“Admiro-me de que tão depressa estais passando daquele que vos chamou pela graça de Cristo, para um evangelho diferente, o qual não é outro; senão que há alguns que vos perturbam e querem perverter o Evangelho de Cristo”.
Gálatas 1:6-7
O
presente artigo é mais um daqueles que fogem aos padrões cultos da norma
portuguesa e se classifica no gênero “desabafo pessoal” – se assim, você
leitor, preferir denominá-lo. Sendo, portanto, necessário o uso da linguagem na
primeira pessoa do singular. Contudo, as linhas que se seguirão não perdem seu
valor teológico ou acadêmico, pois reflexiona acerca da espiritualidade
brasileira e seus impactos nas vivências cristãs. O que inicialmente me impulsionou
a escrever este artigo foi fazer um comparativo entre as melancólicas músicas gospel da atualidade que engorduram as
rádios denominacionais brasileiras em contraposição aos momentos despretensiosos
de louvor coletivo (Hinário e Harpa Cristã) que ouvia em minha infância na
chácara dos meus avôs aos sábados à tarde debaixo de uma velha árvore. Não
quero ser saudosista, apenas entender o porquê as igrejas acostumaram as
pessoas a ser tão inconstantes na fé. Portanto, nada melhor que observar o que
as pessoas andam cantando por ai.
Nos
últimos meses, devido a um probleminha técnico no som do meu carro, tenho tido
o dissabor (ou o sabor amargo) de só ter a opção de ouvir músicas por meio de
emissoras de rádios gospel, e sendo
assim comecei a observar as letras destes louvores evangélicos. Não precisou de
muito tempo para ficar demasiadamente claro que atualmente o conteúdo destas
músicas evangelicais tocadas nas
rádios esbravejam um “triunfalismo” de se voltar para Deus e um “determinismo”
das bênçãos. De fato tais músicas não seriam tão perturbadoras se estas não
fossem um reflexo exato da imaturidade dos cristãos pós-modernos. O que estou
querendo dizer é que nos acostumamos com o fato das pessoas converterem e
desconverterem, inúmeras vezes, pelas razões mais banais. Isto justifica o porquê
de tantas músicas triunfalistas, pois são inconstantes na fé! Parece paradoxal,
mas esta é a lógica. O triunfalismo é como uma válvula de escape, como que uma
fuga da realidade e da responsabilidade, portanto, cantam o mais utópico possível
se auto-afirmando, tentando convencer sua própria imatura consciência cristã,
nem que seja por um domingo apenas.
As
músicas que ocupam nossos louvores eclesiásticos se amoldam as pedidas de hits em rádios gospel. E é ai que a história fica ainda mais triste, pois nestes
últimos meses foram raras às vezes em que ouvi em rádios uma música evangélica
que fora escrita e cantada para glorificar a Deus. Isto sim é paradoxal! Em
tese todas as músicas evangelicais deveriam exaltar a Deus, mas o que se
percebe é uma grande odisséia antropocêntrica. Músicas feitas para chamar a
atenção de Deus, como que uma criança mimada num supermercado. Músicas que
afirmam a prosperidade financeira, como que se Deus fosse um caixa bancário.
Músicas que esbravejam a cura, minimizando a fé salvífica ao milagre. Músicas
que tornam os “crentes” superiores aos demais, esquecendo que somos servos uns
dos outros. Por tudo isto, fico excessivamente indignado, e, portanto afirmo
que estas músicas emporcalham a fé cristã, pois tornam as pessoas mais
distantes de Deus, fazem do culto um lugar para homens serem servidos e para
líderes serem aplaudidos.
O meu
sentimento é de profunda perturbação, pois as músicas refletem a teologia
(espiritualidade e fé) de uma geração, e ao ouvir estas rádios gospel sinto uma falta enorme da velha
árvore na chácara de meus avôs. Sinto falta das músicas que ali eram cantadas
com apenas um violão e muita paixão. Sinto falta de ouvir músicas que declamem
sobre o amor de Deus, que contagie pela esperança de ir morar com Cristo, que
reafirma a grandeza de Deus, que impulsione os ouvintes a pregar o evangelho,
que relembre a simplicidade da fé cristã e que faça as pessoas se embebedar com
a misericórdia do Rei dos reis. Por tudo isto, fico a me perguntar: Por que a
igreja brasileira atual se contenta com uma igreja fraca e com uma fé rasa? A
resposta é tristemente óbvia: nos acostumamos! Isto aconteceu de forma quase
imperceptível – disfarçada como estratégia de Deus – assim foi fácil convencer
uma grande maioria dos cristãos a se acostumarem com igrejas inglórias e com cristãos
de fé cambaleante.
Então,
voltando à pergunta do parágrafo anterior, eis algumas alíneas que demonstra
como nos fizeram a acostumar a cantar músicas tão vazias (lembrando que as
músicas são o termômetro exato para ouvir a espiritualidade e a maturidade de
uma igreja): Primeiro, anularam a participação dos “idosos” na igreja, e de
contra partida super valorizamos os jovens que quase sempre eram neófitos – valorizaram
a força, ao invés de primar pela resistência. Segundo, banalizaram o estudo
teológico e de contra partida ofereceram uma gama de cursos denominacionais supostamente
“bíblicos” que visavam domesticar os membros – preferiram adestrar as pessoas, ao
invés de capacitar. Terceiro, tornaram o culto um grande show de entreterimento que encanta as multidões de espectadores que
se contentam em ter uma vida cristã passiva – escolheram os aplausos, ao invés
de buscarem os corações.
Por
fim, ao contrário do que alguns leitores, precipitadamente, podem concluir não estou
frustrado com a Igreja, muito pelo contrário amo e vivo para a Igreja, por isto
estou escrevendo este artigo apologético (i.e.
em defesa da fé). Minha decepção é com os líderes, e neste momento
especialmente com os músicos, que fizeram da Igreja um reino humano recheado de
positivismo, acomodação e mediocridade, aceitando e tornando as igrejas
inglórias e fazendo a fé das pessoas cambalear ao som de músicas vazias. Meu
profundo desejo é que cada igreja encontre sua “velha árvore” e ali possam somente
abrir os corações para Deus e viver um cristianismo simples.
Fortalecido pela cruz de Cristo,
Vinicius Seabra | vinicius@mtn.org.br
Vinicius Seabra | vinicius@mtn.org.br
Artigo escrito em: 18 de Fevereiro de 2010
Boa reflexão do Pr Vinicius!
ResponderExcluirrealidade
ResponderExcluirOla, pessoal. Obrigado por comentarem brevemente a relevância do texto. Fiquem a vontade para trafegar pelo Blog.
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