"Não se deixem enganar: de Deus não se zomba.
Pois o que o homem semear, isso também colherá”.
Gálatas 6:7 (NVI)
Gálatas 6:7 (NVI)
Ao sintonizar a rádio em um programa
cristão qualquer, ou ao assistir a um canal evangélico na televisão, ou
simplesmente participar de um culto dominical tem se tornado um grande desafio
para qualquer pessoa com um mínimo de postura bíblica. As aberrações teológicas
são incontáveis e a cada dia ficam mais bizarras. Os erros hermenêuticos
atingem a escala máxima de tolerância. As infantilidades imperam na tribuna
eclesial. Ao que parece, infelizmente, a igreja do século XXI esqueceu o que é
ser igreja. E como demonstração pública destas euforias evangelicais se percebe
que fora construído um conceito distorcido do que é dízimo.
Ao ministrar uma aula em um determinado
seminário um aluno fez o seguinte questionamento: “professor, tenho uma dúvida,
ou melhor, estou em
crise. Sempre aprendi que pelo fato de ser dizimista Deus
tinha que me proteger e a minha vida tinha que prosperar. Estou plantando
(dizimando), porém não estou colhendo, por quê? Nunca deixei de dar o dízimo!”.
Confesso que fiquei por alguns instantes tentando entender a lógica evangelical
do pensamento deste aluno. Estas deformações cristãs são resultados claros de
um cristianismo empobrecido pelo lucro do ser
“igreja”. De uma forma assustadora os
cristãos estão sendo afeados no que tange a leitura de Deus, de cristianismo,
de igreja e de dízimo (tendo por base o caso citado, entre outros semelhantes).
O dízimo se tornou uma parcela mensal a ser
pago na “corretora de seguro celestial”, cujo proprietário seria o próprio Deus,
tendo como representante na terra as igrejas. Nesta linha de pensamento, que
muitas igrejas insistem em defender, Deus “assina” um contrato assumindo a
responsabilidade de enviar dinheiro, saúde, prosperidade e tudo mais de bom que
possa existir, desde que você (sim, você!) seja fiel no pagamento das parcelas
(leia-se dízimo). Fica patente que aqui o dízimo se torna uma troca com Deus, o
que não deveria ser. Mas, aproveitando o momento vamos imaginar se a moda pega,
sendo assim a igreja evangélica vai promover a falência de inúmeras corretoras
de seguro, pois se o dízimo protege tudo, então para que fazer seguros, isto
seria desconfiança no acordo feito com Deus.
Há alguns que ousam arriscar palpites aparentemente
irônico, porém não menos passivo de possibilidade, onde sugerem a criação do dízimo
“pula-pula”, onde você paga num mês e recebe o valor em bênçãos no mês
seguinte, você paga num mês e recebe no outro, é a evolução dizimal! Isto até parece algo distante da realidade eclesiástica
atual, mas talvez não tão distante quanto se imagina, pois em algumas igrejas
já estão presenteando publicamente os dizimistas fieis, então, ao que parece a
roupagem é diferente, mas a idéia é a do dízimo “pula-pula”. Nesta concorrência
para ver quem fideliza o cristão vale
tudo, até quem sabe baixar o dízimo para 8 %, tendo assim um diferencial frente
à concorrência (leia-se outras igrejas). Afinal, as massas estão a procura de
uma igreja que tenha muito a oferecer e que exija pouco dos seus membros.
A terrível realidade pós-moderna assusta e indubitavelmente
amedronta a fé simples apresentada pelo Carpinteiro Jesus. Numa perspectiva não
tão irônica percebe-se que a igreja evangélica está se tornando gradativamente num
clube, apenas para análise façamos um paralelo entre a igreja atual e um clube
recreativo, veja as semelhanças: em ambos há mensalidades (dízimos), lazer,
festas, associados (membros), campos de futebol, piscinas, reuniões, música,
danças e etc. Tudo para dar mais comodidade e conforto para os dizimistas fieis
(associados). Entretanto, o dízimo não deveria ser gasto visando o bem estar
dos dizimistas, aliás até nisto há semelhança, pois um clube reverte o dinheiro
dos associados nos próprios associados e paralelamente os dizimistas também
estão exigindo ser beneficiados com os dízimos. Os dízimos deveriam ser uma
fonte de recursos para realização dos propósitos de Deus e expansão do Reino.
O dízimo deveria ser uma manifestação de
gratidão a Deus e de notório cooperativismo eclesiástico com fins a cumprir os
objetivos cristãos estabelecido pelo próprio Deus. O presente texto não é uma apologia
anti-dízimo, para tanto se faz necessário ratificar que o problema não está no
dízimo, a questão é no porque as pessoas estão dando o dízimo. Nesta guerra não
há vencedores, portanto, tentando reorganizar alguns valores quero parafrasear
o discurso de posse do ex-presidente dos EUA, J. F. Kennedy: “não pergunte para
Deus o que Ele pode te oferecer, mas pergunte o que você pode oferecer para
Deus”. Por fim, em defesa da fé, vale bradar: dízimo não é uma negociação com
Deus!
Fortalecido pela cruz de Cristo,
Vinicius Seabra | vinicius@mtn.org.br
Artigo escrito em: 03 de Junho de 2008
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