quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Aos pastores de igrejas pequenas



“Tudo o que fizerem, façam de todo o coração, como para o Senhor, e não para os homens, sabendo que receberão do Senhor a recompensa da herança. É a Cristo, o Senhor, que vocês estão servindo”.
Colossenses 3:23-24 (NVI)

Num contexto onde muito se ensina as igrejas a crescerem, acredito ser oportuno refletir sobre o propósito de Deus junto aos pastores de igrejas pequenas. Ao contrário da panacéia contemporânea que insiste em rotular as igrejas pequenas como fracassadas, incapazes, pecadoras, entre outros adjetivos notoriamente depreciativos, faz-se necessário enfatizar que não há algo de errado em ser pastor de uma igreja pequena. Contudo, é preciso fazer uma análise mais sincera sobre o pastoreio destes, é válido descortinar as frustrações que assolam o coração daqueles pastores, é imprescindível que haja uma reflexão menos fantasiosa sobre os fatos congregacionais destes, e, é oportuno vislumbrar a humanidade deste “homo pastorius”.

Há muitas lendas que permeiam o imaginário pastoril. Provavelmente a mais comum é aquela falsa sensação de que o pastor dá conta sozinho, afinal a igreja é pequena. Nada é mais irreal que tal pressuposto. Por isto, afirmo com toda certeza, ele não dá conta! Mas, provavelmente ele tentará. Este esforço passional pode ser um grande problema para o ministério, pois a igreja não é o resultado do esforço de alguns, mas sim a soma da integração dos que congregam. Contudo, quanto menos trabalhadores se atrincheiram na seara mais pesaroso se torna a carga dos que, mesmo em lágrimas, não soltam a enxada. O resultado provável é um pastor cansado da igreja e membros que se sentam dominicalmente esperando mais da igreja (como se a igreja não fossem eles próprios).

Outra fantasia que persegue este “homo pastorius” é a presunção de achar que a igreja é fruto do esforço humano, especialmente do homem pastor. O pior disto tudo é que tais pastores acreditam entusiasticamente nisto. Não querendo contradizer o parágrafo anterior, mas completando-o, afirmo que nenhuma igreja, grande ou pequena, é fruto exclusivamente do labor humano. Deus é o Senhor da Igreja, e em Seu plano eterno faz com que pequenos e grandes sejam igualmente úteis ao Reino – nada é mais prejudicial à Igreja (e igrejas) do que homens que desconhecem Deus e insistem em padronizar a fé, tentando mensurar a operação do Espírito Santo e intentando fazer mais que o proposto pelo Senhor do Tempo. Ser pastor é ser chamado a servir, não nos compete mensurar ou dimensionar tal grandeza.

O pastoreio de igrejas pequenas permite alguns vislumbres preciosíssimos, a saber: conhecer os membros pelo nome – a expressão “irmão” ou “amado” denuncia o quanto se esta longe da vida das pessoas. Outra virtude das igrejas pequenas é poder fazer muitas confraternizações – numa igreja de grande porte é inevitável que se limite a quantidade de pessoas nas referidas confraternizações cobrando valores que excluem boa parte dos “irmãos”. Há mais vislumbres da grandeza da igreja pequena como, por exemplo, alterar a liturgia pensando nas pessoas – a liturgia é importante! Entretanto, quando programas são mais relevantes que as pessoas que frequentam tais programas tornam um martírio coletivo dominical, às vezes, é preciso mudar a forma de culto.

Prosseguindo nesta narrativa dos pequenos é preciso destacar outras grandiosidades, a saber: Os sermões nas igrejas pequenas tendem (porém, não necessariamente) a ser mais relevantes, pois a aplicabilidade dos textos bíblicos encontra um contexto social conhecido por todos da congregação – diferente de megas-igrejas em que o sermão é descontextualizado e genérico, pois não leva em consideração a realidade do ouvinte já que há uma multidão de desconhecidos dizimistas. É valido ainda fomentar pelo menos mais uma virtude das igrejas pequenas, a figura do pastor, pois este num grupo reduzido se torna gente da gente sem pretensões vaidosas de autoridade pastoral – diferente das figuras “mitológicas” que desenham acerca dos pastores de igrejas grandes com tons invictos, quase perfeitos e homens modelos em tudo, visão clássica de membros que vivem longe dos referidos pastores (de longe tudo é belo, cheiroso e perfeito).

Depois do exposto o leitor deste artigo pode estar sendo iludido a se encantar com as maravilhas de se ser igreja pequena. Todavia, é preciso arrazoar sobre o outro lado da moeda, e este lado não é nada convidativo. Primeiro, é preciso pontuar a inevitável falta de recursos financeiros que assombram o sono destes pastores – por ser um grupo menor obviamente as entradas também são menores, exigindo um malabarismo inimaginável para conseguir quitar os compromissos, por esta razão é inevitável que o pastor tenha que intervir com suas próprias fontes de subsistência pessoal, causando desconforto familiar imperceptível aos membros. E, para piorar tal situação, tem que conviver com a semanal necessidade eclesiástica de comprar algo, reformar alguma coisa, dar manutenção em, entre outras contas.

Em segundo lugar, tais pastores convivem diariamente com um monstro chamado “medo” – distante da hipocrisia e máscara que nós pastores insistimos em estampar no culto temos que ser sinceros e reconhecermos que temos medo. Medo de perder os poucos membros que há na congregação e que fazem parte de nossas histórias, sonhos e amizades; medo de não conseguirmos nos manter fieis a exposição bíblica tendo em vista os resultados inexpressivos que temos alcançado; medo de não estar no caminho certo e sendo assim ter que viver com um grande ponto de interrogação ministerial que incomoda e perturba as nossas razões; medo de se estar criando justificativas para o porquê da igreja ser pequena e se esconder atrás de tais desculpas; medo de tantos medos que aos olhos de quem não é pastor poderia ponderar serem desnecessários, mas asseguro que há medos mais profundos e mais desconcertantes do que os aqui foram descritos.

Chegando ao fim deste discurso uma pergunta orbita (melhor seria dizer: perfura) em nossos corações, qual deve ser a atitude de um pastor de igreja pequena? Este é o tipo de questionamento que não encontra apenas uma única resposta, são respostas (plural), e estas são essencialmente pessoais, pois Deus não trata a Sua Igreja como uma linha de montagem de uma fábrica, Ele é um Carpinteiro Artesão. Felizmente (isto mesmo, felizmente), não sei responder a tal questão, conviverei pastoralmente com esta interrogação. Confortarei e orientarei a minha jornada pastoral sob a admoestação de Pedro: “Pastoreiem o rebanho de Deus que está aos seus cuidados. Olhem por ele, não por obrigação, mas de livre vontade, como Deus quer. Não façam isso por ganância, mas com o desejo de servir. Não ajam como dominadores dos que lhes foram confiados, mas como exemplos para o rebanho. Quando se manifestar o Supremo Pastor, vocês receberão a imperecível coroa da glória”- 1 Pedro 5:2-4 (NVI).

Fortalecido pela cruz de Cristo, 
Vinicius Seabra | vinicius@mtn.org.br 
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Artigo escrito em: 05 de Setembro de 2013

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