segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Pitacos na "privada" educação superior brasileira



"Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina". 
Cora Coralina – poetisa goiana (1889-1985) 

A globalização é uma das marcas da sociedade do século XXI. Por conseguinte, as informações estão em constante mudança e os padrões de qualidade sempre se elevando. O ensino superior privado no Brasil não está imune a esta verdade dos tempos pós-modernos. Portanto, torna imperativo que os professores estejam sempre em constante aperfeiçoamento para que sejam capazes de responder eficazmente as questões de seu tempo. A formação e profissionalização dos docentes têm que ocupar primazia nas discussões acadêmicas, caso contrário o ensino superior privado brasileiro transmitirá uma mensagem descompassada das novas releituras mundiais e será impotente para transformar a realidade sócio-profissional dos alunos.

O presente século tem sido marcado pelas constantes mudanças e pela avalanche de informações disponíveis para a sociedade. Para tanto, torna-se imperativo que os professores do ensino superior privado acompanhem esta evolução do saber e estejam aptos a interagir com a mutação do conhecimento. A docência superior necessita de profissionais da educação que estejam sempre em constante aprendizagem para possam ser eficazes. Ser professor não pode ser resumido a uma parcela de tempo que se passa em sala de aula, porém carece de uma dedicação de vida e uma busca insaciável pelo conhecimento. Ser professor é tornar-se sempre aluno. Por esta razão a presença ou não da formação continuada de professores é o fator determinante do sucesso ou fracasso das Instituições de Ensino Superior da rede privada.

Um dos grandes problemas que faz os professores do ensino superior da rede privada não desenvolverem uma cultura de formação continuada se deve pelo fato de estes enfrentarem uma jornada de trabalho dupla, são empregados durante o dia e professores a noite. Com esta realidade trabalhista exaustiva (matutino, vespertino e noturno) é evidente que não há tempo para aperfeiçoamento e cursos, além do stress inerente desta dupla carreira. Desta maneira, o professor tem que ser um verdadeiro malabarista e conseguir o improvável, conciliar como professor: tempo de preparo de aula, a aula e correção de atividades; e conciliar como empregado: realização de rotinas administrativas, inovação e liderança. É visível que uma das duas áreas ficará prejudicada, tristemente quase sempre é o ser professor que fica relegado ao improviso – até mesmo porque muitos nem reconhecem a docência como profissão.

A formação continuada dos docentes universitários da rede privada se apresenta como uma proposta distante da realidade de muitos destes profissionais da educação principalmente pela falta de incentivo financeiro para os docentes. Pelo fato da educação superior privada ter se popularizado o valor das mensalidades ficaram mais acessíveis, porém “do outro lado da corta” o resultado obviamente seria idêntico, ou seja, a remuneração do professor também ficou baixa. Portanto, torna-se necessário a intervenção de terceiros para viabilizar financeiramente e ajudar a custear os cursos de aperfeiçoamento, especializações e congressos diversos. A instituição que não tem como filosofia educacional a prática de cooperar na formação dos docentes não tem um futuro promissor.

Outro fator que corrobora para que haja professores no ensino superior privado sem pretensões de continuar estudando e sem ambições de melhor se qualificar para o oficio de docente, é que as Instituições de Ensino Superior não fazem disto um pré-requisito para contratações. Tendo apenas uma pós-graduação lato sensu já é suficiente para ser professor por tempo indeterminado em várias instituições brasileiras. A profissionalização e a formação continuada dos professores do ensino superior privado são imprescindíveis para os que querem percorrer a jornada da docência no século XXI. Aqueles que são professores precisam entender que simultaneamente são alunos. Em formação continuada um ciclo é constância: ensinar é aprender. A profissionalização e a formação continuada do professor irá fomentar a produção cientifica e a pesquisa – pilares de saber em constante atualização. Escritor e professor são duas performances inerentes a aqueles que ousam percorrer o caminho da educação.

A capacidade de escrever do professor fomentará o instinto de pesquisa do mesmo. E, é por meio desta investigação científica que se constrói um saber forte o suficiente para transformar pessoas e mudar opiniões, valores e atitudes. Seja pela busca de confirmação sobre um paradigma ou mesmo visando contradizer o tal, o campo da pesquisa se torna o palco perfeito para apalpar reflexões que por si próprio se tornam agente independentes (produções literárias) e por conseguintes são passivos a críticas, o que é fundamental para o processo de aprendizagem. A capacidade de interação com a pesquisa e a produção científica fará com que o aluno (e/ou o professor) não apenas decore conhecimentos ou muito menos memorize alguns preceitos, mas fará com que ambos envolvidos no processo aprendam e tornem útil o objeto do saber.

Ser o professor um agente de transformação é admitir que este tenha capacidade de sistematizar conhecimentos, correlacionar proposições de forma lógica, raciocinar criticamente, registrar coerentemente o conteúdo na forma escrita e ter maturidade de expor o produto final a outros cientistas do saber (professores e alunos), a fim de peneirar o então novo paradigma. O professor, então, não pode se contentar em ser apenas uma “babá” de alunos, simplesmente cuidando para que não façam bagunça dentro da escola. Não pode se contentar em ser apenas um “torcedor” que se satisfaz em estar na plateia esperando que o time (aluno) vença. Ser professor é incumbir-se da tarefa de fazer alunos se tornem pesquisadores, é empenhar-se para tornar estudantes em seres capazes de produzir literatura, e, é fazer meros discentes se tornarem de forma plena cientistas do saber. Tais postulados não seriam utópicos se os docentes conseguissem atingir este patamar antes de ousarem serem professores. 

Fortalecido pela cruz de Cristo, 
Vinicius Seabra | vinicius@mtn.org.br 
_______________________________ 
Artigo escrito em: 25 de Novembro de 2010

Nenhum comentário:

Postar um comentário