. É Aquele que não espera o momento do sermão dominical para exalar Graça, pois reconhece na informalidade do viver a essência do compartilhar. É Aquele que na simplicidade de um riscar no chão promove libertação frente aos opressores que com pedras nas mãos se acham melhores que os pecadores. É Aquele que num simples pedir de água junto ao poço consegue trazer a tona a Água da Vida e saciar a sequidão interior. É Aquele que olhando para natureza a sua volta percebe o cuidado do Pai pelos seus desde o sustento dos passarinhos até as necessidades das multidões. É Aquele que olha para os desconsertados após um inquestionável fracasso na pescaria e lhes propõem a ir pescarem homens. É Aquele que mesmo após a ressureição quis fazer uma última jantinha com os discípulos e prosear. Este é o Cristo acessível, entendível e comunicável.

Jesus é simples. O Evangelho é simples. Deus é simples. Por isto Ele age de forma simples, porém como afirma Salomão: “Tudo o que aprendi se resume nisto: Deus nos fez simples e direitos, mas nós complicamos tudo” - Eclesiastes 7:29 (NTLH). A confusão começa quando se deseja dimensionar as ações do Cristo como se fossemos donos de nós mesmos, ao invés de simplesmente se assentar na roda e se entregar aos embalos dAquele que é o Autor da Vida. O conflito surge a partir do instante em que se devaneia por ai, perdendo a certeza de que Ele formou cada pessoa deste o ventre materno com um propósito mais elevado que só Ele sabe, cabendo a nós apenas assentar perto dEle e aprender com Aquele que é manso e humilde de coração. Então, voltemos a Jesus, simples, de prosa e viola... que abandonemos o farisaísmo que nos promove e reconheçamos que somos a multidão... não somos melhores, não temos mais, não somos bons, não somos merecedores, ainda não entendemos muita coisa, não somos ninguém... ainda há muito para se aprender, transformar e confrontar... que nos reclinemos a Ele...

Fortalecido pela cruz de Cristo,
Vinicius Seabra | vinicius@mtn.org.br

Artigo escrito em: 05 de Novembro de 2012

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Um lugar para pescadores


E, depois de terem jantado, disse Jesus a Simão Pedro: Simão, filho de Jonas, amas-me mais do que estes? E ele respondeu: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe: Apascenta os meus cordeiros.
João 21:15r

"E, depois de terem jantado, disse Jesus a Simão Pedro: Simão, filho de Jonas, amas-me mais do que estes? E ele respondeu: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe: Apascenta os meus cordeiros".
João 21:15 (NVI) 

O evangelho segundo Lucas registra no capítulo cinco a história de um pescador chamado Simão Pedro, ou simplesmente Pedro, como o Carpinteiro costumava chamá-lo. Ali estavam eles, em um dia qualquer de pescaria, na beira da praia do Mar da Galiléia, limpando as redes depois de uma noite inteira de pescaria sem sucesso. Contudo, a poucos metros dali estava Jesus Cristo ensinando as multidões, e naquela manhã o barco de Pedro se tornou o palco ideal para mais uma das várias pregações do Carpinteiro.

O relato do evangelho de Lucas não explicita o teor do ensino de Cristo naquela manhã, porém baseado no cenário que o texto monta não seria difícil imaginar que talvez esta conversa tenha sido sobre pescaria. Naquele dia, pescar peixes seria apenas um detalhe na história, pois a bem da verdade Cristo estava pescando os corações, especialmente o de Pedro. Ali na beira do lago de Genesaré aconteceu o primeiro encontro entre Jesus Cristo, o pescador de vidas, e Pedro, um futuro pescador de vidas.

O Carpinteiro-Pescador incitou alguns daqueles presentes para levarem novamente os barcos para o alto mar e assim presenciaram uma das maiores pescarias até então registradas, ao ponto de os barcos quase irem a pique. Depois de pegarem peixes, era hora de os pescadores se tornarem os peixes da história. Ali em alto mar foi o local escolhido por Jesus para dar uma “fisgada” certeira no coração deles, e os convidou para que a partir daquela manhã eles se tornassem pescadores de homens. A resposta dos pescadores veio assim que eles chegaram novamente à praia, e sem hesitar os pescadores deixaram tudo, e seguiram o Grande Pescador.

O ministério terreno de Jesus Cristo foi de aproximadamente três anos. Este foi o tempo suficiente para transformar peixes “cascudos” como Pedro em um esplêndido pescador de vidas. Contudo, o evangelho segundo João no capítulo 21 (o último capítulo deste evangelho) registra que após a morte de Jesus alguns destes pescadores de vidas resolveram voltar a serem apenas pescadores de peixes. E sendo assim, após uns três anos sem pescar, Pedro encabeça a lista dos pescadores que decidiram voltar a cheirar peixes. Contudo, nem a própria morte pode conter o Carpinteiro de Nazaré, e ali estava novamente Jesus a beira da praia esperando seus pescadores voltar.

O Grande Pescador é um mestre por excelência e como que em um feedback repetiu de forma semelhante o cenário, as falas e as próprias pessoas daquele belíssimo dia, há três anos atrás, quando estavam em alto mar e Jesus os chamou para serem pescadores de homens. Desta vez Jesus estava na praia esperando Pedro e os demais voltarem, e dali mesmo Jesus interpela os pescadores sobre se eles tinham pegado algo, mas novamente a resposta foi negativa. E oura vez Jesus repete a lição falando para eles lançarem as redes, e como não poderia ser diferente, veio abarrotada de peixes. Pedro tomado por uma grande explosão de lembranças pulou no mar e foi de encontro ao Carpinteiro-Pescador.

A beira da praia se tornou o lugar perfeito para esta aula da saudade entre Jesus e seus pescadores. Em um dado momento Cristo estreita o diálogo com Pedro e o questiona sobre que tipo de pescador ele quer ser, de peixes ou de homens. Pedro sabia que não poderia mais voltar atrás, ser um pescador de vidas é um caminho que não teria mais volta. A resposta de Pedro foi positiva e Jesus dá uma última orientação: “apascenta minhas ovelhas”, e foi exatamente isto que Pedro fez durante o resto de sua vida como relato o livro de Atos. E nunca mais Pedro voltou a pescar peixe.

Ah! Só para constar como informação, os peixes, as redes e os barcos ficaram lá na praia do mar da Galiléia, se tornaram mero detalhe, pois aqueles pescadores resolveram não mais pescar peixes, mas sim vidas. A prova de que eles tiveram êxito nesta nova função é que formaram outros discípulos-pescadores que ainda hoje pescam vidas pelo mundo inteiro. E se algum dia estes pescadores de vidas se esquecerem de quem são, e voltarem a ser pescadores de peixes, uma certeza perdurará, o Grande Pescador ira novamente “fisgar” seus corações, motivações, razões e irá trazê-los de volta para o lugar onde se conheceram, e ali será um ótimo lugar para se reencontrar como pescador de vidas.

Fortalecido pela cruz de Cristo,
Vinicius Seabra | vinicius@mtn.org.br

Artigo escrito em: 19 de Junho de 2008