terça-feira, 4 de dezembro de 2012

O Senhor do tempo e Seus desígnios temporais


“Para tudo há uma ocasião, e um tempo para cada propósito debaixo do céu: tempo de nascer e tempo de morrer, tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou, tempo de matar e tempo de curar, tempo de derrubar e tempo de construir, tempo de chorar e tempo de rir, tempo de prantear e tempo de dançar, tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntá-las, tempo de abraçar e tempo de se conter, tempo de procurar e tempo de desistir, tempo de guardar e tempo de lançar fora, tempo de rasgar e tempo de costurar, tempo de calar e tempo de falar, tempo de amar e tempo de odiar, tempo de lutar e tempo de viver em paz”.
Eclesiastes 3:1-8 (NVI)

Este artigo é mais um daqueles que se configuram na categoria desabafo pessoal, não tem cunho doutrinário, nem tem a pretensão de ensinar algo, apenas refletir sobre minhas dores, conquistas, frustrações e realizações. Quem sabe tais postulados possam ser congruentes e afins com os que hão de ler as linhas que se seguem e desta maneira produzir algo de bom, pois como diria um antigo professor da minha época de colegial: “existem três tipos de pessoas: as tolas que erram e nunca aprendem, as inteligentes que erram e aprendem, e as sábias que vêem o erro dos outros e aprendem”. Portanto, use este texto para te ajudar a ser um pouco mais sábio(a). Optarei em utilizar a linguagem na primeira pessoa do singular e terei como pano de fundo as vésperas de meu aniversário de 31 anos de idade. Apesar da pouca idade gostaria de puxar uma cadeira e convidar minha alma a repensar sobre os tempos, convidar meu coração para se assentar e escutar as palavras que nunca foram pronunciadas, convidar meu intelecto a se curvar sobre as lágrimas que ensinam mais que as exaustivas aulas expositivas, e, convidar as minhas vivências para um piquenique onde vamos chorar de tanto rir de meus pessimíssimos e rir de tanto chorar de meus otimismos.

Há momentos que paramos e pensamos no que faríamos diferente, pois bem, vamos começar por ai. Com certeza faria muita coisa diferente! Não zombaria de tantas pessoas que me ombrearam na jornada e que por prepotência julguei a mim mesmo melhor que estes só por puro orgulho. Não me apegaria tanto nas coisas que me vieram às mãos, pois estas coisas sem as pessoas são apenas objetos inúteis e que produzem um saudosismo maquiavélico e sombrio. Não lutaria por tantas causas que invariavelmente me afastaram de quem eu sou e me distanciaram dos propósitos de Deus que acredito produzem vida. Não perderiam tanto tempo querendo mostrar para as pessoas o que elas querem que eu seja, pois tal pretensão gera um sentimento de falsidade no mais profundo do meu ser e que de tanto fingir chega o dia em que não mais se sabe quem se é de verdade. Não mataria tantos sonhos em corações inocentes sob a ambição de que cabia a eu aproxima-los da dura realidade da existência, tal alínea só fez o meu mundo ser mais escuro, pois as utopias são tipo luzes que nos faz acreditar em algo maior do que nós mesmos somos. Não correria tanto, pois velocidade sem direção é a certeza de se chegar a lugar nenhum.

Na contra mão do paragrafo anterior há também aqueles momentos que paramos e pensamos no que fizemos certo, no que fizemos de bom, vamos por esta via agora. Cautelosamente afirmo que fiz pouco isto! Escolhi viver em prol do próximo, da fraternidade, da Igreja, isto foi a melhor escolha em minha vida, mesmo reconhecendo que ainda estou muito longe do padrão esperado por Deus, por mim e pela igreja que sirvo como pastor. Optei por passar adiante o pouco que sei, e nestas três décadas de existência pude perceber as grandes árvores que esta sementinha se tornou em outros, obviamente que poderia ter feito mais, porém foi o melhor possível. Constitui família, dedicando tempo no esforço de fazer estes felizes, aprendendo o altruísmo do amar e a arte de perder para que o outro ganhe, porém reconheço que já fui melhor nisto. Fiz um filho, Gabriel, aqui com apenas oito meses de vida, ele me fez entender e me conduziu a praticar os conceitos mais elementares da vida cristã, como amar, doar, sorrir, abraçar, olhar, sentir... elementos estes que reconheço estavam tão distantes do meu coração por causa do que sou (ou, estou sendo). Enfim, estou vivo, isto é bom, pois sobreviver neste mundo já é uma conquista.

Há aqueles momentos que indagamos acerca do que gostaríamos de ter feito, mas que obviamente não fora feito. Vamos por nossos pés neste solo escorregadio agora. Poxa! Queria ter feito muita coisa! Queria ter lido mais poesias, desta maneira teria aprendido a sentir mais e falar menos. Queria ter olhado mais as estrelas, elas sempre me fizerem vislumbrar a grandeza de Deus e a minha pequenez. Queria ter escutado mais meu coração ao invés de tentar me mutilar a fim de adequar-me as expectativas da sociedade, tristemente ambos perderam. Queria ter sido amigo de mais gente, isto me faria ter mais amigos hoje. Queria ter chorado mais, lamentado meus dissabores, aproveitado meus fracassos, porém aprendi a levantar rápido demais e assim mui em breve me esqueço do porque tropecei, o que provavelmente me fará trupicar outras vezes. Queria ter sorrido mais das coisas bobas da vida, mas me tornei sério demais para vivê-las. Queria ter arriscado mais, mesmo que isto me fizesse perder mais, a estabilidade/previsibilidade é um câncer que me consumiu a coragem, me tornei apenas um ser medíocre.

Verdade seja dita, entre o que eu gostaria que fosse e o que é há um hiato intransponível por causa do fator tempo. De fato não posso mudar o passado, ele está eternizado. Só me resta domar o incontível presente e ser assombrado pelo desbravável futuro. Tudo isto digo não como um lamento pessimista, depressivo e frustrante. Não! Definitivamente não! Contudo, preciso ser honesto comigo mesmo e admitir tais fatos descritos nos parágrafos anteriores como forma de reavaliar a mim mesmo. Por isto, diferentemente do que possa parecer não estou desfalecendo, nem desistindo, e muito menos chutando o balde. Com este discurso (leia-se artigo) estou a adorar o “Senhor do tempo” que de forma inexplicável me brinda com mais um ano de vida. A este Deus atemporal que existe ante da eternidade, e que conduz todas as coisas para o fim que apraz a Si próprio, quero bradar minha rendição, humilhação e fraqueza. Tributando a Ele que eu não sou, mas reconhecendo que Ele é o Grande Eu Sou. Desnudando minha alma e a colocando temporalmente num pelourinho de vergonha para que em nada me glorie, mas me conforte nas sombras da Cruz do Calvário.

Ele é o “Senhor do tempo” e entre Seus designíos há tempo para tudo: “tempo de nascer e tempo de morrer, tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou, tempo de matar e tempo de curar, tempo de derrubar e tempo de construir, tempo de chorar e tempo de rir, tempo de prantear e tempo de dançar, tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntá-las, tempo de abraçar e tempo de se conter, tempo de procurar e tempo de desistir, tempo de guardar e tempo de lançar fora, tempo de rasgar e tempo de costurar, tempo de calar e tempo de falar, tempo de amar e tempo de odiar, tempo de lutar e tempo de viver em paz” – cf. Eclesiastes 3:1-8. Não gostaria de viver no tempo de morrer, arrancar o que se plantou, prantear, espalhar as pedras, desistir, lançar fora, rasgar, entre outros tempos do gênero, mas não tenho escolha, assim como você caro leitor. Nas páginas da vida não se escreve apenas com os tempos de plantar, rir, dançar, abraçar, costurar, amar, entre outros tempos de bonança. Por isto não me sinto errado pelas minhas desventuras, só me sinto vivo. A boa notícia é saber que se nesta vida nada é eterno, são apenas tempos, então, as coisas podem inesperadamente e simplesmente mudar. Minha oração tem sido que Deus me guie para aproveitar ao máximo os tempos bons e que Ele, nos tempos difíceis, me dê força para não desfalecer.

É impossível entender os tempos! O Deus Eterno rege a vida de pessoas temporais, desta maneira, eu um mero ser mortal nunca compreenderei os designíos dAquele que não sofre o peso do tempo. Mas... não preciso entender muita coisa, pois afinal sou apenas um servo (i.e. escravo) dEle. Ele é o meu Senhor, confio a Ele os meus passos aplaudíveis e os vacilantes. Ele é minha canção, ofereço a Ele meus louvores de gratidão e de frustração. Ele é meu escudo, descanso debaixo de Seus braços fortes depositando a Ele minha fé e minhas descrenças. Ele é meu porto seguro, atraco nEle o que eu sou e o que não consigo ser. Ele é meu amigo, falo com Ele sobre minhas grandes aspirações e meus grandes pecados. Ele é meu Deus, reconheço que Ele sabe o que está fazendo mesmo quando seus feitos não se encaixam nos meus moldes confortáveis. Ele é o meu Pastor, sei então que nada me faltará quer eu esteja nos pastos verdejantes ou no vale da sombra da morte. É... finalmente reconheço que nunca conseguirei entender muita coisa, e acredito que isto seja pelo fato de eu não ter sido criado para ser senhor do tempo, só faço parte de um tempo.

Fortalecido pela cruz de Cristo,
Vinicius Seabra | vinicius@mtn.org.br

Artigo escrito em: 03 de Dezembro de 2012

Um comentário:

  1. Fala Vinicius, vou comentar com sinceridade este artigo foi o que mais gostei porque consegui ver um homem sem armaduras teológicas defendendo linhas que acredita, sempre quando te ouvia no seminário percebia um cara forte com argumentos sempre verdadeiros e embasados na palavra embora incomodava muita gente estava ali pronto a ensinar sem florear a verdade mais acredito que o amadurecimento te vez enxergar que não tem como fazer alguns patos virarem águias e nem por isso os patos não podem ser felizes e as águias voarem cada vez mais alto e creio que ter um filho gera em nós uma compreensão maior da vida e acredito que está vendo algumas coisas com outros olhos como você mesmo falou, continue nessa jornada que Deus te escolheu como águia pois tem vôos que são altos mais estamos nele sozinhos mais Deus está contigo com certeza, que ele te abençoe a cada dia e todos os projetos da sua missão e qualquer dias desses vou conhecer e se puder ajudar, estamos ai como você mesmo falou na aula o pouco é importante abraço.

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