"Retendo firme a fiel palavra, que é conforme a doutrina, para que
seja poderoso, tanto para admoestar com a sã doutrina, como para convencer os
contradizentes”.
Tito 1:9 (ACRF)
A história recente
da inconstante igreja evangélica tupiniquim revela mais um capítulo, no mínimo,
bizarro. Percebe-se na atualidade vários tradicionais (“históricos” como gostam
de ser chamados) virando pentecostais
(“penteca” como não gostam de ser chamados), e o inverso é proporcionalmente
verdadeiro, vários “avivados” sendo seduzido
pelas Institutas de Calvino. Neste dualismo esquizofrênico emerge um novo tipo
de crente brasiliano, um tanto quanto contraditório, demasiadamente
entusiasmado com a nova doutrina e
orgulhosamente superior aos demais
que não atingiram tamanha maturidade.
São uma geração de pentecostais-presbiterianos e, igualmente, de
históricos-assembleianos. Este novo homus-gospel-tupi-bidoutrinariuns
parece estar ganhando destaque e assim apagando o fogo dos celeiros
avivalistas, e, também bagunçando o arraial da sã doutrina.
Alguns desavisados
poderiam argumentar que o presente momento é resultado da busca por equilíbrio,
ou seja, nem tão pentecostal, nem tão histórico. Até poderia ser verdade, se
fosse verdade. O que se vê por ai nos guetos evangelicais são assembleianos se
trejeitando de presbiteriano - querendo amenizar a predestinação, sufocando os
dons para não desorganizar a doutrina litúrgica e fingindo concordar com
Calvino para ver se assim é aceito pelos caciques presbiterianos. Do outro
lado, temos presbiterianos com arquétipo de assembleiano – querendo ser avivado
com moderação, aceitando os dons com ressalvas e papagaiando falar em línguas e
decorando orações de celeridades gospeis
para ser confundido com um avivalista internacional, tipo o “grandioso superman” Marco Faleciano ou o “espetacular”
Silas Malafaia.
Dada às
circunstancias descritas anteriormente, partindo do pressuposto que, salvo
algumas exceções, que afugentam do estereótipo descritos acima, resta arrazoar
que quando um assembleiano vira
presbiteriano, então, a situação fica caótica. O problema se dá inicialmente
pelo fato destes assembleianos-calvinistas ficarem mais orgulhosos do que por
natureza já eram, pois agora esbravejam estar na doutrina correta, estes não se
sentem superior, eles têm certeza absoluta que são, pois afinal somente no
avatar assembleiano-presbiteriano é que se consegue juntar, num só corpo, a
liberdade no Espírito com a doutrina. Estes enfrentam outro problema, que é a
(in)conciliação das bases filosóficas-teológicas, dificilmente um
assembleiano-presbiteriano vai conseguir aderir, totalmente, a ideias como:
eleição incondicional, graça irresistível ou expiação limitada. Então, estes sempre
serão estigmatizados como aleijados.
O inverso não é
menos assustador, quando presbiterianos viram assembleianos. Neste caso o
elemento orgulho já era intrínseco, apenas acentua. Então, o real problema é
que estes mutantes presbiterianos-fogo-puro sempre querem continuar defendendo
a doutrina calvinista, mesmo habitando em solos arminianos. São, portanto,
bastante inconvenientes (chatos, numa linguagem mais adequada). Querem
desfrutar de uma liturgia mais livre e espontânea, mas com coerência
doutrinária calvinista – o que é incoerente e pouco provável de funcionar;
querem calvinizar as pregações avivalistas como se estas fossem fontes de
inspiração plena – o que torna um suicídio para a TULIP e provavelmente não
saciará a plateia pentecostal. Sendo assim, estes sempre serão vistos como
empecilhos para o agir do Espírito.
Enfim, o que estamos
presenciando na história brasileira é uma incoerência teológica, não
equilíbrio. O que estamos assistindo
nos domingos é um sincretismo desordenado de ideias, não tolerância religiosa.
O que se percebe são pessoas que de tão perdidas acham que encontraram o lugar
certo, não convicção. O que precisamos resgatar é a necessidade de que
presbiterianos sejam presbiterianos,
e que assembleianos sejam
assembleianos - não para dicotomizar a fé, mas sim para trazer identidade; não
para categorizar os estilos, mas sim para haver profundidade doutrinaria; não
para que haja certos ou errados, mas sim para que haja coerência teológica. E
se for preciso mudar (de, para, histórico ou, de, para, pentecostal), que não
seja uma forma frankensteinizada de cristão.
Fortalecido pela cruz de Cristo,
Vinicius Seabra | vs.seabra@gmail.com
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Artigo escrito em: 12 de Janeiro de 2015