quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Por que Jesus me ama?


"Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada? (...) estou convencido de que nem morte nem vida, nem anjos nem demônios, nem o presente nem o futuro, nem quaisquer poderes, nem altura nem profundidade, nem qualquer outra coisa na criação será capaz de nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor.
Romanos 8:35-39 (NVI)
 


“Oh! Por que Jesus me ama? Eu não posso te explicar!” – Harpa Cristã. Este é o trecho de uma música escrita há muitas décadas atrás por Lewi Pethrus (1884-1974) e conhecida no Brasil pela tradução de Paulo Leivas Macalão. Desde sua concepção até a presente geração não creio que alguém ainda tenha conseguido apresentar uma resposta que seja, no mínimo, satisfatória a esta inquietante pergunta: por que Jesus me ama? Tentar entender as razões que levam Jesus a me amar é uma questão indecifrável, porém um sentimento é perfeitamente perceptível: “o Teu amor me constrange” – II Co. 5:14.

Por que Jesus me ama? Eu não posso te explicar, pois sou tão inconstante e freqüentemente me encontro nos labirintos das incertezas. Ainda sim Ele aparece como “lâmpada para meus pés” – Sl. 119:105. Por que Jesus me ama? Eu não posso te explicar, pois sou pecador e indubitavelmente O afronto com minhas infantilidades espirituais. Ainda sim Ele surge como Aquele que “perdoa os pecados e me purifica de toda injustiça” – I Jo. 1:9. Por que Jesus me ama? Eu não posso te explicar, pois mesmo quando subo no palco da vida e escuto os aplausos das multidões, às vezes, parece que está tudo errado. Ainda sim Ele me instrui a perceber que “o coração do homem propõem o seu caminho, mas o Senhor lhe dirige os passos” – Pv. 16:9.

Por que Jesus me ama? Eu não posso te explicar, pois muitas vezes insisto em trilhar caminhos desérticos e distantes. Ainda sim Ele se revela com a promessa de “derramar águas sobre o sedento, e correntes sobre a terra seca” – Is. 44:03. Por que Jesus me ama? Eu não posso te explicar, pois, às vezes, no meu intimo quero lutar e desembainhar a espada da ignorância contra meu próximo. Ainda sim Ele me aconselha: “não por força nem poder, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos” – Zc. 4:6. Por que Jesus me ama? Eu não posso te explicar, pois de vez enquanto me perco na onda da tristeza e me deixo levar até as profundezas da fraqueza intrínseca a minha existência. Ainda sim sou confrontado, pois “nem altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura me separará do amor de Deus, que está em Cristo Jesus” – Rm. 8:39. 

Por que Jesus me ama? Eu não posso te explicar, e tenho certeza que até mesmo vivendo toda a eternidade será pouco para tentar desvendar uma resposta que consiga, ao menos, se aproxima das reais intenções que fazem o coração de Jesus bater no ritmo do amor. Nunca saberei por que Jesus ainda insiste em me amar, porém viverei tentando ser a manifestação deste amor tão incompreensível e desafiadoramente constrangedor. Por isto ainda ecoa a canção de Lewi Pethrus: 

Longe do Senhor, andava, no caminho de horror,
Por Jesus não perguntava, nem queria o Seu amor.

Oh! por que Jesus me ama? Eu não posso te explicar!
Mas, a ti também te chama, pois deseja te salvar!

No juízo não pensava, nem na minha perdição,
Nem minh'alma desejava a eterna Salvação.

Já cansado do pecado, fui aos pés do Salvador,
E ali, caiu o fardo de tristezas e de dor.

Como é maravilhoso pertencer ao meu Jesus!
Ter a graça, o repouso, e ficar ao pé da cruz!
 

Fortalecido pela cruz de Cristo,
Vinicius Seabra | vinicius@mtn.org.br

Artigo escrito em: 02 de Agosto de 2006

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Delírios perfeitamente imperfeitos do vazio



“Percebi ainda outra coisa debaixo do sol: Os velozes nem sempre vencem a corrida; os fortes nem sempre triunfam na guerra; os sábios nem sempre têm comida; os prudentes nem sempre são ricos; os instruídos nem sempre têm prestígio; pois o tempo e o acaso afetam a todos”.
Eclesiastes 9:11 (NVI) 

A vida tem sido marcada por paradoxos infindáveis. Parece que quanto mais próximo das pessoas se está mais longe vivemos um dos outros. Às vezes a solidão parece ser a pessoa mais próxima. O conflito psicológico surge como um conselheiro surdo. As falas se confundem com o silêncio do vento das madrugas escuras e frias. A capacidade humana de humilhar o próximo, expondo inverdades, tornasse a maior arma de defesa para quem está atacando. O dom de amar se estreita no caminho do dom de odiar. A verdade brinca de se esconder para não ser encontrada pelos corações frágeis de um simples mortal.

O fechar dos olhos para enxergar o mais profundo do coração se desdobra em enigmáticos favos de mel. Por conseguinte, em meio a tantas ferroadas pode se encontra o mais puro doce que a humanidade já se deu a conhecer. Todavia, alguns preferem as abelhas, outros o mel. O sonho não acabou, apenas tomou forma. A esperança não enfraqueceu, simplesmente amadureceu. A força não esmoreceu, só tomou impulso para pular mais alto. O paradoxo do vazio realmente enche as vidas cansadas. 

O grande problema da sociedade é fingir não ter problemas. A maior atitude de ousadia é não ter coragem de ousar. O pior sonho é aquele que não dá esperança de sonhar. A vida só tem sentido quando se está vivo. Os caminhos são marcados pelas poeiras do tempo. O presente pode se tornar passado de um futuro periódico. Os sorrisos se perpetuam nas vagas galerias da imaginação. As lágrimas reescrevem uma história que se recusa a dizer “fim”. 

Os gestos incompletos abraçam a amplitude do vazio. As palavras sem sentido começam a ter sentido. A incerteza brinca de gangorra com a certeza, quem sabe um dia destes ambas aprendam a se equilibrar. O coração protesta os últimos suspiros que ainda ventila as brasas do amanhecer. Os gritos de socorro ecoam dos mudos que desistiram de desistir. A música não será esquecida enquanto se puder ouvir: “I have a dream” – Eu tenho um sonho. A linha de chegada é exatamente no mesmo lugar da linha de saída.

No ardor da festa manifesta-se o luto da alegria. Nem tudo está perdido até que seja achado. Coisa nenhuma está no arremate quando se fica cansado de ficar cansado. Nas mais absolutas imperfeições da perfeição se concretiza a pseudo-razão. O querer se torna poder quando não há possibilidade de poder querer. O que há de novo no velho quase sempre é a repetição do filme que se assiste diariamente.

As lanternas do conhecimento clareiam a escuridão da ignorância. O simplesmente ser simples é substituído pelo ser orgulhosamente arrogante. Os limites são rompidos pela busca utópica do lugar nenhum. A fuga das perfeições hodiernas das imperfeições do maravilhoso escândalo humano é um verdadeiro espetáculo. Os bancos das praças estão vazios, não por falta de pessoas, mas sim por falta de tempo dos racionais. 

A mais hilária das crises é promover no âmago dos conflitos a dúvida da crise. Não há porque entender o que não se quer ouvir com o coração. Excêntrico pensar é diagnosticar aquilo que para todos é apenas uma mera perca de tempo. Às marcas de um vazio que preenche. Às sombras de uma luz brilhante. Às margens do deserto. Na mais absoluta solidão, por estar em meio à multidão, pode-se vislumbrar o invisível. Entretanto, tudo parece tão cheio de vazio! 

O mundo dá muitas voltas. Quem perdeu pode ganhar. Quem chorou pode sorrir. Quem estava dormindo pode acordar. O tudo está contido no nada. Portanto, as imperfeições da vida enamoram-se com o perfeito para que enquanto houver vida, vivamos.

Fortalecido pela cruz de Cristo,
Vinicius Seabra | vinicius@mtn.org.br


Artigo escrito em: 25 de Setembro de 2004

sábado, 8 de dezembro de 2012

Sim! Papai Noel existe!


“Seu jejum termina em discussão e rixa, e em brigas de socos brutais. Vocês não podem jejuar como fazem hoje e esperar que a sua voz seja ouvida no alto. Será esse o jejum que escolhi, que apenas um dia o homem se humilhe, incline a cabeça como o junco e se deite sobre pano de saco e cinzas? É isso que vocês chamam jejum, um dia aceitável ao Senhor? O jejum que desejo não é este: soltar as correntes da injustiça, desatar as cordas do jugo, pôr em liberdade os oprimidos e romper todo jugo? Não é partilhar sua comida com o faminto, abrigar o pobre desamparado, vestir o nu que você encontrou, e não recusar ajuda ao próximo? (...) Se você eliminar do seu meio o jugo opressor, o dedo acusador e a falsidade do falar; se com renúncia própria você beneficiar os famintos e satisfizer o anseio dos aflitos, então...”.
Isaías 58:4-10 (NVI)

Nas vésperas do Natal pode se contemplar uma verdadeira odisséia de caridade. Não é muito difícil assistir na televisão campanhas do gênero: “Natal sem fome”, “Natal: criança feliz!”, entre outras campanhas em prol do bem. A realidade natalina definitivamente desestabiliza momentaneamente a comodidade de alguns abastados. Por exemplo, os apresentadores de programas das mais diversas emissoras vestem a roupa de Papai Noel e saem pelas ruas para presentear crianças carentes. Os depoimentos sempre são chocantes: crianças sem amor, sem referenciais, sem esperança, sem vida, sem querer, sem comida, sem bens materiais, sem tantas coisas que a lista se tornaria interminável. Pessoas estas que vêem no Papai Noel a única esperança de, talvez, dias melhores, ou pelo menos a certeza de que há um dia melhor.

O Natal é sempre uma questão polêmica. A mercantilização impregnada na festividade dificulta o diálogo com a religião e, então, confunde a percepção, a sensatez e a realidade. Contudo, acreditar em Papai Noel é algo que sem dúvida alguma desafia a inteligência humana. Todavia... talvez não! Dependendo da cosmovisão do indivíduo o inaceitável é dizer que Papai Noel não exista. Veja o quanto as cartas escritas ao Papai Noel pelas crianças desprovidas de recursos são bem diferentes daquelas escritas por crianças que são herdeiras do capitalismo. Para quem nada tem os pedidos para o Papai Noel quase sempre se limitam a: “uma boneca qualquer”, “um prato de comida”, “uma casa para morar”, “uma escola para estudar”, “uma cama para dormir”, “uma roupa limpa” e outras coisas do gênero que, para a maioria das crianças normais, nunca foi preciso pedir, pois nunca careceram de tais necessidades.

O Papai Noel não existe?! O Natal para a maioria das famílias normais brasileiras se resume basicamente em: presentes, muita comida e por fim, ironicamente, desentendimento entre parentes. Todavia, a verdade é que isto é uma rotina diária para este grupo de pessoas. Para estes o Papai Noel definitivamente não existe! O que se contempla neste Natal é o mesmo que em qualquer outra festividade familiar, apenas maquiada com cores vermelho e branco. Mas, existe outro grupo que dá uma nova roupagem a pergunta: O Papai Noel não existe?! Estes são os desafortunados, e é no Natal a única vez que estes vão comer uma comida decente. A única vez que vão vestir uma roupa limpa. A única vez que inúmeros meninos vão brincar com um carrinho que tenham rodas. A única vez que milhares de meninas vão brincar com bonecas que tenham cabelos e braços. Portanto, como dizer para estas crianças que Papai Noel não existe, se é somente no Natal que elas são tratadas como seres humanos.

O que se está questionando neste artigo não é a origem das festas natalinas. O propósito deste texto não tem nada haver com descobrir as influências malignas ou mensagens subliminares (se é que há!) no Natal. A finalidade deste texto é indagar sobre a assombrosa realidade de que para muitos que estão nas ruas o encontro com o velhinho de vermelho é o único momento que faz valer a pena o viver, é o único momento em que suas dignidades são valorizadas, é a única vez em que estão num nível superior aos dos porcos (referência ao documentário “Ilha das Flores” do cineasta Jorge Furtado, 1989). A filosofia do bom velhinho contrapõe com a filosofia capitalista que apregoa individualismo, silêncio e individualidade – práticas corriqueiras nos outros 364 dias do ano, inclusive nos seios religiosos.  A realidade poderia ser diferente se as instituições religiosas tivessem um programa de assistência social permanente, constante e intencional, contradizendo as ações paliativas por ocasião do Natal. Tristemente para muitas igrejas os pobres são apenas marketing para se conseguir mais verbas governamentais ou sensacionalismo igrejeiro para arrancar mais dinheiro dos fieis.

O Natal é mais profundo que uma mera festividade anual, em verdade extrapola a mediocridade da simples confraternização. Enquanto se brinca de ser Igreja várias pessoas que vivem em estado de vulnerabilidade social preferem acreditar que Papai Noel existe, pois pelo menos uma vez no ano ele sempre vem, ao contrário de muitas igrejas que demoram anos para realizarem algo significativo a favor dos famintos e necessitados. A terrível notícia é que para muitos o Papai Noel existe! O pior é que gradativamente o bom velhinho tem roubado o papel principal que deveria ser de Jesus, pois os seguidores de Cristo parecem estar escondidos em seus mundinhos egocêntricos e espirituais, incapazes de fazer o bem como estilo de vida e como postulado do ser cristão. 

Enfim, temos que concordar, a partir das ausências cristãs, com o compositor Otavio Filho na canção “O Velhinho”, quando afirma: “botei meu sapatinho na janela do quintal, Papai Noel deixou meu presente de Natal... como é que Papai Noel não se esquece de ninguém, seja rico ou seja pobre o velhinho sempre vem, seja rico ou seja pobre o velhinho sempre vem...”. A pergunta que realmente importa é: o velhinho sempre vem, mas... quando a Igreja vem? 

Fortalecido pela cruz de Cristo,
Vinicius Seabra | vinicius@mtn.org.br

Artigo escrito em: 15 de Dezembro de 2007

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

O Senhor do tempo e Seus desígnios temporais


“Para tudo há uma ocasião, e um tempo para cada propósito debaixo do céu: tempo de nascer e tempo de morrer, tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou, tempo de matar e tempo de curar, tempo de derrubar e tempo de construir, tempo de chorar e tempo de rir, tempo de prantear e tempo de dançar, tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntá-las, tempo de abraçar e tempo de se conter, tempo de procurar e tempo de desistir, tempo de guardar e tempo de lançar fora, tempo de rasgar e tempo de costurar, tempo de calar e tempo de falar, tempo de amar e tempo de odiar, tempo de lutar e tempo de viver em paz”.
Eclesiastes 3:1-8 (NVI)

Este artigo é mais um daqueles que se configuram na categoria desabafo pessoal, não tem cunho doutrinário, nem tem a pretensão de ensinar algo, apenas refletir sobre minhas dores, conquistas, frustrações e realizações. Quem sabe tais postulados possam ser congruentes e afins com os que hão de ler as linhas que se seguem e desta maneira produzir algo de bom, pois como diria um antigo professor da minha época de colegial: “existem três tipos de pessoas: as tolas que erram e nunca aprendem, as inteligentes que erram e aprendem, e as sábias que vêem o erro dos outros e aprendem”. Portanto, use este texto para te ajudar a ser um pouco mais sábio(a). Optarei em utilizar a linguagem na primeira pessoa do singular e terei como pano de fundo as vésperas de meu aniversário de 31 anos de idade. Apesar da pouca idade gostaria de puxar uma cadeira e convidar minha alma a repensar sobre os tempos, convidar meu coração para se assentar e escutar as palavras que nunca foram pronunciadas, convidar meu intelecto a se curvar sobre as lágrimas que ensinam mais que as exaustivas aulas expositivas, e, convidar as minhas vivências para um piquenique onde vamos chorar de tanto rir de meus pessimíssimos e rir de tanto chorar de meus otimismos.

Há momentos que paramos e pensamos no que faríamos diferente, pois bem, vamos começar por ai. Com certeza faria muita coisa diferente! Não zombaria de tantas pessoas que me ombrearam na jornada e que por prepotência julguei a mim mesmo melhor que estes só por puro orgulho. Não me apegaria tanto nas coisas que me vieram às mãos, pois estas coisas sem as pessoas são apenas objetos inúteis e que produzem um saudosismo maquiavélico e sombrio. Não lutaria por tantas causas que invariavelmente me afastaram de quem eu sou e me distanciaram dos propósitos de Deus que acredito produzem vida. Não perderiam tanto tempo querendo mostrar para as pessoas o que elas querem que eu seja, pois tal pretensão gera um sentimento de falsidade no mais profundo do meu ser e que de tanto fingir chega o dia em que não mais se sabe quem se é de verdade. Não mataria tantos sonhos em corações inocentes sob a ambição de que cabia a eu aproxima-los da dura realidade da existência, tal alínea só fez o meu mundo ser mais escuro, pois as utopias são tipo luzes que nos faz acreditar em algo maior do que nós mesmos somos. Não correria tanto, pois velocidade sem direção é a certeza de se chegar a lugar nenhum.

Na contra mão do paragrafo anterior há também aqueles momentos que paramos e pensamos no que fizemos certo, no que fizemos de bom, vamos por esta via agora. Cautelosamente afirmo que fiz pouco isto! Escolhi viver em prol do próximo, da fraternidade, da Igreja, isto foi a melhor escolha em minha vida, mesmo reconhecendo que ainda estou muito longe do padrão esperado por Deus, por mim e pela igreja que sirvo como pastor. Optei por passar adiante o pouco que sei, e nestas três décadas de existência pude perceber as grandes árvores que esta sementinha se tornou em outros, obviamente que poderia ter feito mais, porém foi o melhor possível. Constitui família, dedicando tempo no esforço de fazer estes felizes, aprendendo o altruísmo do amar e a arte de perder para que o outro ganhe, porém reconheço que já fui melhor nisto. Fiz um filho, Gabriel, aqui com apenas oito meses de vida, ele me fez entender e me conduziu a praticar os conceitos mais elementares da vida cristã, como amar, doar, sorrir, abraçar, olhar, sentir... elementos estes que reconheço estavam tão distantes do meu coração por causa do que sou (ou, estou sendo). Enfim, estou vivo, isto é bom, pois sobreviver neste mundo já é uma conquista.

Há aqueles momentos que indagamos acerca do que gostaríamos de ter feito, mas que obviamente não fora feito. Vamos por nossos pés neste solo escorregadio agora. Poxa! Queria ter feito muita coisa! Queria ter lido mais poesias, desta maneira teria aprendido a sentir mais e falar menos. Queria ter olhado mais as estrelas, elas sempre me fizerem vislumbrar a grandeza de Deus e a minha pequenez. Queria ter escutado mais meu coração ao invés de tentar me mutilar a fim de adequar-me as expectativas da sociedade, tristemente ambos perderam. Queria ter sido amigo de mais gente, isto me faria ter mais amigos hoje. Queria ter chorado mais, lamentado meus dissabores, aproveitado meus fracassos, porém aprendi a levantar rápido demais e assim mui em breve me esqueço do porque tropecei, o que provavelmente me fará trupicar outras vezes. Queria ter sorrido mais das coisas bobas da vida, mas me tornei sério demais para vivê-las. Queria ter arriscado mais, mesmo que isto me fizesse perder mais, a estabilidade/previsibilidade é um câncer que me consumiu a coragem, me tornei apenas um ser medíocre.

Verdade seja dita, entre o que eu gostaria que fosse e o que é há um hiato intransponível por causa do fator tempo. De fato não posso mudar o passado, ele está eternizado. Só me resta domar o incontível presente e ser assombrado pelo desbravável futuro. Tudo isto digo não como um lamento pessimista, depressivo e frustrante. Não! Definitivamente não! Contudo, preciso ser honesto comigo mesmo e admitir tais fatos descritos nos parágrafos anteriores como forma de reavaliar a mim mesmo. Por isto, diferentemente do que possa parecer não estou desfalecendo, nem desistindo, e muito menos chutando o balde. Com este discurso (leia-se artigo) estou a adorar o “Senhor do tempo” que de forma inexplicável me brinda com mais um ano de vida. A este Deus atemporal que existe ante da eternidade, e que conduz todas as coisas para o fim que apraz a Si próprio, quero bradar minha rendição, humilhação e fraqueza. Tributando a Ele que eu não sou, mas reconhecendo que Ele é o Grande Eu Sou. Desnudando minha alma e a colocando temporalmente num pelourinho de vergonha para que em nada me glorie, mas me conforte nas sombras da Cruz do Calvário.

Ele é o “Senhor do tempo” e entre Seus designíos há tempo para tudo: “tempo de nascer e tempo de morrer, tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou, tempo de matar e tempo de curar, tempo de derrubar e tempo de construir, tempo de chorar e tempo de rir, tempo de prantear e tempo de dançar, tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntá-las, tempo de abraçar e tempo de se conter, tempo de procurar e tempo de desistir, tempo de guardar e tempo de lançar fora, tempo de rasgar e tempo de costurar, tempo de calar e tempo de falar, tempo de amar e tempo de odiar, tempo de lutar e tempo de viver em paz” – cf. Eclesiastes 3:1-8. Não gostaria de viver no tempo de morrer, arrancar o que se plantou, prantear, espalhar as pedras, desistir, lançar fora, rasgar, entre outros tempos do gênero, mas não tenho escolha, assim como você caro leitor. Nas páginas da vida não se escreve apenas com os tempos de plantar, rir, dançar, abraçar, costurar, amar, entre outros tempos de bonança. Por isto não me sinto errado pelas minhas desventuras, só me sinto vivo. A boa notícia é saber que se nesta vida nada é eterno, são apenas tempos, então, as coisas podem inesperadamente e simplesmente mudar. Minha oração tem sido que Deus me guie para aproveitar ao máximo os tempos bons e que Ele, nos tempos difíceis, me dê força para não desfalecer.

É impossível entender os tempos! O Deus Eterno rege a vida de pessoas temporais, desta maneira, eu um mero ser mortal nunca compreenderei os designíos dAquele que não sofre o peso do tempo. Mas... não preciso entender muita coisa, pois afinal sou apenas um servo (i.e. escravo) dEle. Ele é o meu Senhor, confio a Ele os meus passos aplaudíveis e os vacilantes. Ele é minha canção, ofereço a Ele meus louvores de gratidão e de frustração. Ele é meu escudo, descanso debaixo de Seus braços fortes depositando a Ele minha fé e minhas descrenças. Ele é meu porto seguro, atraco nEle o que eu sou e o que não consigo ser. Ele é meu amigo, falo com Ele sobre minhas grandes aspirações e meus grandes pecados. Ele é meu Deus, reconheço que Ele sabe o que está fazendo mesmo quando seus feitos não se encaixam nos meus moldes confortáveis. Ele é o meu Pastor, sei então que nada me faltará quer eu esteja nos pastos verdejantes ou no vale da sombra da morte. É... finalmente reconheço que nunca conseguirei entender muita coisa, e acredito que isto seja pelo fato de eu não ter sido criado para ser senhor do tempo, só faço parte de um tempo.

Fortalecido pela cruz de Cristo,
Vinicius Seabra | vinicius@mtn.org.br

Artigo escrito em: 03 de Dezembro de 2012

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Por uma liderança que seja cristã




“Sede também meus imitadores, irmãos, e tende cuidado,
segundo o exemplo que tendes em nós, pelos que assim andam”.
Filipenses 3:17

Nesta última década muito tem se escrito sobre liderança, e tais escritos tem sido assimilado acriticamente pela cristandade evangélica. Contudo, seria no mínimo prudente arrazoar sobre uma releitura de tais ensinos que não poucas vezes tem se mostrado maléficos a Eclésia, e que indubitavelmente tem se despontado como danosos a vida cristã. É axiomático que a Igreja precisa ser ensinada no que tange a liderança, porém e então, que esta seja invariavelmente uma liderança com princípios cristãos. Para tanto, faz-se necessário distinguir entre “liderança secular” e “liderança cristã”. Tal divisão é tão somente ilustrativa, não dualista, pois é notório que há princípios que comungam em ambos, entretanto, há aspectos que se tornam discrepantes demais ao ponto de se tornarem antagônicos entre si.

A liderança secular ensina que a capacitação está automaticamente ligada a melhores salários, ou seja, quanto mais capaz, maior o salário. Não há espaço para altruísmos, os melhores funcionários sempre serão mais caros. Infelizmente, na igreja tal postura tem sido fortemente assimilada, onde os pastores (mesmo os que não são em tempo integral) insistem que é “justo” receberem um alto salário. Daí, os outros líderes também exigem que recebam altos salários sob ameaça de ir congregar em outro ministério em que há uma “gorda” remuneração. É triste perceber que as pessoas estão se vendendo para fazerem algo em prol do (“suposto”) Reino de Deus. Não quer dizer que não possa haver pessoas remuneradas dentro da igreja, contudo, é sábio criticar sobre o porquê se está remunerando.

Na liderança secular é extremamente necessário valer-se do temível artifício denominado “demissão”. O princípio é claro: seja por problemas financeiros, ou por conflitos interpessoais, ou principalmente por incompetência trabalhista lança-se mão das demissões como tentativa de realocar outros que atendam melhor as exigências da empresa. Contudo, deveria ser inadmissível haver demissões de obreiros que atuam no ministério de forma integral. Tristemente, já tem se tornado normal presenciar pastores que exercem a mais de 30 anos o ministério e, agora, simplesmente por serem rotulados de “velhos” estão sendo abandonados (literalmente demitidos). Não se pode demitir um obreiro, pois a igreja é responsável por todos aqueles que intencionalmente se juntam a família cristã. Não há funcionários, mas sim irmãos na fé. A Igreja existe para ser um lugar de restauração, ensino, tolerância e transformação, não um lugar de descarte de vidas.

Nos livros de liderança secular é costumeiramente normal verificar várias páginas abordando a temática da produtividade. Neste tipo de literatura o foco é apresentar técnicas e ferramentas de aumento na produção, sendo assim, a palavra de ordem é crescer. Para estes é inadmissível uma empresa ficar estática quanto ao ritmo de produção.  A igreja assimilou tal posição e sendo assim para muitos lideres eclesiástico o que importa é fazer a igreja crescer. Para muitos líderes pouco influi se as pessoas estão tendo a fé fundamentada em Jesus Cristo, pois afinal, o que vale é ter uma multidão no culto de domingo à noite. Daí não fica difícil encontrar “crentes populacionistas”, que são desapercebidamente fracos na fé, raquíticos na esperança e instáveis espiritualmente. Estes líderes eclesiásticos preferem esquecer que na Igreja é mais importante reproduzir (discipulado) que produzir (populismo).

Os artigos de liderança secular têm passado por uma péssima mutação ideológica, pois em sua grande maioria mais tem se parecido com textos de auto-ajuda e sendo assim a filosofia é somente “vencer”. Os ensinos de liderança secular têm sido banhados por palavras de positivismo e carregado de expressões com “energias boas”. Por isto, a palavra fracasso não faz parte do atual dicionário de liderança. Tristemente, a Igreja Brasileira também assimilou isto. Para muitos lideres eclesiástico a palavra “fracasso” tem sido sinônimo de possessão demoníaca, tal termo é quase que impronunciável nos púlpitos. Entretanto, as grandes lições da vida não são aprendidas no pódio, mas nos acidentes de percurso. Portanto, privar líderes eclesiásticos do temível “fracasso” é fazê-los faltar na principal aula de liderança, aula esta que os tornará maduros e capazes para enfrentar as dificuldades oriundas da arte de liderar. Em termos de liderança eclesiástica vencer é importante, mas ser capaz de permanecer firme em tempos de fracasso é essencial.

Uma liderança cristã se dá quando há sensatez frente às releituras anteriores e que atenda pelo menos cinco requisitos, a saber: 1) Caráter; 2) Vida devocional; 3) Vida familiar saudável; 4) Empatia; e 5) Visão de futuro. O caráter é fundamental na liderança cristã, pois exprime responsabilidade e confiabilidade. Lideres de caráter não se beneficiarão em detrimento de outros, não negociarão a fé pela fama e não comercializarão as ovelhas para os lobos. Vida devocional é outro princípio indispensável para a liderança cristã, pois representa a espiritualidade da pessoa. A igreja está cansada de encontrar lideres que só são espirituais no domingo à noite, urge a necessidade de lideres que sejam cristãos no dia-a-dia. A vida familiar é imprescindível para aqueles que almejam liderar na Igreja, pois infelizmente tem sido fácil enganar as massas, contudo, torna-se impossível manter as máscaras em casa, portanto faz-se necessário ser primeiramente cristão em casa. A empatia é essencial para que líderes cristãos não sejam egoístas e medíocres, mas sim solidários e companheiros. Por fim, cabe ao líder cristão ter visão de futuro e não somente soltar a igreja como se fosse um barco no oceano sem rumo, precisa-se planejar e organizar intencionalmente as ações da igreja e submetê-la sempre a soberana vontade de Deus.

Enfim, e, então, nos lembremos da exortação de Pedro: “Apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força, mas voluntariamente; nem por torpe ganância, mas de ânimo pronto” – I Pe. 5:2.

Fortalecido pela cruz de Cristo,
Vinicius Seabra | vinicius@mtn.org.br

Artigo escrito em: 16 de Março de 2009

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Desventuras cristãs, um restart na fé




“Ó profundidade da riqueza da sabedoria e do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e inescrutáveis os seus caminhos! Quem conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi seu conselheiro? Quem primeiro lhe deu, para que ele o recompense? Pois dele, por ele e para ele são todas as coisas...”.
Romanos 11:33-36 (NVI)

A presente geração tem propagado um evangelho triunfalista onde tudo e todas as coisas sempre têm que dá certo, e quando o inverso acontece há uma demonização do fato, por conseguinte há fuga de realidade depositando numa fantasia neopentecostal a fé e a esperança. Neste novo modelo de ser igreja não há espaço para aqueles que honestamente reconhecem suas fragilidades, dúvidas, fracassos e crises, estes são forçados a se esconderem por detrás das máscaras igrejeiras. Neste cenário surge uma religião em que a sinceridade e o acolhimento não são qualidades desejadas, muito pelo contrário, os que admitem os insucessos, e os que ousam se relacionar com estes categorizados fracassados, são rotulados discriminadamente pelos abrutes da fé que se deliciam com putrefação da carniça evangelical. Tal perspectiva contradiz as mensagens de Jesus Cristo que indubitavelmente optou pelos marginalizados, bem como se mostra contrária a exposição de Paulo aos Romanos quando exorta os fortes a suportar (i.e. dar suporte), consolar e edificar os fracos (cf. Rm 15).

A sociedade cristã pós-moderna tem muito medo do insucesso, isto é passivo de entendimento (mas, não justifica), pois rapidamente se aprende a rotular as pessoas não pelos sucessos, mas sim pelos insucessos, como exemplifica GRABB: “...nossa tendência é de identificar as pessoas pelos seus problemas: ‘você sabia que ele é divorciado?’; ‘ouvi dizer que ela esta tomando Prozac’; ‘eles são os pais do menino da cadeira de rodas’; ‘alguém me disse que ela é lésbica’; ‘ele é do tipo que se esquenta facilmente’ (...) não somos nossos problemas. Não somos nossas feridas. Não somos nossos pecados (...) os rótulos nos fazem crer que nossos problemas nos definem...”. (GRABB, 2000, p. 59). O ser humano, especialmente o religioso, desenvolveu a mesquinha capacidade de nunca se esquecer das mazelas dos outros, e pior, usa de tais desconfortos existências para agredir a fé e a esperança dos que tentam sobreviver aos pés da cruz. Não somos melhores por vencer sempre, não somos mais íntimos de Deus por não errar, não somos superiores aos demais pelas conquistas, não temos mais fé pelo bem que julgamos de nós mesmos, e, não temos o direito de desmerecer os outros pelos dissabores destes.

Neste evangelicalismo tupiniquim engordurado de cobiça egocêntrica se percebe algo mais mortífero que as horrendas pretensões destacadas nos parágrafos anteriores. Aqui se desnuda uma confusão doutrinária entre fé e esperança. Ambas são forças ativas na vida cristã, porém tem funções diferentes. O termo se refere à convicção que advém da obra salvífica de Deus em Cristo na cruz do Calvário, ou seja, se aplica a tudo que tange a vida e obra de Jesus. O termo esperança se refere às expectativas que se tem acerca de que algo de bom aconteça, ou seja, se aplica aos desejos nobres e autênticos da existência humana. Fé e esperança podem caminhar juntas, mas não necessariamente, nem essencialmente. Nesta perspectiva o contrário também é possível, isto é, ter esperança sem ter fé. Veja o seguinte paralelo para clarificar tal pressuposto: Querer um bom emprego é esperança; se contentar com as providências de Deus é fé. Querer encontrar a felicidade é esperança; desejar alegrar o coração de Deus é fé; Querer viver de forma planejada é esperança; viver reconhecendo que Deus dirige os passos é fé; Querer não sofrer é esperança; estar disposto a sofrer por Cristo é fé; Querer ganhar é esperança; não supervalorizar as perdas, pois se tem em Cristo o maior prêmio, isto é fé. Enfim, ter esperança é bom, ter fé fundamental.

Na jornada cristã haverá tempos, e não serão poucos, em que as tempestades, adversidades, confusões, incidentes e acidentes provarão a profundidade e a resistência da fé dos cristãos. Nestes dias a esperança possivelmente não será tão incandescente como outrora. Serão exatamente nestes momentos que cada indivíduo terá que escolher entre fé e esperança, e fincar os dois pés nesta escolha. Se a escolha for pela esperança, pois afinal em dias de desesperança o lógico seria se agarrar a esperança, tristemente e muito provavelmente, estes se frustrarão. Se a escolha for pela , e se esta fé for verdadeira e estabelecida sob Jesus Cristo, então, estes podem até perder a esperança, mas encontrarão refúgio seguro. Afinal, a melhor coisa em dias de desesperança é ter fé. Contudo, não se iluda com as afirmações anteriores, ter fé não é uma panaceia religiosa, pois como assevera CRABB: “Já tive momentos em que me perguntei se minha fé sobreviveria (...) nunca vi o Mar Vermelho se abrir nem o Sol ficar imóvel no céu nem um homem ressuscitar do caixão (...) nem toda pessoa desesperadamente pobre recebe de surpresa um dinheiro no momento certo – às vezes tudo o que chega pelo correio é outra conta. Nem toda pessoa que sofre alguma dor física encontra alívio. Nem toda pessoa angustiada encontra consolo (...) muitas vezes nos surpreendemos negando na prática aquilo que pregamos (...) porque dizemos coisas maiores do que nós mesmos (...) simplesmente não conseguimos ser tudo o que deveríamos ser”. (GRABB, 2000, p. 99, 100, 107).

A certeza de que Deus governa todas as coisas, quer sejam boas ou ruins, e rege-as para o fim que Ele planejou antes da fundação dos tempos, é essencial para compreender que, às vezes, não chegaremos aonde prometemos, não alcançaremos o topo como almejávamos, não iremos tão longe quanto acreditávamos, mas... chegaremos ao lugar exato que Ele quer, pois como afirma Jó após suas desventuras: “Bem sei eu que tudo podes, e que nenhum dos Teus propósitos pode ser impedido (cf. Jó 42:2). Que tenhamos fé nisto! E mesmo que nos falte esperança, que nos agarremos com todas as nossas forças, convicções e intenções a esta verdade: Ele sabe o que está fazendo! Que vivamos em Deus, nos dias de inverno ou nos dias de verão. Não precisamos ser perfeitos, pois jamais conseguiremos, o que nos resta é ter fé nAquele que tudo faz de forma perfeita, como poetisa o cantor Stênio Marcius na canção O Tapeceiro:

“Tapeceiro, grande artista,
Vai fazendo seu trabalho
Incansável, paciente no seu tear

Tapeceiro, não se engana
Sabe o fim desde o começo,
Traça voltas, mil desvios sem perder o fio

Minha vida é obra de tapeçaria,
É tecida de cores alegres e vivas,
Que fazem contraste no meio das cores nubladas e tristes
Se você olha do avesso,
Nem imagina o desfecho
No fim das contas, tudo se explica,
Tudo se encaixa, tudo coopera pro meu bem

Quando se vê pelo lado certo,
Muda-se logo a expressão do rosto,
Obra de arte para Honra e Glória do Tapeceiro

Minha vida é obra de tapeçaria,
É tecida de cores alegres e vivas,
Que fazem contraste no meio das cores nubladas e tristes
Se você olha do avesso,
Nem imagina o desfecho
No fim das contas, tudo se explica,
Tudo se encaixa, tudo coopera pro meu bem

Quando se vê pelo lado certo,
Todas as cores da minha vida
Dignificam a Jesus Cristo, o Tapeceiro”

Fortalecido pela cruz de Cristo,
Vinicius Seabra | vinicius@mtn.org.br
 


Artigo escrito em: 14 de Novembro de 2012

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Bibliografia utilizada neste artigo: GRABB, Larry. O lugar mais seguro da terra. São Paulo: Mundo Cristão, 2000.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Entre prosa, viola e um Jesus acessível



  
“Jesus ia passando por todas as cidades e povoados, ensinando nas sinagogas, pregando as boas novas do Reino e curando todas as enfermidades e doenças. Ao ver as multidões, teve compaixão delas, porque estavam aflitas e desamparadas, como ovelhas sem pastor.  Então disse aos seus discípulos: "A seara é grande, mas os trabalhadores são poucos”.
Mateus 9:35-37 (NVI)

A história bíblica revela os passos de Jesus rumo aos improváveis. No relato bíblico são notórias as tais inquietantes contradições do Servo Sofredor que propõem um Evangelho acessível ao povo. O Mestre optou pelos excluídos por saber que estes eram alvos da maravilhosa Graça. O Cristo escolheu fazer das montanhas o seu púlpito predileto de onde exalava compaixão para com as almas cansadas. O Filho propôs o escândalo da cruz sob a certeza de que para os seus ouvintes não haveria outro Caminho para os braços Pai a não ser pelo Calvário. O Carpinteiro escolheu entalhar nos corações dos marginalizados a esperança outrora sufocada. O Rei dos reis se fez da plebe para mostrar a todos que a maior grandeza do Reino é a convicção de que o Grande não despreza os pequenos. O Bom Pastor preferiu ser reconhecido pelos esquecidos. Ele abriu nas estradas empoeiradas um Caminho sobre modo excelente, simples e acessível.

Há aqueles que escolhem Jesus pensando que com o “amuleto-jesus” alcançarão a multidão e se autoafirmação sob seus concorrentes ministeriais. Para estes a multidão é massa de manobra para se atingir os desejos mais horrendos do coração, e do pico do orgulho do ego populista esbravejam que tem em Cristo o que não são como cristãos. Os tais se esquecem de que as multidões sabem aplaudir, mas também sabem gritar “soltem Barrabás”; se esquecem de que as multidões sabem admirar, mas também sabem abandonar “quando se está na cruz”; e, se esquecem de que as multidões sabem ouvir, mas também tem “dificuldade de escutar”. Ao contrario destes abutres da fé, que se acham melhores que as massas, é perceptível que Cristo buscava o povo não pelo prestígio de se ter uma multidão de seguidores, mas por saber que são exatamente os contraditórios, confusos e levianos que mais necessitam da Verdade. Jesus tornou o Evangelho acessível para confrontar as mentiras das massas e principalmente as más intenções dos que desejam as massas. Ele escolheu os piores para que sejam constrangidos e atormentados pelo amor.

O Jesus dos Evangelhos é Aquele da prosa e viola. É Aquele que se senta na roda e compartilha lições da vida para a vida eterna. É Aquele que não espera o momento do sermão dominical para exalar Graça, pois reconhece na informalidade do viver a essência do compartilhar. É Aquele que na simplicidade de um riscar no chão promove libertação frente aos opressores que com pedras nas mãos se acham melhores que os pecadores. É Aquele que num simples pedir de água junto ao poço consegue trazer a tona a Água da Vida e saciar a sequidão interior. É Aquele que olhando para natureza a sua volta percebe o cuidado do Pai pelos seus desde o sustento dos passarinhos até as necessidades das multidões. É Aquele que olha para os desconsertados após um inquestionável fracasso na pescaria e lhes propõem a ir pescarem homens. É Aquele que mesmo após a ressureição quis fazer uma última jantinha com os discípulos e prosear. Este é o Cristo acessível, entendível e comunicável.

Jesus é simples. O Evangelho é simples. Deus é simples. Por isto Ele age de forma simples, porém como afirma Salomão: “Tudo o que aprendi se resume nisto: Deus nos fez simples e direitos, mas nós complicamos tudo” - Eclesiastes 7:29 (NTLH). A confusão começa quando se deseja dimensionar as ações do Cristo como se fossemos donos de nós mesmos, ao invés de simplesmente se assentar na roda e se entregar aos embalos dAquele que é o Autor da Vida. O conflito surge a partir do instante em que se devaneia por ai, perdendo a certeza de que Ele formou cada pessoa deste o ventre materno com um propósito mais elevado que só Ele sabe, cabendo a nós apenas assentar perto dEle e aprender com Aquele que é manso e humilde de coração. Então, voltemos a Jesus, simples, de prosa e viola... que abandonemos o farisaísmo que nos promove e reconheçamos que somos a multidão... não somos melhores, não temos mais, não somos bons, não somos merecedores, ainda não entendemos muita coisa, não somos ninguém... ainda há muito para se aprender, transformar e confrontar... que nos reclinemos a Ele...

Fortalecido pela cruz de Cristo,
Vinicius Seabra | vinicius@mtn.org.br

Artigo escrito em: 05 de Novembro de 2012