quinta-feira, 29 de agosto de 2013

A escolha de Jesus pela cruz


“Nós, porém, pregamos Cristo crucificado, o qual, de fato, é escândalo para os judeus e loucura para os gentios, mas para os que foram chamados, tanto judeus como gregos, Cristo é o poder de Deus e a sabedoria de Deus”.
I Coríntios 1:23-24 (NVI) 

A indústria cinematográfica tem propagado de diversas formas e com diferentes visões a crucificação de Cristo. Na igreja evangélica se tornou “tradição” encenar os últimos momentos da vida de Jesus. Contudo, a discrepância existente entre o relato bíblico e as inúmeras formas visíveis da crucificação tem causado uma confusão horrenda. A cruz nem sempre tem alcançado o verdadeiro sentido motivacional que houve em Cristo. Infelizmente o ser humano tende a não pensar (refletir), apenas engole qualquer interpretação raquítica transmitida pelos meios de comunicação e/ou encenações sobre a crucificação.

O Calvário foi palco de dor e perdão, sofrimento e amor. Ao contrário do que muitos pensam Jesus não foi obrigado, muito menos forçado a morrer pela humanidade. Em nenhum trecho da Bíblia encontramos Cristo lamentando ou murmurando sobre o fato de ser crucificado, pois Ele entendia que este era o propósito do Pai. Na cruz a justiça e o amor de Deus são revelados simultaneamente. A crucificação não foi um erro humano e/ou uma estratégia de Satanás. Jesus sabia que teria que sofrer, ser moído, maltratado para que a humanidade encontrasse o único Caminho e a única Verdade capaz de restaurar o estrago causado pelo pecado.

A igreja tem perdido tempo discutindo sobre quem condenou e tornou possível a crucificação. O objetivo de se achar um culpado é na verdade uma tentativa de aliviar a consciência daqueles “irmãozinhos super espirituais”. Quem entregou Jesus à cruz não foi a traição de Judas, nem a covardia de Pilatos, muito menos a inveja dos sacerdotes, mas sim Deus, por amor a humanidade. A cruz não foi uma troca comercial com o diabo. Ao contrário, o Deus vivo, justo e amoroso se humilhou, assumiu a forma de Filho, se tornou carne, fez-se pecado e maldição por nós, a fim de remir e regenerar a obra prima do Pai, chamada: humanidade.

A idéia de que o diabo ficou feliz pela crucificação de Cristo não tem base bíblica. A consciência de que a vida terrena é passageira, um prelúdio da vida eterna é algo completamente entendida tanto por Jesus como por Satanás. Cristo não veio para reinar na terra (tempo humano), mas por toda a eternidade. A tentativa de mistificar e apimentar a crucificação de Cristo com neuroses emotivas é o reflexo de um cristianismo sucatiado, banal e simplório. Os adeptos a esta linha de pensamento tentam compensar a falta de conhecimento bíblico apelando para os sentimentos instáveis dos ouvintes.

Fortalecido pela cruz de Cristo, 
Vinicius Seabra | vinicius@mtn.org.br  
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Artigo escrito em: 27 de Maio de 2006

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Pregadores nas mãos de um Deus irado

em todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino dos céus, mas apenas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus.
Muitos me dirão naquele dia: ‘Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? Em teu nome não expulsamos demônios e não realizamos muitos milagres? ’
Então eu lhes direi claramente: ‘Nunca os conheci. Afastem-se de mim vocês, que praticam o mal! ’ "

Mateus 7:2

“Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino dos céus, mas apenas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: ‘Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? Em teu nome não expulsamos demônios e não realizamos muitos milagres?’ Então eu lhes direi claramente: ‘Nunca os conheci. Afastem-se de mim vocês, que praticam o mal!’”. 
Mateus 7:21-23 (NVI) 

Há alguns séculos atrás Deus levantou um homem que transformou a perspectiva teológica conhecida até então, chamava-se: Jonathan Edwards (1703-1758). Em 8 de Julho de 1741 em Enfield, Connecticut (Estados Unidos), ele proferiu o famoso sermão: “pecadores nas mãos de um Deus irado”, causando um impacto inesquecível naqueles que ouviram. Atualmente este sermão tem sido publicado em várias línguas, trazendo proveito espiritual a milhares de pessoas em toda parte do mundo.

Do século XVIII até a era presente vários oradores parafrasearam o sermão de Edwards aplicando-o nas mais diversas situações eclesiásticas e teológicas, a exemplo temos: “Deus nas mãos de pecadores irados”, “Pecadores nas mãos de um Deus muito irado” e etc. Contudo, a vivencia na sociedade pós-moderna oriunda dos caprichos do século XXI nos leva a um vislumbre nebuloso de “pregadores nas mãos de um Deus irado”.

A leitura do cenário pós-moderno revela que a desnutrida formação teológica dos pregadores tem contribuído substancialmente para que as heresias e aberrações se tornem rotinas no seio eclesiástico. A raquítica e superficial educação bíblica ministrada nas igrejas só tendem a acentuar o problema. A falta de incentivo hermenêutico por parte da liderança corrobora e acelera as manifestações de abusos ministeriais.

Na “crista da onda” das heresias encontra-se a Teologia da Prosperidade. Pode ser entendida como um conjunto de princípios que afirmam que o cristão verdadeiro tem o direito de obter a felicidade integral, e de exigi-la através de decretos e ordenanças. Segundo os adeptos desta linha de pensamento, Jesus veio ao mundo pregar o Evangelho aos pobres justamente para que eles deixassem de ser pobres.

Tudo começou com Essek William Kenyon (Nova York, EUA, 1867), ex-pastor das igrejas batista, metodista e depois outras de linha pentecostal, que influenciado por idéias de seitas cristãs/metafísicas, desenvolveu estudos que entre outras coisas tratava de: poder da mente, a inexistência das doenças e o poder do pensamento positivo. Posteriormente, entra em cena Kenneth Hagin (Texas, EUA, 1918), discípulo fiel de Kenyon. Sofreu várias enfermidades e pobreza na juventude. Contudo, aos 16 anos diz ter recebido uma revelação quando lia Mc. 11.23,24, entendendo que tudo se pode obter de Deus, desde que confesse em voz alta, nunca duvidando da obtenção da resposta, mesmo que as evidências indiquem o contrário.

Outro problema é que a “Santa Igreja Evangélica” tem pregado doutrinas que assemelham (para não dizer que copiam) das: católico romanas, judaicas, espíritas e até mesmo umbanda. O pior é que os membros, conselhos ministeriais e assembléias gerais parecem fazer vista grossa frente à tamanha distorção bíblica. Em meio a este sincretismo religioso disfarçado de novas estratégias para o crescimento da Igreja percebe-se um estupro dos ensinos de Cristo Jesus. Tal realidade é uma agressão moral ao caráter de Deus.

Os cultos giram em torno de temas como: dinheiro, demônios e enfermidades. Pode-se freqüentemente observar práticas pagãs, bastante comuns no catolicismo popular e mesmo na umbanda, como distribuição de "fitinha da prosperidade", "sal grosso", “sabonete da purificação”, “espada da vitória”, “chaves do sucesso”, “rosas ungidas”, “cruz do triunfo”, lenços, rituais de descarrego com "arruda" para dar sorte, água benta, óleo ungido etc.

A igreja “picadeiro de Jesus” também não fica para traz. Os pregadores só faltam se vestirem de palhaços, pois as piadas e os showzinhos já acontecem normalmente nos púlpitos. O termômetro que ajusta a aceitação do sermão são as gargalhadas eufóricas da platéia. A cada domingo a preocupação é aprender novas piadas para não cansar as pessoas com as mesmas crônicas. O louvor também aproveita o picadeiro aberto para lançar as mais loucas músicas. Assim, o circo está armado e por algumas horas tudo se resume no bem estar dos ouvintes. E Deus? Ah! Deve estar lá na última fileira de bancos apenas olhando e tentando descobrir do que as pessoas tanto riem daquele que deveria ser Seu porta-voz.

A triste realidade de pregadores que inquestionavelmente mais se parecem com animadores de palco tem sido comum, até mesmo nas mais conservadoras denominações. A liturgia dos cultos está sendo assassinada, dando espaço para shows no mínimo esquisitos. As músicas outrora infundidas por Deus sedem espaço para plágios de sucessos do meio secular, mudando apenas a letra para não “escandalizar”. A Escola Bíblica Dominical perde ibope, pois o foco não mais é ensinar, mas sim empolgar as platéias com mega produções impressionistas.

A Igreja “fast-food” é a moda do momento. Os estudo teológicos que antes eram de quatro anos se resumem agora a meros meses. Os ensinos bíblicos sedem lugar para lições levianas da famosa super legalidade hierárquica. O pensar se condiciona à vontade do cacique da Igreja. A reação provocada por atitudes como as mencionadas anteriormente é de fácil percepção. Contudo, a miopia oriunda da falta de educação teológica tem dificultado o amadurecimento eclesiástico.

O terrível diagnóstico pós-moderno eclesiástico não cessa. Talvez, como num golpe final no que ainda restou de dignidade na igreja se contempla um estilo de pregação cada vez mais crescente: os anti-teologia e anti-missões. A falta de incentivo ministerial e financeiro para com os seminaristas retrata o perfil dominador-medroso dos lideres. A decorada justificativa de não se ter recursos para sustentar missionários no campo reflete tão somente o quanto a Igreja está longe do propósito de Deus.

A grande verdade por detrás deste pano de fundo é que Deus tem tolerado a Igreja Evangélica. Haverá um tempo onde o próprio Deus há de intervir derramando juízo sobre os Seus. Quando este dia chegar contemplaremos a apavorante e assombrosa visão de “pregadores nas mãos de um Deus irado”. 

Fortalecido pela cruz de Cristo, 
Vinicius Seabra | vinicius@mtn.org.br 
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Artigo escrito em: 12 de Setembro de 2007

sábado, 17 de agosto de 2013

Frases de efeito para cristãos com defeito


“Todo homem prudente age com base no conhecimento, mas o tolo expõe a sua insensatez. (...) O tolo não tem prazer no entendimento, mas sim em expor os seus pensamentos”.
Provérbios 13:16 e 18:2 (NVI)

Povoando o imaginário evangelical tupiniquim há aquelas frases de efeito que insistem em ocupar as homílias dominicais. São expressões populares que se engorduram com o positivismo protestante. São chavões motivacionais que invariavelmente encontra conforto em corações fragilizados. São discursos tipo teologia de “frases de caminhão”. Esta atitude descontrói a reflexão cristã e não tende a fortalecer a fé que é tão oportuna para o amadurecimento cristão. Estes “dizeres” disseminam uma superficialidade instantânea e consequentemente não fomentam o entendimento bíblico que é essencial para o enraizamento do Cristianismo. Por isto, não seria estrambólico afirmar que quem precisa de frases de efeito são cristãos com defeito.

“Nunca desista!”. Esta é a top das tops no que tange a jargões dos crenteiros. É a combinação perfeita para errar sem limites. Às vezes, a melhor coisa que podemos fazer é desistir. Explico. Não poucas vezes insistimos em sonhos que nada tem haver com a vontade de Deus, e queremos forçar Ele a participar de nossas ambições, tentando convencer o Criador acerca da beleza de nossa insistência. Algumas vezes o mais sensato é desistir e pegar o outro caminho para encontrar a simplicidade do Carpinteiro. Estes cristãos persistentes entendem que fé é sinônimo de insistir muito, se esquecem de que Deus rege toda a história temporal e inconstante da humanidade. Várias vezes, Deus nos conduz para caminhos improváveis, contraditórios, e ininteligíveis a nossa mente. Então, é preciso estar disponível para desistir e redescobrir a força de Deus. Desistir para renascer como Ele quer. Desistir para reconhecer nossa pequenez. Desistir para viver sem máscaras igrejeiras. E, desistir para que Ele seja glorificado.

“Hoje sua vitória vai chegar!”. Com certeza esta é frase mais usual nos cultos dominicais dos crentes extravagantes. É um daqueles clichês que mais produz ilusionismo, frustração e desvia muita gente por ai. Às vezes, a maior vitória que recebemos é não conseguir o que queremos. Explico. Nesta busca por vencer muitos tem se esquecido de que o pódio só tem lugar para no máximo três pessoas, relegando os demais a viverem com o desfortunio do fracasso de não ter conseguido. É neste ambiente de gente desvitoriosa que mais necessita de gente cristã para ombrear, chorar junto, confortar, amar, perdoar, suportar, amparar... recomeçar. Buscar a grandeza da vitória e não enxergar a multidão que está no chão é por definição um vencer desvirtuoso. Talvez, Deus nos renegue o vencer para que aprendamos a olhar para o lado e ver o “outro”. Para que descubramos um vencer que não precisa de pódio. Para que encontremos uma vitória da irmandade. Para que engajemos em tornar possível a vitória do “outro”. Para que nos alegremos em saber que se nós vencermos ou perdermos Ele segue sendo O Vitorioso.

“Quem quer receber uma bênção de Deus hoje, levante a mão | Esse acidente aconteceu porque você deve ter dado brecha | Nós somos um povo que não conhece derrota | Deus abrirá uma porta de emprego para você, meu irmão | Não diga isso. As palavras têm poder!! | Não toque contra o ungido do Senhor | Venha para Jesus e pare de sofrer | Hoje o seu milagre vai chegar”. Enfim, reafirmo (não querendo criar outro bordão crenteiro), são frases de efeito para cristãos com defeito. 

Fortalecido pela cruz de Cristo, 
Vinicius Seabra | vinicius@mtn.org.br 
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Artigo escrito em: 17 de Agosto de 2013

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Trabalhadores, espectadores e atrapalhadores



“Portanto, meus amados irmãos, mantenham-se firmes, e que nada os abale. Sejam sempre dedicados à obra do Senhor, pois vocês sabem que, no Senhor, o trabalho de vocês não será inútil”. 
I Coríntios 15:58 (NVI) 

A efetiva capacidade de trabalhar é um dos critérios de diferenciação entre adultos e crianças. Sendo assim, surge uma relação existencial onde o ser humano trabalha para viver, ou se preferir, vive para trabalhar. Entretanto, independente da forma como se percebe esta relação homem e trabalho, é fato notório que no serviço semanal se resume quase que a totalidade da existência humana, pois é ali que se vive quase, ou até mais, da metade das horas do dia. Por conseguinte, é no ambiente de trabalho que se faz amigos, que se desenvolvem competências e que geram expectativas de vida. Contudo, é neste mesmo ambiente que surgem as decepções uns com os outros, que se acostuma com a mediocridade e que se enterram belíssimos sonhos. Parece antagônico, e é óbvio que o é, pois isto é ser humano – pessoas mutáveis por relacionamentos e influenciáveis por sentimentos.

O complexo universo do trabalhar não é uma característica única do ambiente secular. Contudo, há sempre alguém que, muito ingenuamente, postula que no trabalho eclesiástico (i.e. igreja) tais extremos não existam, porém estes se esquecem de que a igreja é constituída por gente. Portanto, em termos de trabalho todos estão sujeitos às mesmas ações e reações humanas. Por esta razão é que no trabalho (eclesiástico ou secular) há aqueles que dizem fazer melhor acerca do que se está sendo feito, mas nunca o fazem; há aqueles que nada cooperam, mas que sempre se acham indispensáveis; há aqueles que conseguem facilmente apontar o erro dos outros, mas nunca tem coragem de se expor em cargos de liderança. Enfim, sempre há aqueles que trabalham, aqueles que assistem os outros trabalharem e aqueles que atrapalham.

O grande encargo sobre os ombros dos cristãos é conseguirem trabalhar, quer seja no ambiente secular ou no eclesiástico, de forma que os princípios da fé cristã sejam manifestados nas vivências uns com os outros. Isto implica em conseguir continuar trabalhando em silêncio mesmo quando os que atrapalham ficam a esbravejar superioridade, pois “se alguém quiser ser o primeiro, será o último, e servo de todos" (Mc. 9:35); continuar trabalhando mesmo quando os que deveriam ajudar resolvem cruzar os braços e se contentam em assistir o esforço dos que estão na arena, pois “corramos com perseverança a corrida que nos é proposta, tendo os olhos fitos em Jesus, autor e consumador da nossa fé” (Hb. 12:1-2); continuar trabalhando mesmo quando os que estão a volta não reconhecem a dedicação pelos serviços prestados, pois “receberão do Senhor a recompensa da herança. É a Cristo, o Senhor, que vocês estão servindo” (Cl. 3:24).

Enfim, continuar a trabalhar com o mesmo entusiasmo só é possível quando o oficio a ser exercido tem como propósito máximo a exaltação de Deus. E assim, entender que é Ele quem é o patrão, é Ele quem é o dono da Seara, é Ele que no final recompensará cada um conforme aquilo que fez e o que não fez. Portanto, há uma máxima axiomática que se aplica a todo tipo de ofício: o trabalho feito por homens para homens sempre será tormentoso, porém o trabalho feito por homens para Deus, nunca será em vão.

Fortalecido pela cruz de Cristo,
Vinicius Seabra | vinicius@mtn.org.br 
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Artigo escrito em: 13 de Setembro de 2010