terça-feira, 31 de março de 2015

Entre Babilônia, Duas Caras e as mesmas manipulações


“O propósito é que não sejamos mais como crianças, levados de um lado para outro pelas ondas, nem jogados para cá e para lá por todo vento de doutrina e pela astúcia e esperteza de homens que induzem ao erro”.
Efésios 4:14 (NVI)

[acréscimo de 2015] A história se repete, infelizmente, para nossa tristeza (contrapondo o saudoso “para nossa alegria” – interpretação inusitada de Jeferson e Suellen). E diferentemente do clichê popular “mudasse os tamanduás, mas as formigas são as mesmas” – ou vice versa, desta vez os tamanduás e as formigas são as mesmas, porém com um delay de sete anos (2008, novela Duas Caras – 2015, novela Babilônia, ambas da Rede Globo). Mais uma vez os evangélicos são feitos massa de manobra pela demonizante Globo e mais ainda pela espiritualizante Record. Por esta razão, optei por reproduzir nas páginas que se segue um artigo de outrora (2008) intitulado “O Evangelho Duas Cara da Record”. Na época não tinha BLOG, por esta razão somente agora, por ocasião da efervescência religiosa babilônica, optei por posta-lo integralmente no BLOG (seabravinicius.blogspot.com.br – criado em 2013). Conforme se segue:

Há muitos anos o homem descobriu como valer-se da religiosidade das massas em prol do enriquecimento ilícito e individualista. Infelizmente, o ser humano encontrou na fé um caminho para manipular as mentes supersticiosas de uma sociedade religiosamente instável. Criou-se uma crença cega, muda, surda e irracional, depositando a esperança em homens que se revestem de uma capa de autoridade humana e que abafam o silêncio dos humildes com gritos de superioridade espiritual. Percebe-se notoriamente que a figura do simples Carpinteiro como modelo de fé cristã foi substituída pelo glamour dos filhos de Deus que preferem serem erguidos e estampados em outdoors do que se contentar em viver nas sombras da cruz de Cristo.

A religião se tornou a bandeira de guerra no comércio, na política, na família e atualmente (em verdade há muitos anos) se tornou o mais novo trunfo da mídia televisiva. Protagonizando esta vexatória Jihad Gospel (“guerra santa”) encontra-se de um lado a Rede Globo que tenta atingir a Rede Record expondo as infantilidades e extremismos dos evangélicos numa novela intitulada “Duas Caras”. Do outro lado a Rede Record que por sua vez não perdeu tempo e rapidamente elaborou uma tendenciosa reportagem exibida no programa “Domingo Espetacular” do dia 16 de março de 2008. Por detrás desta corrida (guerra) pelo Ibope escondem-se duas maquiavélicas estratégias de luta pelo poder televisivo brasileiro.

A primeira estratégia emana da Rede Globo que tenta ridicularizar os evangélicos por meio da telenovela “Duas Caras”. A lógica aqui é muito simples, pois pelo fato de o dono da Rede Record ser, supostamente, um pastor evangélico tenta-se desmoralizar a crença religiosa do Edir Macedo tendo em vista, paralelamente, desmoralizar a Rede Record. Observa-se que a origem e o núcleo do conflito não é, necessariamente, ridicularizar os evangélicos, mas sim uma jogada estratégica que intencionalmente tenta forçar a opinião pública contra “o bispo”, sua crença, seus valores e seu método religioso que ainda estão camuflados pelo crescimento da Rede Record. O que se lamenta na presente jogada de marketing da Rede Globo é que a religião (e neste momento pouco importa qual religião seja) se tornou o centro deste showzinho antiético sendo, portanto, submetido a um mero meio de manipulação dos telespectadores em detrimento das aspirações dos abutres do capitalismo.

A sutil diferença entre perceber que a Rede Globo não está, em tese, desmoralizando os evangélicos, mas sim desmoralizando uma pessoa (Edir Macedo) e uma emissora concorrente (Rede Record) é o que faz toda a diferença na hora das críticas. Infelizmente, as massas não pensam, especialmente se as referidas massas foram de cunho religioso. Daí é muito mais fácil rotular a Rede Globo como uma emissora anti-evangélica do que encarar os fatos de que nesta luta não há nada de religiosidade, apenas uma luta estritamente humana e midiática. O que se percebe, como espectador da vida religiosa e social, é que os líderes evangélicos estão (conscientes ou não) criando um dualismo como se existisse uma luta espiritual entre a rede Globo (sendo do “diabo”) e a Rede Record (sendo de “Deus”). Contudo, ratifica-se, que nesta guerra da mídia não há nada de religiosidade, apenas aspirações capitalista. O que novamente faz-se merecer o registro de lamento e tristeza ao perceber que a religião está sendo “usada” (abusada) por ambas as partes.

A segunda estratégia emana da Rede Record que tenta manipular a opinião pública dos evangélicos no Brasil usando argumentos nada confiáveis para disseminar uma inquisição e uma “caça as bruxas” contra a Rede Globo. Aqui a lógica não é tão simples, pois há pouco tempo atrás a Igreja Universal do Reino de Deus – IURD (igreja liderada pelo dono da Record) não era bem vista pelos próprios evangélicos, não sendo necessário nem mencionar a imagem negativa que a IURD conquistou perante os adeptos de outras religiões. Agora com uma emissora mais forte no cenário nacional, Edir Macedo está tentando conquistar primeiramente a confiança dos evangélicos, o que tem conseguido muito facilmente. Infelizmente tem sido fácil corromper os fracos lideres evangélicos (que não são todos, apenas uma grande maioria) que negociam a fé desde que tenham uma boa “fatia do bolo” com cobertura de fama, recheado de dinheiro e enfeitado de poder.

O que causa espanto e que promove grande surpresa ao assistir o programa “Domingo Espetacular” apresentado no dia 16 de Março de 2008 é ver que não houve ninguém da IURD se pronunciando contra as cenas da novela “Duas Caras”. Tal atitude mascara uma intenção questionável, pois assim ninguém pensaria que era apenas a IURD (leia-se Rede Record) que estava se levantando contra a Rede Globo, o que produziria um efeito cascata nas demais denominações evangélicas. Ainda no mesmo programa exibido na Rede Record percebe-se algo mais assombroso que foi assistir o discurso de pastores de igreja comprometidas com o evangelho e que aparentemente tem um alto grau de fundamentação de fé serem literalmente “usados” como “pombos correios” da IURD, visando somente desmoralizar a Rede Globo. Esta intenção fica clara quando se assiste a reportagem da Record e percebe-se que foi citado cinco vezes o nome “Rede Globo”, totalizando uma média de uma citação a cada um minuto e meio de reportagem.

O “bispo” Edir Macedo usou da religião para construir a Rede Record e agora quer usar as outras denominações evangélicas como trampolim para chegar ao topo. Não será de admirar se daqui alguns anos a IURD (ou Rede Record) eleger um presidente do Brasil. Entretanto, neste fatídico dia será então celebrado o velório do sistema religioso dos evangélicos no Brasil. A triste possibilidade de os adeptos da IURD serem manipulados é até entendível, porém não deve ser aceitável. Contudo, assistir uma emissora manipular a opinião evangélica brasileira é vergonhoso e revoltante. Existem vários inquietantes pontos de interrogação na frente e atrás da história da IURD e conseqüentemente da história da Rede Record.

As práticas religiosas da IURD sempre foram muito questionadas nos seios da igreja evangélica exatamente por extrapolarem de forma significativa o que convencionalmente e biblicamente se julga ser cristão. Há IURD foi e é muito criticada por valer-se de uma hermenêutica (isto é, interpretação bíblica) um tanto quanto confusa e descontextualizada. Os rituais da IURD explícitos nos programas de televisão sempre ganharam apelidos nada evangélicos como, “boacumba” (um neologismo que faz menção a “macumba”). Em outras palavras, antes da Rede Record ser o que ela é hoje uma grande maioria dos evangélicos não gostavam de ser comparados com os seguidores da IURD. Por isto e muito mais que ainda não foi descoberto, devesse tomar cuidado com o evangelho “duas caras” da Rede Record.

Enfim, a Rede Globo errou, pois não se usa a religião para “agredir” outros concorrentes de mercado. A Rede Record errou, pois tem manipulado a religião (leia-se evangélicos) para derrubar sua principal rival (isto é, Rede Globo). Os líderes evangélicos erraram, pois estão compactuando desta chacina espiritual, onde não há “mocinhos”, apenas “bandidos”. As massas evangélicas erraram, pois não pensaram criticamente antes de aderirem a uma guerra maquiada em religiosidade, mas que em sua essência é corrupta e maléfica a toda e qualquer manifestação religiosa. Enquanto este jogo de “duas caras” continuar acontecendo, todos serão prejudicados, pois sendo assim perdem o respeito, abafam os ideais, arruínam fé e se constroem uma religiosidade não cognitiva e impraticável.

[acréscimo de 2015] Por tudo que fora exposto e por um senso de dignidade protestante que ainda ousa permanecer em meu coração (e de tantos outros) reafirmo que não devemos assistir a novela Babilônia (Globo), e igualmente, é imperativo não assistir a novela “Os Dez Mandamentos” (Record) - ambas são construções intencionais de manipulação dos não-cristãos e principalmente dos cristãos. Reafirmo que precisamos de uma cristandade racional, crítica, evangélica e bíblica que não se silencia frente às malandragens do Edir Macedo e que igualmente não se encanta com as sutilezas culturais advindas dos descendentes do Roberto Marinho. Reafirmo que é possível encontrar o Cristianismo longe da suntuosidade da IURD e do poder dos grupos majoritários da Globo.

Fortalecido pela cruz de Cristo,
Vinicius Seabra | vs.seabra@gmail.com
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Artigo escrito em: 20 de Maio de 2008

sábado, 21 de março de 2015

A morte em saltimbancos e traquinagens


“Porque nunca haverá mais lembrança do sábio do que do tolo; porquanto de tudo, nos dias futuros, total esquecimento haverá. E como morre o sábio, assim morre o tolo!”
 Eclesiastes 2:16 (NVI)

Ah! Dona Morte, nestes tempos de silêncio sei que você está a contemplar a inutilidade e o apego dos mortais a vida. Percebo, então, que você deve saber o dia do gran finale de todos nós, pelo menos é assim que a nós parece. Seria tipo um conchavo da Dona Vida com a Dona Morte, instrumentos estes de adorno ao Rei, que de tão grandioso resolveu se misturar aos viventes como Carpinteiro. Sabe-se o dia de nascimento, e dali vai-se escrevendo as jornadas turbulentas de cada um, com qualquer um, de jeito algum. Para muitos a felicidade está nestes primeiro momentos da vida, com sorrisos fáceis, desapego as glórias, manhas de quem só quer ficar uma pouco mais junto. Afinal, da vida o que se tem é a companhia de viajantes humanos. Para muitos outros a felicidade é dado ao fim da carreira, como que num soluço de descanso da alma para jornadas vacilantes, que de tanto chorar aprenderam a sorrir, que de tanto perder aprenderam a saborear as conquistas cotidianas, mesmo que insignificantes e desprezíveis aos olhos cobiçosos da vida. Ao que parece, para estes, a vida serve como escritas eternas na mente da gente que por cá ficam.

A Dona Morte é astuta, sabe que tem gente que precisa (re)escrever a história nos últimos dias, como que tentando compensar o desperdício da vida que escorreu por entre os dedos daqueles que se acham imortais. Dali, num canto qualquer, fica a Dona Morte a observar, torcendo para que seus convidados sejam capazes de superar tantas histórias ruins e finalizar a carreira com a certeza de que é possível terminar melhor do que começamos. Dona Morte, acho que você nos dá este tempo para que possamos reconciliar, reamar, reencontrar, restabelecer e reconectar. Finalizar a história de gente triste é, por si só, triste demais. Talvez, por isto, você, Dona Morte, nos dá este tempo para que os finais felizes seja no final, sendo portanto, aquilo que lembraremos para todo sempre. Talvez você seja mal interpretada por nós mortais, pois não gostamos de admitir que o silêncio roube-nos as palavras. Contudo, você sabe que um grande final se dá no auge, por mais que isto nos sufoque tanto. Ter com o que se lembrar é o seu maior trunfo, Dona Morte.

A Dona Morte não tende a seguir padrões metodológicos pré-estabelecido, como que numa rotina desvairada e descomedida. Ela sabe que acabar com a vida é uma arte que precisa ser cultivada, precisa ser arquitetada, desenhada e até caricaturada. Dizer fim é tão majestoso quanto dizer começar. E nesta soluvidade (solúvel) da existência que a Dona Morte se diverte tanto, mesmo que fazendo-nos chorar. Resgata dos viventes os sorrisos soltos de crianças que ainda tinham tanto para viver e que agora serão eternizadas infantilmente. Rouba dos mortais os amores intensos de gente que descobriu o significado da existência no outro e que agora terá que aprender a estar só, outra vez. Surrupia dos mais velhos o suspiro de abarcar a insanidade dos mais jovens e que agora terão que encontrar seu próprio caminho sem a guia dos anciões. Solapa dos anônimos a omissão de vidas inteiras que agora serão lembradas no mais profundo do coração de alguém. Tudo isto pode parecer maldade da Dona Morte (e talvez seja, ainda não conseguimos conversar, nossos diálogos sempre foram monólogos), porém a morte é quem agracia nossas temporas histórias.

A Dona Morte não é insensível, ela sabe por fim a dor, mesmo que com a dor indizível da morte, e, sabe eternizar a felicidade, mesmo que emoldurando-a com o sofrimento da morte. Dona Morte é uma artista incansável, rompendo a medíocre visão mnêmica do que a nós fica. Dona Morte vive em saltimbancos e traquinagens, celebrando nossa humanização temporal. Usando de nossas vidas como que cores a embelezar uma história maior, superior, ininteligível a nós, mas cognoscível ao Autor. Tanto a Dona Morte, quanto a Dona Vida, sabem que não são autônomas, mas se divertem quanto podem, cumprindo suas trajetórias, igualmente rascunhadas por Aquele que conhece nossas palavras sem nunca termos dito, conhece nossas dores sem nunca termos gritado e conhece nossas felicidades sem nunca termos agradecido. Enfim, mais uma vez não chegamos a um fim, Dona Morte. E é isto que me fascina tanto em você, pois mesmo com tanto a falar, consegue simplesmente calar (e ficar dai a serelepar). Um dia nos encontraremos, e então faremos o tão aguardado “em diálogos com a morte” (título de referência ao artigo do mesmo autor).

Fortalecido pela cruz de Cristo,
Vinicius Seabra | vs.seabra@gmail.com
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Artigo escrito em: 17 de Março de 2015