terça-feira, 13 de janeiro de 2015

De tradicionais a pentecostais e de pentecostais a tradicionais


"Retendo firme a fiel palavra, que é conforme a doutrina, para que seja poderoso, tanto para admoestar com a sã doutrina, como para convencer os contradizentes”.
Tito 1:9 (ACRF) 

A história recente da inconstante igreja evangélica tupiniquim revela mais um capítulo, no mínimo, bizarro. Percebe-se na atualidade vários tradicionais (“históricos” como gostam de ser chamados) virando pentecostais (“penteca” como não gostam de ser chamados), e o inverso é proporcionalmente verdadeiro, vários “avivados” sendo seduzido pelas Institutas de Calvino. Neste dualismo esquizofrênico emerge um novo tipo de crente brasiliano, um tanto quanto contraditório, demasiadamente entusiasmado com a nova doutrina e orgulhosamente superior aos demais que não atingiram tamanha maturidade. São uma geração de pentecostais-presbiterianos e, igualmente, de históricos-assembleianos. Este novo homus-gospel-tupi-bidoutrinariuns parece estar ganhando destaque e assim apagando o fogo dos celeiros avivalistas, e, também bagunçando o arraial da sã doutrina.

Alguns desavisados poderiam argumentar que o presente momento é resultado da busca por equilíbrio, ou seja, nem tão pentecostal, nem tão histórico. Até poderia ser verdade, se fosse verdade. O que se vê por ai nos guetos evangelicais são assembleianos se trejeitando de presbiteriano - querendo amenizar a predestinação, sufocando os dons para não desorganizar a doutrina litúrgica e fingindo concordar com Calvino para ver se assim é aceito pelos caciques presbiterianos. Do outro lado, temos presbiterianos com arquétipo de assembleiano – querendo ser avivado com moderação, aceitando os dons com ressalvas e papagaiando falar em línguas e decorando orações de celeridades gospeis para ser confundido com um avivalista internacional, tipo o “grandioso superman” Marco Faleciano ou o “espetacular” Silas Malafaia.

Dada às circunstancias descritas anteriormente, partindo do pressuposto que, salvo algumas exceções, que afugentam do estereótipo descritos acima, resta arrazoar que quando um assembleiano vira presbiteriano, então, a situação fica caótica. O problema se dá inicialmente pelo fato destes assembleianos-calvinistas ficarem mais orgulhosos do que por natureza já eram, pois agora esbravejam estar na doutrina correta, estes não se sentem superior, eles têm certeza absoluta que são, pois afinal somente no avatar assembleiano-presbiteriano é que se consegue juntar, num só corpo, a liberdade no Espírito com a doutrina. Estes enfrentam outro problema, que é a (in)conciliação das bases filosóficas-teológicas, dificilmente um assembleiano-presbiteriano vai conseguir aderir, totalmente, a ideias como: eleição incondicional, graça irresistível ou expiação limitada. Então, estes sempre serão estigmatizados como aleijados.

O inverso não é menos assustador, quando presbiterianos viram assembleianos. Neste caso o elemento orgulho já era intrínseco, apenas acentua. Então, o real problema é que estes mutantes presbiterianos-fogo-puro sempre querem continuar defendendo a doutrina calvinista, mesmo habitando em solos arminianos. São, portanto, bastante inconvenientes (chatos, numa linguagem mais adequada). Querem desfrutar de uma liturgia mais livre e espontânea, mas com coerência doutrinária calvinista – o que é incoerente e pouco provável de funcionar; querem calvinizar as pregações avivalistas como se estas fossem fontes de inspiração plena – o que torna um suicídio para a TULIP e provavelmente não saciará a plateia pentecostal. Sendo assim, estes sempre serão vistos como empecilhos para o agir do Espírito.

Enfim, o que estamos presenciando na história brasileira é uma incoerência teológica, não equilíbrio. O que estamos assistindo nos domingos é um sincretismo desordenado de ideias, não tolerância religiosa. O que se percebe são pessoas que de tão perdidas acham que encontraram o lugar certo, não convicção. O que precisamos resgatar é a necessidade de que presbiterianos sejam presbiterianos, e que assembleianos sejam assembleianos - não para dicotomizar a fé, mas sim para trazer identidade; não para categorizar os estilos, mas sim para haver profundidade doutrinaria; não para que haja certos ou errados, mas sim para que haja coerência teológica. E se for preciso mudar (de, para, histórico ou, de, para, pentecostal), que não seja uma forma frankensteinizada de cristão.

Fortalecido pela cruz de Cristo,
Vinicius Seabra | vs.seabra@gmail.com
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Artigo escrito em: 12 de Janeiro de 2015