quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Por que Jesus me ama?


"Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada? (...) estou convencido de que nem morte nem vida, nem anjos nem demônios, nem o presente nem o futuro, nem quaisquer poderes, nem altura nem profundidade, nem qualquer outra coisa na criação será capaz de nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor.
Romanos 8:35-39 (NVI)
 


“Oh! Por que Jesus me ama? Eu não posso te explicar!” – Harpa Cristã. Este é o trecho de uma música escrita há muitas décadas atrás por Lewi Pethrus (1884-1974) e conhecida no Brasil pela tradução de Paulo Leivas Macalão. Desde sua concepção até a presente geração não creio que alguém ainda tenha conseguido apresentar uma resposta que seja, no mínimo, satisfatória a esta inquietante pergunta: por que Jesus me ama? Tentar entender as razões que levam Jesus a me amar é uma questão indecifrável, porém um sentimento é perfeitamente perceptível: “o Teu amor me constrange” – II Co. 5:14.

Por que Jesus me ama? Eu não posso te explicar, pois sou tão inconstante e freqüentemente me encontro nos labirintos das incertezas. Ainda sim Ele aparece como “lâmpada para meus pés” – Sl. 119:105. Por que Jesus me ama? Eu não posso te explicar, pois sou pecador e indubitavelmente O afronto com minhas infantilidades espirituais. Ainda sim Ele surge como Aquele que “perdoa os pecados e me purifica de toda injustiça” – I Jo. 1:9. Por que Jesus me ama? Eu não posso te explicar, pois mesmo quando subo no palco da vida e escuto os aplausos das multidões, às vezes, parece que está tudo errado. Ainda sim Ele me instrui a perceber que “o coração do homem propõem o seu caminho, mas o Senhor lhe dirige os passos” – Pv. 16:9.

Por que Jesus me ama? Eu não posso te explicar, pois muitas vezes insisto em trilhar caminhos desérticos e distantes. Ainda sim Ele se revela com a promessa de “derramar águas sobre o sedento, e correntes sobre a terra seca” – Is. 44:03. Por que Jesus me ama? Eu não posso te explicar, pois, às vezes, no meu intimo quero lutar e desembainhar a espada da ignorância contra meu próximo. Ainda sim Ele me aconselha: “não por força nem poder, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos” – Zc. 4:6. Por que Jesus me ama? Eu não posso te explicar, pois de vez enquanto me perco na onda da tristeza e me deixo levar até as profundezas da fraqueza intrínseca a minha existência. Ainda sim sou confrontado, pois “nem altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura me separará do amor de Deus, que está em Cristo Jesus” – Rm. 8:39. 

Por que Jesus me ama? Eu não posso te explicar, e tenho certeza que até mesmo vivendo toda a eternidade será pouco para tentar desvendar uma resposta que consiga, ao menos, se aproxima das reais intenções que fazem o coração de Jesus bater no ritmo do amor. Nunca saberei por que Jesus ainda insiste em me amar, porém viverei tentando ser a manifestação deste amor tão incompreensível e desafiadoramente constrangedor. Por isto ainda ecoa a canção de Lewi Pethrus: 

Longe do Senhor, andava, no caminho de horror,
Por Jesus não perguntava, nem queria o Seu amor.

Oh! por que Jesus me ama? Eu não posso te explicar!
Mas, a ti também te chama, pois deseja te salvar!

No juízo não pensava, nem na minha perdição,
Nem minh'alma desejava a eterna Salvação.

Já cansado do pecado, fui aos pés do Salvador,
E ali, caiu o fardo de tristezas e de dor.

Como é maravilhoso pertencer ao meu Jesus!
Ter a graça, o repouso, e ficar ao pé da cruz!
 

Fortalecido pela cruz de Cristo,
Vinicius Seabra | vinicius@mtn.org.br

Artigo escrito em: 02 de Agosto de 2006

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Delírios perfeitamente imperfeitos do vazio



“Percebi ainda outra coisa debaixo do sol: Os velozes nem sempre vencem a corrida; os fortes nem sempre triunfam na guerra; os sábios nem sempre têm comida; os prudentes nem sempre são ricos; os instruídos nem sempre têm prestígio; pois o tempo e o acaso afetam a todos”.
Eclesiastes 9:11 (NVI) 

A vida tem sido marcada por paradoxos infindáveis. Parece que quanto mais próximo das pessoas se está mais longe vivemos um dos outros. Às vezes a solidão parece ser a pessoa mais próxima. O conflito psicológico surge como um conselheiro surdo. As falas se confundem com o silêncio do vento das madrugas escuras e frias. A capacidade humana de humilhar o próximo, expondo inverdades, tornasse a maior arma de defesa para quem está atacando. O dom de amar se estreita no caminho do dom de odiar. A verdade brinca de se esconder para não ser encontrada pelos corações frágeis de um simples mortal.

O fechar dos olhos para enxergar o mais profundo do coração se desdobra em enigmáticos favos de mel. Por conseguinte, em meio a tantas ferroadas pode se encontra o mais puro doce que a humanidade já se deu a conhecer. Todavia, alguns preferem as abelhas, outros o mel. O sonho não acabou, apenas tomou forma. A esperança não enfraqueceu, simplesmente amadureceu. A força não esmoreceu, só tomou impulso para pular mais alto. O paradoxo do vazio realmente enche as vidas cansadas. 

O grande problema da sociedade é fingir não ter problemas. A maior atitude de ousadia é não ter coragem de ousar. O pior sonho é aquele que não dá esperança de sonhar. A vida só tem sentido quando se está vivo. Os caminhos são marcados pelas poeiras do tempo. O presente pode se tornar passado de um futuro periódico. Os sorrisos se perpetuam nas vagas galerias da imaginação. As lágrimas reescrevem uma história que se recusa a dizer “fim”. 

Os gestos incompletos abraçam a amplitude do vazio. As palavras sem sentido começam a ter sentido. A incerteza brinca de gangorra com a certeza, quem sabe um dia destes ambas aprendam a se equilibrar. O coração protesta os últimos suspiros que ainda ventila as brasas do amanhecer. Os gritos de socorro ecoam dos mudos que desistiram de desistir. A música não será esquecida enquanto se puder ouvir: “I have a dream” – Eu tenho um sonho. A linha de chegada é exatamente no mesmo lugar da linha de saída.

No ardor da festa manifesta-se o luto da alegria. Nem tudo está perdido até que seja achado. Coisa nenhuma está no arremate quando se fica cansado de ficar cansado. Nas mais absolutas imperfeições da perfeição se concretiza a pseudo-razão. O querer se torna poder quando não há possibilidade de poder querer. O que há de novo no velho quase sempre é a repetição do filme que se assiste diariamente.

As lanternas do conhecimento clareiam a escuridão da ignorância. O simplesmente ser simples é substituído pelo ser orgulhosamente arrogante. Os limites são rompidos pela busca utópica do lugar nenhum. A fuga das perfeições hodiernas das imperfeições do maravilhoso escândalo humano é um verdadeiro espetáculo. Os bancos das praças estão vazios, não por falta de pessoas, mas sim por falta de tempo dos racionais. 

A mais hilária das crises é promover no âmago dos conflitos a dúvida da crise. Não há porque entender o que não se quer ouvir com o coração. Excêntrico pensar é diagnosticar aquilo que para todos é apenas uma mera perca de tempo. Às marcas de um vazio que preenche. Às sombras de uma luz brilhante. Às margens do deserto. Na mais absoluta solidão, por estar em meio à multidão, pode-se vislumbrar o invisível. Entretanto, tudo parece tão cheio de vazio! 

O mundo dá muitas voltas. Quem perdeu pode ganhar. Quem chorou pode sorrir. Quem estava dormindo pode acordar. O tudo está contido no nada. Portanto, as imperfeições da vida enamoram-se com o perfeito para que enquanto houver vida, vivamos.

Fortalecido pela cruz de Cristo,
Vinicius Seabra | vinicius@mtn.org.br


Artigo escrito em: 25 de Setembro de 2004

sábado, 8 de dezembro de 2012

Sim! Papai Noel existe!


“Seu jejum termina em discussão e rixa, e em brigas de socos brutais. Vocês não podem jejuar como fazem hoje e esperar que a sua voz seja ouvida no alto. Será esse o jejum que escolhi, que apenas um dia o homem se humilhe, incline a cabeça como o junco e se deite sobre pano de saco e cinzas? É isso que vocês chamam jejum, um dia aceitável ao Senhor? O jejum que desejo não é este: soltar as correntes da injustiça, desatar as cordas do jugo, pôr em liberdade os oprimidos e romper todo jugo? Não é partilhar sua comida com o faminto, abrigar o pobre desamparado, vestir o nu que você encontrou, e não recusar ajuda ao próximo? (...) Se você eliminar do seu meio o jugo opressor, o dedo acusador e a falsidade do falar; se com renúncia própria você beneficiar os famintos e satisfizer o anseio dos aflitos, então...”.
Isaías 58:4-10 (NVI)

Nas vésperas do Natal pode se contemplar uma verdadeira odisséia de caridade. Não é muito difícil assistir na televisão campanhas do gênero: “Natal sem fome”, “Natal: criança feliz!”, entre outras campanhas em prol do bem. A realidade natalina definitivamente desestabiliza momentaneamente a comodidade de alguns abastados. Por exemplo, os apresentadores de programas das mais diversas emissoras vestem a roupa de Papai Noel e saem pelas ruas para presentear crianças carentes. Os depoimentos sempre são chocantes: crianças sem amor, sem referenciais, sem esperança, sem vida, sem querer, sem comida, sem bens materiais, sem tantas coisas que a lista se tornaria interminável. Pessoas estas que vêem no Papai Noel a única esperança de, talvez, dias melhores, ou pelo menos a certeza de que há um dia melhor.

O Natal é sempre uma questão polêmica. A mercantilização impregnada na festividade dificulta o diálogo com a religião e, então, confunde a percepção, a sensatez e a realidade. Contudo, acreditar em Papai Noel é algo que sem dúvida alguma desafia a inteligência humana. Todavia... talvez não! Dependendo da cosmovisão do indivíduo o inaceitável é dizer que Papai Noel não exista. Veja o quanto as cartas escritas ao Papai Noel pelas crianças desprovidas de recursos são bem diferentes daquelas escritas por crianças que são herdeiras do capitalismo. Para quem nada tem os pedidos para o Papai Noel quase sempre se limitam a: “uma boneca qualquer”, “um prato de comida”, “uma casa para morar”, “uma escola para estudar”, “uma cama para dormir”, “uma roupa limpa” e outras coisas do gênero que, para a maioria das crianças normais, nunca foi preciso pedir, pois nunca careceram de tais necessidades.

O Papai Noel não existe?! O Natal para a maioria das famílias normais brasileiras se resume basicamente em: presentes, muita comida e por fim, ironicamente, desentendimento entre parentes. Todavia, a verdade é que isto é uma rotina diária para este grupo de pessoas. Para estes o Papai Noel definitivamente não existe! O que se contempla neste Natal é o mesmo que em qualquer outra festividade familiar, apenas maquiada com cores vermelho e branco. Mas, existe outro grupo que dá uma nova roupagem a pergunta: O Papai Noel não existe?! Estes são os desafortunados, e é no Natal a única vez que estes vão comer uma comida decente. A única vez que vão vestir uma roupa limpa. A única vez que inúmeros meninos vão brincar com um carrinho que tenham rodas. A única vez que milhares de meninas vão brincar com bonecas que tenham cabelos e braços. Portanto, como dizer para estas crianças que Papai Noel não existe, se é somente no Natal que elas são tratadas como seres humanos.

O que se está questionando neste artigo não é a origem das festas natalinas. O propósito deste texto não tem nada haver com descobrir as influências malignas ou mensagens subliminares (se é que há!) no Natal. A finalidade deste texto é indagar sobre a assombrosa realidade de que para muitos que estão nas ruas o encontro com o velhinho de vermelho é o único momento que faz valer a pena o viver, é o único momento em que suas dignidades são valorizadas, é a única vez em que estão num nível superior aos dos porcos (referência ao documentário “Ilha das Flores” do cineasta Jorge Furtado, 1989). A filosofia do bom velhinho contrapõe com a filosofia capitalista que apregoa individualismo, silêncio e individualidade – práticas corriqueiras nos outros 364 dias do ano, inclusive nos seios religiosos.  A realidade poderia ser diferente se as instituições religiosas tivessem um programa de assistência social permanente, constante e intencional, contradizendo as ações paliativas por ocasião do Natal. Tristemente para muitas igrejas os pobres são apenas marketing para se conseguir mais verbas governamentais ou sensacionalismo igrejeiro para arrancar mais dinheiro dos fieis.

O Natal é mais profundo que uma mera festividade anual, em verdade extrapola a mediocridade da simples confraternização. Enquanto se brinca de ser Igreja várias pessoas que vivem em estado de vulnerabilidade social preferem acreditar que Papai Noel existe, pois pelo menos uma vez no ano ele sempre vem, ao contrário de muitas igrejas que demoram anos para realizarem algo significativo a favor dos famintos e necessitados. A terrível notícia é que para muitos o Papai Noel existe! O pior é que gradativamente o bom velhinho tem roubado o papel principal que deveria ser de Jesus, pois os seguidores de Cristo parecem estar escondidos em seus mundinhos egocêntricos e espirituais, incapazes de fazer o bem como estilo de vida e como postulado do ser cristão. 

Enfim, temos que concordar, a partir das ausências cristãs, com o compositor Otavio Filho na canção “O Velhinho”, quando afirma: “botei meu sapatinho na janela do quintal, Papai Noel deixou meu presente de Natal... como é que Papai Noel não se esquece de ninguém, seja rico ou seja pobre o velhinho sempre vem, seja rico ou seja pobre o velhinho sempre vem...”. A pergunta que realmente importa é: o velhinho sempre vem, mas... quando a Igreja vem? 

Fortalecido pela cruz de Cristo,
Vinicius Seabra | vinicius@mtn.org.br

Artigo escrito em: 15 de Dezembro de 2007

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

O Senhor do tempo e Seus desígnios temporais


“Para tudo há uma ocasião, e um tempo para cada propósito debaixo do céu: tempo de nascer e tempo de morrer, tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou, tempo de matar e tempo de curar, tempo de derrubar e tempo de construir, tempo de chorar e tempo de rir, tempo de prantear e tempo de dançar, tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntá-las, tempo de abraçar e tempo de se conter, tempo de procurar e tempo de desistir, tempo de guardar e tempo de lançar fora, tempo de rasgar e tempo de costurar, tempo de calar e tempo de falar, tempo de amar e tempo de odiar, tempo de lutar e tempo de viver em paz”.
Eclesiastes 3:1-8 (NVI)

Este artigo é mais um daqueles que se configuram na categoria desabafo pessoal, não tem cunho doutrinário, nem tem a pretensão de ensinar algo, apenas refletir sobre minhas dores, conquistas, frustrações e realizações. Quem sabe tais postulados possam ser congruentes e afins com os que hão de ler as linhas que se seguem e desta maneira produzir algo de bom, pois como diria um antigo professor da minha época de colegial: “existem três tipos de pessoas: as tolas que erram e nunca aprendem, as inteligentes que erram e aprendem, e as sábias que vêem o erro dos outros e aprendem”. Portanto, use este texto para te ajudar a ser um pouco mais sábio(a). Optarei em utilizar a linguagem na primeira pessoa do singular e terei como pano de fundo as vésperas de meu aniversário de 31 anos de idade. Apesar da pouca idade gostaria de puxar uma cadeira e convidar minha alma a repensar sobre os tempos, convidar meu coração para se assentar e escutar as palavras que nunca foram pronunciadas, convidar meu intelecto a se curvar sobre as lágrimas que ensinam mais que as exaustivas aulas expositivas, e, convidar as minhas vivências para um piquenique onde vamos chorar de tanto rir de meus pessimíssimos e rir de tanto chorar de meus otimismos.

Há momentos que paramos e pensamos no que faríamos diferente, pois bem, vamos começar por ai. Com certeza faria muita coisa diferente! Não zombaria de tantas pessoas que me ombrearam na jornada e que por prepotência julguei a mim mesmo melhor que estes só por puro orgulho. Não me apegaria tanto nas coisas que me vieram às mãos, pois estas coisas sem as pessoas são apenas objetos inúteis e que produzem um saudosismo maquiavélico e sombrio. Não lutaria por tantas causas que invariavelmente me afastaram de quem eu sou e me distanciaram dos propósitos de Deus que acredito produzem vida. Não perderiam tanto tempo querendo mostrar para as pessoas o que elas querem que eu seja, pois tal pretensão gera um sentimento de falsidade no mais profundo do meu ser e que de tanto fingir chega o dia em que não mais se sabe quem se é de verdade. Não mataria tantos sonhos em corações inocentes sob a ambição de que cabia a eu aproxima-los da dura realidade da existência, tal alínea só fez o meu mundo ser mais escuro, pois as utopias são tipo luzes que nos faz acreditar em algo maior do que nós mesmos somos. Não correria tanto, pois velocidade sem direção é a certeza de se chegar a lugar nenhum.

Na contra mão do paragrafo anterior há também aqueles momentos que paramos e pensamos no que fizemos certo, no que fizemos de bom, vamos por esta via agora. Cautelosamente afirmo que fiz pouco isto! Escolhi viver em prol do próximo, da fraternidade, da Igreja, isto foi a melhor escolha em minha vida, mesmo reconhecendo que ainda estou muito longe do padrão esperado por Deus, por mim e pela igreja que sirvo como pastor. Optei por passar adiante o pouco que sei, e nestas três décadas de existência pude perceber as grandes árvores que esta sementinha se tornou em outros, obviamente que poderia ter feito mais, porém foi o melhor possível. Constitui família, dedicando tempo no esforço de fazer estes felizes, aprendendo o altruísmo do amar e a arte de perder para que o outro ganhe, porém reconheço que já fui melhor nisto. Fiz um filho, Gabriel, aqui com apenas oito meses de vida, ele me fez entender e me conduziu a praticar os conceitos mais elementares da vida cristã, como amar, doar, sorrir, abraçar, olhar, sentir... elementos estes que reconheço estavam tão distantes do meu coração por causa do que sou (ou, estou sendo). Enfim, estou vivo, isto é bom, pois sobreviver neste mundo já é uma conquista.

Há aqueles momentos que indagamos acerca do que gostaríamos de ter feito, mas que obviamente não fora feito. Vamos por nossos pés neste solo escorregadio agora. Poxa! Queria ter feito muita coisa! Queria ter lido mais poesias, desta maneira teria aprendido a sentir mais e falar menos. Queria ter olhado mais as estrelas, elas sempre me fizerem vislumbrar a grandeza de Deus e a minha pequenez. Queria ter escutado mais meu coração ao invés de tentar me mutilar a fim de adequar-me as expectativas da sociedade, tristemente ambos perderam. Queria ter sido amigo de mais gente, isto me faria ter mais amigos hoje. Queria ter chorado mais, lamentado meus dissabores, aproveitado meus fracassos, porém aprendi a levantar rápido demais e assim mui em breve me esqueço do porque tropecei, o que provavelmente me fará trupicar outras vezes. Queria ter sorrido mais das coisas bobas da vida, mas me tornei sério demais para vivê-las. Queria ter arriscado mais, mesmo que isto me fizesse perder mais, a estabilidade/previsibilidade é um câncer que me consumiu a coragem, me tornei apenas um ser medíocre.

Verdade seja dita, entre o que eu gostaria que fosse e o que é há um hiato intransponível por causa do fator tempo. De fato não posso mudar o passado, ele está eternizado. Só me resta domar o incontível presente e ser assombrado pelo desbravável futuro. Tudo isto digo não como um lamento pessimista, depressivo e frustrante. Não! Definitivamente não! Contudo, preciso ser honesto comigo mesmo e admitir tais fatos descritos nos parágrafos anteriores como forma de reavaliar a mim mesmo. Por isto, diferentemente do que possa parecer não estou desfalecendo, nem desistindo, e muito menos chutando o balde. Com este discurso (leia-se artigo) estou a adorar o “Senhor do tempo” que de forma inexplicável me brinda com mais um ano de vida. A este Deus atemporal que existe ante da eternidade, e que conduz todas as coisas para o fim que apraz a Si próprio, quero bradar minha rendição, humilhação e fraqueza. Tributando a Ele que eu não sou, mas reconhecendo que Ele é o Grande Eu Sou. Desnudando minha alma e a colocando temporalmente num pelourinho de vergonha para que em nada me glorie, mas me conforte nas sombras da Cruz do Calvário.

Ele é o “Senhor do tempo” e entre Seus designíos há tempo para tudo: “tempo de nascer e tempo de morrer, tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou, tempo de matar e tempo de curar, tempo de derrubar e tempo de construir, tempo de chorar e tempo de rir, tempo de prantear e tempo de dançar, tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntá-las, tempo de abraçar e tempo de se conter, tempo de procurar e tempo de desistir, tempo de guardar e tempo de lançar fora, tempo de rasgar e tempo de costurar, tempo de calar e tempo de falar, tempo de amar e tempo de odiar, tempo de lutar e tempo de viver em paz” – cf. Eclesiastes 3:1-8. Não gostaria de viver no tempo de morrer, arrancar o que se plantou, prantear, espalhar as pedras, desistir, lançar fora, rasgar, entre outros tempos do gênero, mas não tenho escolha, assim como você caro leitor. Nas páginas da vida não se escreve apenas com os tempos de plantar, rir, dançar, abraçar, costurar, amar, entre outros tempos de bonança. Por isto não me sinto errado pelas minhas desventuras, só me sinto vivo. A boa notícia é saber que se nesta vida nada é eterno, são apenas tempos, então, as coisas podem inesperadamente e simplesmente mudar. Minha oração tem sido que Deus me guie para aproveitar ao máximo os tempos bons e que Ele, nos tempos difíceis, me dê força para não desfalecer.

É impossível entender os tempos! O Deus Eterno rege a vida de pessoas temporais, desta maneira, eu um mero ser mortal nunca compreenderei os designíos dAquele que não sofre o peso do tempo. Mas... não preciso entender muita coisa, pois afinal sou apenas um servo (i.e. escravo) dEle. Ele é o meu Senhor, confio a Ele os meus passos aplaudíveis e os vacilantes. Ele é minha canção, ofereço a Ele meus louvores de gratidão e de frustração. Ele é meu escudo, descanso debaixo de Seus braços fortes depositando a Ele minha fé e minhas descrenças. Ele é meu porto seguro, atraco nEle o que eu sou e o que não consigo ser. Ele é meu amigo, falo com Ele sobre minhas grandes aspirações e meus grandes pecados. Ele é meu Deus, reconheço que Ele sabe o que está fazendo mesmo quando seus feitos não se encaixam nos meus moldes confortáveis. Ele é o meu Pastor, sei então que nada me faltará quer eu esteja nos pastos verdejantes ou no vale da sombra da morte. É... finalmente reconheço que nunca conseguirei entender muita coisa, e acredito que isto seja pelo fato de eu não ter sido criado para ser senhor do tempo, só faço parte de um tempo.

Fortalecido pela cruz de Cristo,
Vinicius Seabra | vinicius@mtn.org.br

Artigo escrito em: 03 de Dezembro de 2012