“Tudo o que fizerem, façam de todo o coração,
como para o Senhor, e não para os homens, sabendo que receberão do Senhor a
recompensa da herança. É a Cristo, o Senhor, que vocês estão servindo”.
Colossenses
3:23-24 (NVI)
Num contexto onde
muito se ensina as igrejas a crescerem, acredito ser oportuno refletir sobre o
propósito de Deus junto aos pastores de igrejas pequenas. Ao contrário da
panacéia contemporânea que insiste em rotular as igrejas pequenas como
fracassadas, incapazes, pecadoras, entre outros adjetivos notoriamente
depreciativos, faz-se necessário enfatizar que não há algo de errado em ser
pastor de uma igreja pequena. Contudo, é preciso fazer uma análise mais sincera
sobre o pastoreio destes, é válido descortinar as frustrações que assolam o
coração daqueles pastores, é imprescindível que haja uma reflexão menos
fantasiosa sobre os fatos congregacionais destes, e, é oportuno vislumbrar a
humanidade deste “homo pastorius”.
Há muitas lendas
que permeiam o imaginário pastoril. Provavelmente a mais comum é aquela falsa
sensação de que o pastor dá conta sozinho, afinal a igreja é pequena. Nada é mais
irreal que tal pressuposto. Por isto, afirmo com toda certeza, ele não dá
conta! Mas, provavelmente ele tentará. Este esforço passional pode ser um
grande problema para o ministério, pois a igreja não é o resultado do esforço
de alguns, mas sim a soma da integração dos que congregam. Contudo, quanto
menos trabalhadores se atrincheiram na seara mais pesaroso se torna a carga dos
que, mesmo em lágrimas, não soltam a enxada. O resultado provável é um pastor
cansado da igreja e membros que se sentam dominicalmente esperando mais da
igreja (como se a igreja não fossem eles próprios).
Outra fantasia que
persegue este “homo pastorius” é a
presunção de achar que a igreja é fruto do esforço humano, especialmente do
homem pastor. O pior disto tudo é que tais pastores acreditam entusiasticamente
nisto. Não querendo contradizer o parágrafo anterior, mas completando-o, afirmo
que nenhuma igreja, grande ou pequena, é fruto exclusivamente do labor humano. Deus
é o Senhor da Igreja, e em Seu plano eterno faz com que pequenos e grandes
sejam igualmente úteis ao Reino – nada é mais prejudicial à Igreja (e igrejas)
do que homens que desconhecem Deus e insistem em padronizar a fé, tentando
mensurar a operação do Espírito Santo e intentando fazer mais que o proposto
pelo Senhor do Tempo. Ser pastor é ser chamado a servir, não nos compete
mensurar ou dimensionar tal grandeza.
O pastoreio de
igrejas pequenas permite alguns vislumbres preciosíssimos, a saber: conhecer os
membros pelo nome – a expressão “irmão” ou “amado” denuncia o quanto se esta
longe da vida das pessoas. Outra virtude das igrejas pequenas é poder fazer muitas
confraternizações – numa igreja de grande porte é inevitável que se limite a
quantidade de pessoas nas referidas confraternizações cobrando valores que
excluem boa parte dos “irmãos”. Há mais vislumbres da grandeza da igreja pequena como, por exemplo, alterar a liturgia pensando
nas pessoas – a liturgia é importante! Entretanto, quando programas são mais
relevantes que as pessoas que frequentam tais programas tornam um martírio coletivo
dominical, às vezes, é preciso mudar a forma de culto.
Prosseguindo nesta
narrativa dos pequenos é preciso
destacar outras grandiosidades, a
saber: Os sermões nas igrejas pequenas tendem (porém, não necessariamente) a
ser mais relevantes, pois a aplicabilidade dos textos bíblicos encontra um contexto
social conhecido por todos da congregação – diferente de megas-igrejas em que o
sermão é descontextualizado e genérico, pois não leva em consideração a
realidade do ouvinte já que há uma multidão de desconhecidos dizimistas. É
valido ainda fomentar pelo menos mais uma virtude das igrejas pequenas, a
figura do pastor, pois este num grupo reduzido se torna gente da gente sem pretensões vaidosas de autoridade pastoral – diferente
das figuras “mitológicas” que desenham acerca dos pastores de igrejas grandes com
tons invictos, quase perfeitos e homens modelos em tudo, visão clássica de membros
que vivem longe dos referidos pastores (de longe tudo é belo, cheiroso e
perfeito).
Depois do exposto
o leitor deste artigo pode estar sendo iludido a se encantar com as maravilhas
de se ser igreja pequena. Todavia, é preciso arrazoar sobre o outro lado da
moeda, e este lado não é nada convidativo. Primeiro, é preciso pontuar a inevitável
falta de recursos financeiros que assombram o sono destes pastores – por ser um
grupo menor obviamente as entradas também são menores, exigindo um malabarismo inimaginável
para conseguir quitar os compromissos, por esta razão é inevitável que o pastor
tenha que intervir com suas próprias fontes de subsistência pessoal, causando
desconforto familiar imperceptível aos membros. E, para piorar tal situação,
tem que conviver com a semanal necessidade eclesiástica de comprar algo,
reformar alguma coisa, dar manutenção em, entre outras contas.
Em segundo lugar, tais
pastores convivem diariamente com um monstro chamado “medo” – distante da
hipocrisia e máscara que nós pastores insistimos em estampar no culto temos que
ser sinceros e reconhecermos que temos medo. Medo de perder os poucos membros
que há na congregação e que fazem parte de nossas histórias, sonhos e amizades;
medo de não conseguirmos nos manter fieis a exposição bíblica tendo em vista os
resultados inexpressivos que temos alcançado; medo de não estar no caminho
certo e sendo assim ter que viver com um grande ponto de interrogação
ministerial que incomoda e perturba as nossas razões; medo de se estar criando
justificativas para o porquê da igreja ser pequena e se esconder atrás de tais
desculpas; medo de tantos medos que aos olhos de quem não é pastor poderia
ponderar serem desnecessários, mas asseguro que há medos mais profundos e mais desconcertantes
do que os aqui foram descritos.
Chegando ao fim
deste discurso uma pergunta orbita (melhor seria dizer: perfura) em nossos
corações, qual deve ser a atitude de um pastor de igreja pequena? Este é o tipo
de questionamento que não encontra apenas uma única resposta, são respostas
(plural), e estas são essencialmente pessoais, pois Deus não trata a Sua Igreja
como uma linha de montagem de uma fábrica, Ele é um Carpinteiro Artesão. Felizmente
(isto mesmo, felizmente), não sei responder a tal questão, conviverei
pastoralmente com esta interrogação. Confortarei e orientarei a minha jornada
pastoral sob a admoestação de Pedro: “Pastoreiem o rebanho de Deus que está aos
seus cuidados. Olhem por ele, não por obrigação, mas de livre vontade, como
Deus quer. Não façam isso por ganância, mas com o desejo de servir. Não ajam
como dominadores dos que lhes foram confiados, mas como exemplos para o
rebanho. Quando se manifestar o Supremo Pastor, vocês receberão a imperecível
coroa da glória”- 1 Pedro 5:2-4
(NVI).
Fortalecido
pela cruz de Cristo,
Vinicius Seabra |
vinicius@mtn.org.br
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Artigo escrito em: 05 de Setembro de
2013
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